A Ordem. Daniel Silva

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A Ordem - Daniel Silva HARPERCOLLINS PORTUGAL

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      — Quando é que pretende divulgar a declaração? — perguntou Donati.

      — Estava à espera de que chegasse.

      — Posso revê-la?

      — O tempo urge. Se adiarmos mais…

      — Claro, Vossa Eminência. — Donati pousou a mão sobre a de Lucchesi. Já estava fria. — Gostaria de ter um momento a sós com ele.

      — Mas é mesmo só um momento… — disse o camerlengo.

      O quarto esvaziou-se lentamente. O cardeal Albanese foi o último a sair.

      — Diga-me uma coisa, Domenico.

      O camerlengo parou no limiar da porta.

      — Vossa Excelência?

      — Quem correu as cortinas do escritório?

      — As cortinas?

      — Estavam abertas quando eu saí, às nove. As persianas também.

      — Fui eu que as corri, Vossa Excelência. Não queria que ninguém na praça visse as luzes acesas no apartamento tão tarde.

      — Sim, claro. Foi sensato da sua parte, Domenico.

      O camerlengo saiu, deixando a porta aberta. Sozinho com o seu mestre, Donati conteve as lágrimas. Haveria tempo para fazer o luto mais tarde. Inclinando-se, aproximou-se do ouvido de Lucchesi e apertou a sua mão fria.

      — Fale comigo, velho amigo — sussurrou. — Diga-me o que aconteceu realmente aqui esta noite.

      2

      JERUSALÉM–VENEZA

      Foi Chiara quem informou secretamente o primeiro-ministro de que o seu marido precisava desesperadamente de umas férias. Desde que se instalara com relutância no gabinete executivo da Avenida Rei Saul, praticamente não concedera a si próprio uma única tarde livre, apenas alguns dias de convalescença após o atentado à bomba em Paris, no qual fraturara duas vértebras na região lombar. Ainda assim, não era algo que pudesse ser encarado de ânimo leve. Gabriel precisava de comunicações seguras e, mais importante do que isso, de segurança apertada. Tal como Chiara e os gémeos. Em breve, Irene e Raphael celebrariam o seu quarto aniversário. A ameaça que pairava sobre a família Allon era tão forte que as crianças nunca tinham posto um pé fora do Estado de Israel.

      Mas para onde iriam? Uma viagem exótica para um destino longínquo não era uma opção. Teriam de permanecer razoavelmente próximos de Israel, para que, na eventualidade bastante provável de uma emergência nacional, Gabriel pudesse regressar à Avenida Rei Saul numa questão de horas. No seu futuro, não se vislumbrava um safari na África do Sul nem uma viagem à Austrália ou às Galápagos. Provavelmente, era melhor assim: Gabriel tinha uma relação conflituosa com animais selvagens. Para além disso, a última coisa que Chiara queria fazer era cansá-lo com mais um voo de longa distância. Agora que era diretor-geral do Departamento, voava constantemente para Washington para se reunir com os seus parceiros americanos em Langley. Aquilo de que ele mais precisava era de descanso.

      Por outro lado, usufruir de momentos de lazer não era algo natural para ele. Era um homem de enorme talento, mas com poucos hobbies. Não fazia esqui nem mergulho e jamais empunhara um taco de golfe ou uma raquete de ténis, exceto como arma. As praias aborreciam-no, a não ser que fossem frias e ventosas. Gostava de velejar, principalmente nas águas agitadas do oeste de Inglaterra, ou de pôr uma mochila às costas e atravessar uma charneca árida. Nem mesmo Chiara, que era agente de campo reformada do Depar­tamento, conseguia aguentar o seu ritmo alucinante durante mais de dois ou três quilómetros. As crianças iriam, decididamente, desfalecer.

      O truque seria encontrar algo para Gabriel fazer enquanto estivessem de férias, um pequeno projeto que pudesse ocupá-lo durante algumas horas, todas as manhãs, até que as crianças acordassem e estivessem vestidas e prontas para começar o dia. E se esse projeto pudesse ser realizado numa cidade onde ele já se sentisse à vontade? A cidade onde estudara o ofício de restaurador de arte e fizera a sua formação prática? A cidade onde ele e Chiara se tinham conhecido e apaixonado? Ela era natural dessa cidade e o pai era o grande rabino da sua cada vez mais reduzida comunidade judaica. Para além disso, a sua mãe andava a insistir para que que levasse as crianças a visitá-los. Seria perfeito, pensou. Como diz o provérbio, mataria dois coelhos de uma cajadada só.

      Mas quando? Agosto estava fora de questão. Era demasiado quente e húmido e a cidade estaria submersa num mar de turistas, hordas de amantes de selfies que, durante uma hora ou duas, seguiam guias mal-humorados pela cidade, antes de engolirem apressadamente um cappuccino no Caffè Florian, por um preço exorbitante, e regressarem aos seus cruzeiros. Mas, se esperassem até, digamos, novembro, o tempo estaria fresco e sem nuvens e teriam o sestiere basicamente só para eles. Isso dar-lhes-ia a oportunidade de refletirem sobre o futuro sem a distração do Departamento ou da vida quotidiana em Israel. Gabriel informara o primeiro-ministro de que cumpriria apenas um mandato. Não era demasiado cedo para começarem a pensar como iriam passar o resto das suas vidas e onde iriam criar os seus filhos. Nenhum deles estava a ir para novo, principalmente Gabriel.

      Chiara não o informou dos seus planos, já que isso só conduziria a um extenso discurso por parte do seu marido sobre todos os motivos pelos quais o Estado de Israel colapsaria se ele tirasse, sequer, um dia de folga. Pelo contrário, conspirou com Uzi Navot, o subdiretor, para escolher as datas. A divisão de Logística, responsável pela aquisição e gestão de propriedades seguras, tratou do alojamento. A polícia e os serviços secretos locais, com quem Gabriel mantinha uma relação de grande proximidade, aceitaram encarregar-se da segurança.

      Faltava apenas o projeto para manter Gabriel ocupado. No final de outubro, Chiara telefonou a Francesco Tiepolo, proprietário de uma das mais proeminentes empresas de restauro da região.

      — Tenho mesmo aquilo de que precisa. Vou enviar-lhe uma fotografia.

      Três semanas depois, após uma reunião particularmente conflituosa do turbulento Conselho de Israel, Gabriel regressou a casa para encontrar a família Allon de malas feitas.

      — Vais deixar-me?

      — Não — disse Chiara. — Vamos de férias. Nós todos.

      — Eu não posso, de forma nenhuma…

      — Está tudo tratado, querido.

      — O Uzi sabe?

      Chiara assentiu com a cabeça.

      — E o primeiro-ministro também.

      — Para onde é que vamos? E durante quanto tempo?

      Ela respondeu.

      — O que é que eu vou fazer durante duas semanas?

      Chiara entregou-lhe a fotografia.

      — É impossível conseguir terminar isto.

      — Fazes o máximo que conseguires.

      — E vou deixar outra pessoa tocar no meu trabalho?

      — Não é o fim do mundo.

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