Meu Irmão E Eu. Paulo Nunes

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Meu Irmão E Eu - Paulo Nunes

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a ele que trouxesse alcachofras à romana e carpaccio. Não demorou e o cheiro de carne crua chegou à nossa mesa. Todos se serviam, enquanto Maison preparava delicadamente duas torradas com carpaccio, temperando-as com orégano e azeite. Tomou meu prato e trocou pelo que tinha preparado, enquanto conversávamos.

      — Obrigado — disse a ele.

      Que gentileza da parte dele, não? Ele é muito educado. Gosto disso! Pensei. Falávamos da filha mais nova dele, Luna, quando o garçom nos interrompeu e disse:

      — Peço licença. Senhor Gaius Barrys, há um rapaz que deseja falar com o Senhor. Ele está na entrada do restaurante. Pediu para que fosse até onde ele está. O nome dele é Pablo.

      Meu coração disparou. Como ele me achou aqui, meu Deus? Pedi licença a todos, levantei-me e fui até a entrada do restaurante. Meu coração estava acelerado e, sinceramente, não sabia o que dizer a ele, quando o visse. Enquanto caminhava, em um lapso de segundo, tudo que ocorreu no apartamento dele passou diante de mim. Pisquei os olhos, balancei a cabeça, desabotoei o Versace e desci os primeiros degraus do Barbetta. Ele estava encostado em um poste e, logo, viu-me.

      — Quer falar comigo? — perguntei, seriamente.

      — Oi! Falei com Richard pelo celular, e ele disse que hoje é seu aniversário. Então, fui ao seu prédio, e a babá me avisou que vocês tinham saído para este restaurante. Vim desejar felicidades. Não vai me dar um beijo? — perguntou, levantando as sobrancelhas e fazendo cara de carente.

      Enquanto Pablo falava, um sentimento de superioridade surgiu em mim. Ou apenas ressuscitou? Sinceramente, não sei ao certo. Hoje, depois de anos, nunca entendi porque o tratei daquela forma.

      — Por que beijaria você? Acho que você e eu somos muito diferentes, Pablo. O que aconteceu no seu apartamento naquela noite...

      — Pare com isso, garoto! Sei que você gostou, e quer fazer de novo — interrompeu-me ele, falando pretensiosamente.

      — Não me interrompa, quando eu estiver falando! Você já fez isso várias vezes, e não gostei! Como dizia, acho que somos diferentes. Aquela noite foi o suficiente para eu saber que estamos em caminhos distintos! — e concluí com a cara fechada.

      — Pare com isso, Gaius! Venha aqui e me dê um beijo — pediu ele, aproximando-se de mim, tentando me agarrar pela cintura.

      — Não! Não vou beijar você! Será que não percebe o que fez comigo? Pablo, você me dopou com cocaína, fez-me transar com seu irmão, gozou na minha cara e ainda mijou dentro de mim. Não acha que eu gostaria de ter sido perguntado se iria querer tudo isso? — questionei, enquanto o empurrava para longe de mim.

      — Vai dizer que não gostou? — respondeu ele, ironicamente rindo.

      O pior é que eu gostei.

      — Não! Não gostei!

      — Duvido que não tenha gostado — e mais uma vez se aproximou de mim, tentando me beijar.

      — Se você tocar em mim, denuncio você! — ameacei, grosseiramente.

      Ele recuou e entendeu que não estava brincando.

      — Mas o que está acontecendo com você? Nós tivemos um lance bem gostoso, e agora vem com esse papinho chato. Qual é, garoto?

      — Não tive lance nenhum com você! Você não é homem para ter lance comigo! Olha para mim, Pablo. Olha para você. O que tem para me oferecer? O que acha? Que vou passar os meus fins de semana em um apartamento mofado no Brooklyn cheirando cocaína e sendo fodido por você e seu irmão, enquanto seu gato lambe a porra que vocês jorram no chão? — questionei, ironicamente exaltado.

      — Então, a questão é dinheiro, não é? — respondeu com cara de ódio.

      — A questão também é dinheiro, mas não é só isso. Você não tem modos nem educação, não respeita minha vontade. Penso que é só um cara presunçoso que acha que transa bem! E, na verdade, nem é tudo isso. Já saí com homens bem melhores que você!

      Que mentira acabei de dizer.

      — Como Aidan, por exemplo?

      — Sim, como o Aidan, por exemplo! Não é por acaso que ele está jantando comigo agora em um restaurante sofisticado, e você, não.

      — Duvido que ele seja melhor que eu — retrucou, andando de um lado para o outro, nervoso, tentando rir para disfarçar.

      E, naquele momento, deixei que a crueldade falasse por mim. E não me orgulho do que disse.

      — Pois saiba que ele é melhor que você!

      E me aproximei dele, olhando em seus olhos pretos cheios de raiva, e completei:

      — Além de ele ter mais dinheiro, ser mais educado e bonito que você, ele não fede igual a você, e, ainda, tem um pau bem maior que o seu! — e abri um sorriso de satisfação para ele.

      Pablo não disse nada. Touché! Agora eu o peguei! Pensei. Ele me olhou demoradamente com olhar de fúria, balançou a cabeça verticalmente com a mandíbula cerrada, e tirou do bolso da bermuda que usava uma caixinha transparente, atirando-a em meus pés. Deu as costas e caminhou enraivecido para longe de mim. Olhei para baixo e vi dois chocolates em formato de coração jogados no chão. Ergui minha cabeça e o vi se distanciando e limpando os olhos com as costas das mãos, bruscamente. Oh, meu Deus! Ele está chorando. Foi quando o remorso me possuiu. Oh, meu Deus! O que fiz? Entrei no restaurante correndo e fui direto ao banheiro. Lá, um grande espelho refletia a minha arrogância e maldade. Encarei a mim mesmo por um instante e não me controlei, caindo no choro. Quando alguém bateu na porta, senti que não estava sozinho. Tentava me recompor, ainda de olhos fechados, quando senti uma mão sobre meu ombro. Abri os olhos. Era Aidan. Olhei-o e o abracei. Ele me envolvia em seus braços e encostou sua boca em meu ouvido.

      — Ei, calma. Vi você correndo. O que foi?

      Solucei.

      — Não foi nada. Só fiquei com saudade da minha mãe — comentei, baixinho, mentindo para não precisar dizer a ele o real motivo do choro.

      Antes que terminasse de falar, a voz desagradável de um desconhecido tomou conta do banheiro.

      — Que é isso, meu irmão? Vai ficar de agarração aqui no banheiro? Vocês não têm outro lugar para fazer essa sujeira, não? Que nojo! — cuspiu em uma das pias e, depois, caminhou para a porta, balançando a cabeça em desaprovação, olhando para trás.

      — É melhor nós voltarmos para a mesa — comentou Aidan, afastando seu corpo do meu.

      — Encontro você lá em um segundo.

      — Não. Eu vou esperar — retrucou ele.

      — Preciso ficar um pouco sozinho, Aidan.

      Ele segurou de leve meus ombros e disse:

      — Olha! Caras como esse que estavam aqui são perigosos. Eles não nos entendem. Podem nos machucar. Você entende?

      —

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