O conde de castelfino - Paixões mediterrâneas. Christina Hollis
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– Agora, eu sou o conde de Castelfino e tenho outros planos para a propriedade. É o início de uma nova direcção e aqui não há lugar para nada que não dê lucro. Eu sou muito mais prático do que o meu pai.
Enquanto falava, viu que os olhos da jovem ficavam húmidos. Quase parecia que se encolhera e, quando falou, a sua voz era apenas um murmúrio.
– Não pode dizê-lo a sério…
– É claro que sim! O vinhedo de Castelfino é a única coisa que me importa. Estou interessado em coisas práticas, não em passatempos absurdos.
Mas, como os velhos hábitos eram difíceis de esquecer, Gianni passou-lhe um braço pelos ombros para a levar até ao táxi.
– Não se preocupe, signorina. Eu pagarei o táxi de volta ao aeroporto e, quando chegar lá, o meu secretário já se terá encarregado de que tenha um bilhete de volta à sua espera. De onde vem, já agora?
– De Heathrow, mas…
Quando chegaram à porta do táxi, Gianni pôs algumas notas na mão do taxista.
– Lamento imenso que tenha vindo até aqui para nada, signorina. Adeus, tenho de ir!
Mas teve de fazer um esforço para não pensar naqueles lábios generosos, naqueles olhos tão azuis. Deveria estar a concentrar-se nos seus planos para os vinhedos de Castelfino, não a distrair-se com uma jovem bonita.
– Não, obrigada, signor Bellini.
Gianni parou, franzindo o sobrolho. Aquilo não deveria acontecer. Se a rapariga tivesse alguma coisa a dizer, deveria ser «obrigada». Era assim que funcionavam as coisas no seu mundo. As pessoas faziam o que lhes pedia, sem discussões.
Mas, enquanto se perguntava como era possível que aquela rapariga tivesse interpretado mal as suas instruções, ouviu uma porta a fechar-se e depois o som de passos, o que o fez virar a cabeça.
E o que viu deixou-o perplexo. A rapariga dirigia-se para ele.
Gianni Bellini, conde de Castelfino, pensou em todos os empregados que estariam a observar a cena. Ele podia ser um Don Juan, mas sabia o que devia fazer e devia reforçar a sua autoridade. Quando aquela rapariga tentasse protestar histericamente, silenciá-la-ia, decidiu.
No entanto, não teve de o fazer.
– Com todo o respeito, signor Bellini, acho que devo ficar. Pelo menos, durante algum tempo.
Absolutamente surpreendido, Gianni ficou em silêncio. Não pelo que tinha dito, mas pela forma como o tinha dito.
«É quase como se estivesse tão preocupada como eu com o que dirão os empregados… Mas isso não é possível.»
– Tem a coragem de me falar de respeito? Uma mulher que chega a rir-se a uma casa que está de luto?
Meg ficou petrificada, mas o desespero fez com que se mantivesse firme. Tinha de convencê-lo para que a deixasse ficar na propriedade.
– Não era a minha intenção – desculpou-se. – Não teria levantado a voz de estivesse a par das circunstâncias. Não podemos começar novamente?
Desde que chegara, dera-se conta de que aquilo não ia ser fácil, mas agora parecia-lhe impossível. E precisava daquele emprego. Havia demasiada gente que dependia dela e não podia partir sem tentar novamente.
– Quando o seu pai era vivo, disse-me que queria que trabalhasse para ele – começou a dizer. – Eu era a pessoa mais qualificada para o lugar e, sem os meus conhecimentos, as suas plantas morreriam. Tinha muitos planos para a propriedade e… Bom, eu acho que seria uma maneira de honrar a sua memória. Estava sempre preocupado com o futuro e muitas das suas ideias eram muito práticas. Inclusive, falou de, um dia, mostrar as suas plantas ao público para aumentar o turismo na zona e imagino que queira seguir em frente com esses planos. Qualquer homem se sentiria orgulhoso desse legado, sei-o muito bem.
– Como é que sabe? – perguntou ele.
– Porque o meu pai se parece muito com o seu – respondeu Meg. – Quando ficou doente, continuava a preocupar-se com o que deixara para trás e não conseguia descansar, portanto, ele era o seu pior inimigo. O seu pai era um bom homem, signor Bellini, e merece um tributo. Trabalhei com ele neste projecto e estava tão entusiasmado que realmente acho que seria um erro que o cancelasse.
Gianni ficou a olhar para ela. E depois esboçou um daqueles sorrisos que a tinham perseguido em sonhos desde o dia em que o conhecera, enquanto lhe estendia a mão.
– Permita-me que a felicite, menina…
– Megan Imsey.
Quando Gianni agarrou a sua mão, Meg ficou corada.
– Permita-me que a felicite, menina Imsey. Fiquei sem palavras… Algo que nunca me tinha acontecido.
Meg também sorriu. Em poucos minutos, Gianni Bellini tinha passado do homem dos seus sonhos a um ser humano de carne e osso, alguém em quem podia tocar.
E, para sua surpresa, apercebeu-se de que tinham, pelo menos, algumas coisas em comum. O trabalho era tudo para ele e era tão bom a esconder os verdadeiros sentimentos como ela. Poderia ter começado como uma fantasia sua, mas Meg reconhecia nele uma pessoa realista.
Vinda de uma família sem grandes meios económicos, ela era obcecada por ganhar dinheiro e, além disso, precisava daquele emprego. E, caso não fosse razão suficiente, Gianni Bellini era uma pessoa tão magnética… Muito mais elegante e mais experiente do que alguém que tivesse conhecido. E agora que se vira projectado para uma posição de poder, queria saber o que ia fazer com os seus planos.
– Não acho que deva tomar uma decisão neste momento. Imagino que tenha um milhão de coisas em que pensar.
Podia ter prática na arte de esconder as emoções, mas, durante um segundo, Meg viu um brilho de dor nos seus olhos. A qualquer outra pessoa teria passado despercebido, mas ela também já tinha estado em alguns lugares escuros e frios. Recordava como tinham sido horríveis os momentos em que o seu pai se debatia entre a vida e a morte…
– E o mais importante dessa lista deveria ser você mesmo – acrescentou.
– Eu estou perfeitamente – replicou ele.
– Pois, parece que não passou bem a noite – insistiu Meg.
– Eu não estava presente quando aconteceu – murmurou Gianni, quase como para si mesmo. – Estava numa discoteca, com centenas de pessoas, a nenhuma das quais teria importado que tivesse caído morto aos seus pés. Fui directamente para o hospital e sentei-me ao lado do meu pai, tentando sentir alguma coisa. Não sentia nada, mas então…
De repente, ficou calado.
– Está tudo bem – disse Meg, pondo uma mão no seu braço.
Mas Gianni recuou.
– Depois, vim directamente para aqui, porque este sítio não se gere sozinho… – murmurou, olhando para o seu relógio. – Dio! Não durmo há dias…