Magia, Caos & Assassinato. January Bain
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— Silêncio, ninguém tem culpa — eu disse. Se ela começasse a chorar, eu não sabia quanto tempo eu poderia me se segurar. Minha garganta tinha um caroço do tamanho de uma bola de beisebol. Trinta e um, trinta e dois, trinta e três.
Estrela fez uma careta, mas não disse nada, embora apenas depois de eu lhe dar meu olhar mais sério de irmã mais velha. Eu nasci um minuto antes da meia-noite, fazendo de mim a irmã mais velha por um dia inteiro. Não que os aniversários fossem celebrados, embora já tivéssemos oito anos. Mamãe disse que já dávamos trabalho demais em um dia normal. De jeito nenhum ela faria uma festa de dois dias para um trio de pirralhas.
Puxei o saco de papel que tinha todas as nossas posses para mais perto do meu peito, pensando no único livro precioso e a meia-caixa de Pop-Tarts que mamãe havia colocado para a nossa ceia. Talvez a vovó teria uma torradeira ou um fogão para aquecê-los? Ou talvez ela possa ter um pouco de suco, ou refrigerante? Minha garganta estava seca. Até mesmo água teria um gosto bom.
Estrela bateu os pés para continuar quente, seus sapatos cor de rosa deixando um padrão intrincado das solas enquanto ela amassava a neve. Seu cachecol tinha sincelos se formando de sua respiração quente batendo no ar gelado, e suas bochechas brilhavam vermelhas. Nenhuma queimadura — não ainda de qualquer maneira. Mas o vento estava ficando mais forte, soprando cristais de gelo do telhado nas nossas cabeças nuas.
Sessenta e seis, sessenta e sete. Olhei através do campo aberto entre a casa da vovó e a casa ao lado, visualizando lobos saindo das sempre-vivas da grossa floresta e circulando a cidade. Fomos deixadas do lado de fora em um dos dias mais frios do ano. Menos quarenta e sete graus, de acordo com o homem barulhento no rádio em nossa velha van. Eu vi o nome da cidade na placa de boas-vindas que levava até ela. Lago Nevado, população 1259. Eu tinha orgulho de ser a primeira a aprender a ler, a primeira a fazer a maioria das coisas. Então eu poderia ajudar minhas irmãzinhas, quando eles me deixassem.
Oitenta e nove, noventa. Eu estava tremendo agora, mal conseguia evitar chutar a porta com o meu pé. Mas uma promessa é uma promessa. Se a mamãe voltasse e me visse fazendo errado, levaria um tapa com certeza. Você sabe que ela não vai voltar, certo? uma pequena voz dentro de mim falou, fazendo minhas lágrimas aparecerem. Não! Nunca diga isso. Os tempos tinham sido difíceis, mas bem no fundo, mamãe nos amava. Ela vai voltar. Um dia. Quando as coisas estiverem melhores para ela, ela voltará. Ela prometeu. E se eu mantivesse minha promessa solene de cuidar das minhas irmãs, então tudo ficaria bem. Tinha que ficar.
— Certo, não vamos esquecer quem somos. As incríveis McCall. Certo, está na hora.
Assim que cheguei no cem a luz da varanda acendeu, um farol na escuridão, um holofote em nós três encolhidas no escuro.
— Pelo amor de Deus, o que vocês três estão fazendo do lado de fora esperando na neve?
Eu falei, segurando o pedaço de papel sujo com a tinta ligeiramente manchada: — Vovó Toogood, minha mamãe disse para lhe dar isso.
Se ela ficou surpresa comigo a chamando de vovó, ela não demonstrou. Ela pegou o papel e leu com uma expressão intensa. Eu a observei enquanto ela lia. Cachos escuros brilhavam em torno de um rosto suave. Ela estava usando um bom par de calças azuis com uma blusa combinando sobre um corpo magro, sem manchas ou buracos. Ela deve ser rica. Ela era mais baixa que a mamãe também. Quando ela olhou para Estrela, Tulipa e eu, a expressão em seus olhos azuis era gentil, como se ela tivesse certeza de alguma coisa. Gostei dela imediatamente. Eu queria muito que ela gostasse de mim também. Então, talvez ela se sentisse obrigada a ajudar minhas irmãs.
