Magia, Caos & Assassinato. January Bain
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Eu não ouvi as palavras murmuradas de Estrela, e provavelmente era melhor assim. Dei uma rápida olhada nas duas direções da Rua Principal, admirando como todos tinham aderido este ano ao novo conselho da cidade para dar um charme de velho mundo às fachadas das lojas. Floreiras, pavimentação de paralelepípedos vermelhos, luzes de rua antigas com plantas suspensas, bancos de ferro forjado com placas prateadas complementando o negócio que os havia doado, e barris vermelhos brilhantes para lixo deram à cidade um visual que eu declarei como perfeito.
Balançando meus baldes, fui para o meu Jeep Cherokee enferrujado — também conhecido como Thor — que troquei com um velho caçador no ano passado. Quando joguei os baldes na parte de trás, liguei o motor e fui para os limites da cidade, a poucos quarteirões, no final da Rua Principal e da Sexta Avenida. O Lago Nevado era uma cidade compacta, ganhara apenas alguns poucos moradores na última década, e tinha perdido quase o mesmo. Eu me virei para a trilha estreita que levava à floresta.
Eu sacudi pelo caminho irregular, acompanhada pelas alças de metal dos baldes tinindo alegremente por causa do balançar da viagem, a suspensão desgastada do jipe gemendo e rangendo com o esforço. A falta de um rádio não me preocupava. Cantei um refrão energético, pensando no meu segundo cantor country favorito depois da minha irmã, o primeiro e único Johnny Cash.
— Nos casamos num frenesi, mais quente que um broto de pimenta. Estivemos falando sobre Jackson, desde que o fogo se foi. Estou indo para Jackson, vou aprontar. Sim, eu estou indo para Jackson. Cuidado, cidade de Jackson.
Cantar era uma maneira de alertar os ursos-negros de que eu estava em seu território, embora isso não queira dizer que eu não carregue meu próprio spray de pimenta caseiro feito de essência extra picante de pimenta, preparado no fogão da cozinha no último inverno.
Parei ao lado da trilha perto da minha área de coleta favorita, desliguei a ignição e pulei do jipe.
Ah, natureza. Uma águia careca voando no alto combinava perfeitamente com meu humor. Ele voou majestosamente contra os azuis suaves do céu do meio do verão, sua coroa branca uma prova de seu reinado contínuo. Colocando as pernas da minha calça dentro das minhas botas — eu realmente odiava carrapatos — eu me pulverizei com repelente de insetos e caminhei até o primeiro arbusto de saskatoon. A grama seca sussurrava com meus movimentos, e eu espirrei alto por causa do ataque aos meus nervos olfatórios. Três espirros altos. Meu nariz ia ficar vermelho como uma beterraba. Parando um segundo para assoar o nariz com um lenço, apertei mais meu rabo de cavalo alto e observei a colheita deste ano que eu estava de olho há semanas. Ahá, cheguei antes dos ursos este ano.
Me certificando de que o spray de pimenta estava preso no meu cinto, comecei o trabalho pegajoso de remover a recompensa abundante. Continuei cantando para alertar a vida selvagem — era melhor do que uma buzina a ar — trocando de Jackson para Sunday Morning Coming Down de Kris Kristofferson. Embora Estrela fosse deitar e rolar com algumas das referências de drogas na letra, eu adorava a melodia solitária do poeta bardo.
— Porque há algo no domingo, que faz com que um corpo se sinta só. E não há nada mais solitário, isso é metade da solidão do som. Das calçadas adormecidas da cidade, e o domingo está chegando ao fim.
Menos de duas horas para encher quatro baldes. Inacreditável. Eu teria galões de frutas azedas e roxo escuro no final do dia. A colheita deste ano se transformou em nossa marca mais vendida de geleia e traria uma doce quantia de dinheiro. Eu arrastava cada balde de volta ao jipe quando os enchia, não querendo derrubá-los acidentalmente e derramar seu precioso conteúdo na sujeira.
Então houve um barulho alto de galhos quebrando. Droga, companhia indesejada. Meus dedos agarraram a garrafa de spray na minha cintura. Esperei por outro som para me alertar da direção do intruso. Com o sol nos meus olhos, eu os apertei para verificar a paisagem, girando minha cabeça para frente e para trás.
Lá.
Eu vi o movimento de uma criatura ereta extremamente grande vindo na minha direção, passando através do matagal grosso e da cobertura elevada, como se tivesse apenas uma intenção — me fazer mal. Eu não me importei se era um enorme urso-negro ou o lendário Pé Grande. De qualquer forma, eu atacaria primeiro, com a faca afiada escondida na minha bota se chegasse a isso. Pulverizei a substância nociva do quadril, direcionando o grande fluxo do meu cinto.
Houve um grunhido alto de surpresa. — Aii, por que você fez isso? — Mais gemidos de agonia humana se seguiram.
Oops.
Para fora dos arbustos tropeçou um homem muito grande — não o Pé Grande, mas bem perto disso. Vestido em um blusão preto, jeans negros e botas de combate extra-grandes, ele usava um Stetson preto muito agradável, acompanhado por uma grande careta. E oh minha nossa, quando ele me prendeu com um olhar de seus assombrosos olhos castanhos sob aquele chapéu espetacular de garoto malvado, minhas entranhas deram um pulo. Uau.
— Oh minha deusa! Eu sinto muito! Pensei que você era um urso-negro. Se eu soubesse que você era — bem você, eu nunca teria pulverizado.
O alto pedaço de homem estava ocupado demais lavando o rosto com uma garrafa de água para me dar uma resposta. Esperei, mastigando meu lábio inferior e desejando poder afundar no chão. Mas quem andava fazendo barulho pelos arbustos de maneira tão óbvia? Um urso, é claro. Um predador terrestre sem medo de ser humanos e querendo dar uma mordida em mim.
— Senhora, eu estava vindo para alertá-la. Um urso foi avistado perto daqui. Eu a ouvi gritando e pensei que você poderia estar em apuros. Não esperava ser pulverizado com spray de pimenta por causa disso.
Olhei em volta com cautela. Talvez fosse hora de voltar para a cidade e trazer um grupo de pessoas para coletar bagas outro dia quando eu poderia colocar alguém para manter vigia. Eu tinha enchido quatro baldes. Não é muito ruim.
Espere.
O que ele acabou de dizer?
— Eu não gritei. Eu estava cantando. E com certeza isso é melhor do que se jogar no arbusto como o Pé Grande.
— Se você diz, querida. — Aquilo foi um brilho nos olhos dele? O resto de seu lindo rosto permaneceu inescrutável, me fazendo sentir borboletas na barriga novamente. Ele chegou mais perto e o fedor acre do spray de proteção em suas roupas fez meus olhos arderem com simpatia. Nossa.
Ele viu minha careta. — Não é um odor tão agradável de estar perto, concordo. Sou o oficial Ace Collins, à propósito.
— Da PRMC2? — Minha voz saiu em um guincho alto. Droga. De todas as pessoas que eu poderia ter borrifado, como consegui um homem da lei? Ele deve ser novo na cidade ou eu já teria ouvido falar dele. As notícias viajam mais rápido do que a velocidade da luz por aqui. Não é ruim, considerando que a luz viaja 299,792,458