— Bem, vamos levar vocês para dentro então — ela disse, redobrando e enfiando a carta no bolso de suas calças.
Esperei até que minhas irmãs tivessem passado pela porta antes de olhar de volta para a floresta. A matilha de lobos havia desaparecido.
Capítulo Dois
Dias atuais
— A Sra. Hurst ligou. Ela quer uma leitura hoje. E não se esqueça que é a nossa vez de receber o Clã da Aurora Boreal — Estrela gritou da cozinha do café Chá & Tarô, onde deveria estar observando um lote de geleia de damasco ferver. Aposto que ela está com a cabeça enterrada naquele caderno cheio de orelhas que ela leva para todo lugar, trabalhando em outra música.
Pelo menos a Sra. Hurst gostava da nossa geleia de damasco, a única coisa que a redimia. Eu não era a única que pensava isso. Ninguém na cidade aguentava mais do que uma pequena dose da velha mesquinha, que conseguia encontrar defeitos mesmo nos dias ensolarados mais perfeitos. Prestei mais atenção quando Estrela adicionou: — Ah sim, e Judith Finch quer uma poção do amor mais forte. Diz que a última não está funcionando.
— Ela precisa de muito mais do que uma poção do amor se ela quer capturar a atenção de Laurence — o cara é dez anos mais jovem e foi sabe-se lá para onde — murmurei, separando as variedades recém-chegadas de cristais, cartas de tarô, pedras de vidente, livros de feitiços, cones de incenso perfumado, bolsas minúsculas de veludo com cordão — legal, azul-real desta vez — e dezenas de minúsculos frascos extravagantes para armazenar unguentos com cheiro doce para os turistas.
Tulipa, minha suposta ajudante, estava distraída como de costume. Ela estava ocupada digitando em seu laptop. Minha previsão diária — se não fosse por mim e minhas manobras militares, o café Chá & Tarô cairia na ruína total. Pelo menos eu tinha o encontro do nosso clã para esperar. A forma como a vida era no Lago Nevado, exigia muito apoio feminino.
— Quem você acha que era em outra vida, Encanto? — Tulipa escolheu esse momento para desviar o olhar da sua incessante atualização de blog para fazer outra de suas perguntas tolas. Certo, talvez isso fosse injusto. Muitas pessoas contavam com ela para desvendar seus sonhos. Ah, e ela era muito boa em ler presságios nas nuvens. Tem bons seguidores também.
— Provavelmente Cinderela. Parece que voltei como um burro de carga mais uma vez. Devo ter gostado muito da última vez, hein. — Suavizei minha reclamação com um sorriso direcionado a minha trigêmea e corri para a cozinha para ter certeza de que a outra infeliz McCall não estava deixando a geleia queimar.
— Estrela! — Eu gritei. Lá estava ela, sentada em um banquinho, com a sempre presente caneta na mão, olhando sonhadoramente para o vazio. A fruta que ela deveria estar observando estava emitindo sua essência de luz solar e felicidade, a fragrância valsando pelo ar, fazendo minha boca salivar. Certo, um lanche no meio da manhã de muffin fresco com geleia de damasco estava a caminho. Eu também era a oficial de controle de qualidade auto-eleita de nosso excelente estabelecimento, daí vinham meus quadris curvilíneos.
— Está tudo bem. — Ela rolou os olhos. — Acabei de mexer. Está quase pronta. Só precisa adicionar a pectina. E os potes estão no forno, esterilizados e prontos para serem enchidos, muito obrigada.
— Bom — eu grunhi. Peguei as alegres luvas vermelhas de forno com os corações brancos bordados nas costas, abri o forno e tirei a enorme assadeira preta cheia de potes fumegantes. Coloquei-os no balcão sobre toalhas de chá limpas, prontos para o serviço. Humm, ela até se lembrou de colocar as tampas e cestas de vapor em uma panela de água quente no fundo do forno. As surpresas nunca acabarão?
— Certo, você acrescenta a pectina e eu alinho os potes. Colher esterilizada?