A Vida No Norte. Tao Wong
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Читать онлайн книгу A Vida No Norte - Tao Wong страница 9
— Ali, os números não fazem sentido.
— Ganhaste alguns pontos por andares a correr e a esconder-te. E assim que escolheste uma classe, as tuas estatísticas aumentaram os pontos de dano — afirma o Ali, como se fosse a coisa mais simples do mundo. Para ele talvez seja, mas teria sido bom saber que isso podia acontecer. O guia de ajuda que ele me deu fez-me compreender algumas coisas, mas é óbvio que ainda há muito que não compreendo.
— Mas não esperes mais. Já chegaste a um nível em que, a não ser que te tornes um atleta profissional, é melhor passares o tempo a passar de nível.
Aceno ao que ele diz e tento decidir o que fazer com os meus pontos gratuitos, mas apercebo-me de que não faço ideia. Os mínimos estão tão longe que mais valia estarem na lua. Ao fazer umas contas rápidas, precisaria de, pelo menos, 18 níveis para elevar a Força até onde que seria suposto esta estar, na minha classe, se não lhe acrescentasse nenhum ponto. Em vez disso, deixo os pontos por distribuir, por agora. Talvez venha a descobrir o que preciso, mais tarde.
— Ali, uma pergunta sobre as mensagens. Elas parecem mudar de tom, de formal para um bocado idiota.
— Bem, a base das mensagens do Sistema é aquilo que vês na maioria das vezes, as formais que mencionaste. Contudo, o CG também controla as mensagens. Por isso, ocasionalmente, eles metem-se ao barulho, especialmente se for algo que interessa a alguns dos observadores — explica o Ali.
— Observadores? — resmungo, olhando para ele e, depois, para o que me rodeia.
— Sim, mas terias de fazer algo muito grande para lhes chamar a atenção. Não te preocupes com isso, também não podes fazer nada quanto a isso — afirma o Ali e eu aceno. Mas sinto-me a curvar um pouco os ombros. O Big Brother está a ver-te.
***
Umas horas depois, faço uma pausa e tiro a minha bússola. Faço um reconhecimento rápido do caminho e olho para o Ali, que acena em confirmação ao que suspeitava. A salamandra mudou de percurso, afastando-se de Junction.
Assustadoramente, a salamandra vai ser um dos monstros vulgares menos poderosos que vão habitar o parque, a partir de agora, utilizando fauna nativa que cresceu demasiado depressa e se espalhou como fonte de alimento. Felizmente, a salamandra é idiota, uma criatura que segue o instinto e vagueia pelo parque e arredores.
Reajusto a minha mochila e acelero o passo. Com sorte, há um carro ou outro veículo qualquer que possa usar e me leve a Whitehorse. No mínimo, vou poder acompanhar sobreviventes.
Capítulo 4
Atravessar o Parque faz-me receber uma mensagem simples e uma recompensa. Não está nem perto de ser o suficiente para passar de nível, mas todos os bocadinhos contam.
Demanda Completada!
Sobreviveste ao parque nacional de Kluane e até conseguiste manter-te intacto!
Recebes 5000 XP.
Ao aproximar-me de Haines Junction, tento lembrar-me do pouco que conheço. É uma cidade com cerca de 800 pessoas, por isso, deve haver umas centenas de sobreviventes, se os números forem verdadeiros. O fumo que vejo a levantar-se do centro da cidade com apenas uma rua deixa-me preocupado. Portanto, levei o meu tempo, desviando-me para casas que marcam a aproximação dos poucos edifícios que representam o centro da cidade. Encontro um carro e até as chaves, mas não funciona, o carro é demasiado novo. Maldito Sistema.
Mas tenho sorte, pois deparo-me com comida e roupa que posso usar, juntamente com uma arma verdadeira, uma espingarda abandonada de calibre .56 e uma caixa com balas. A espingarda tem um cadeado no gatilho, mas, felizmente, a chave do cadeado é fácil de encontrar, pois está pendurada num parafuso do outro lado da sala. Ainda bem que os humanos são preguiçosos.
Os sinais de luta estão em todo o lado, incluindo carros capotados, poças de sangue e janelas partidas. O mais perturbador é não encontrar corpos. Talvez os sobreviventes os tenham reunido para os enterrar. Pelo menos, espero que seja esse o caso. Mas pela forma como muitos dos animais que vi expandiram as suas dietas, não tenho grande esperança.
Com a minha nova arma, arrisco aproximar-me do centro da cidade. Nunca se sabe o que pode estar à minha espera, mas rezo para que o Frosty’s ainda esteja de pé. Não me importava nada de beber um batido e comer um hambúrguer e batatas fritas.
Além de um comentário depreciativo sobre a zarabatana que apanhei, o Ali tem estado estranhamente calado. Uma observação talvez um pouco injusta. Quando se trata de ser sério, o Espírito consegue ser bastante profissional, se bem que tem a mania que sabe tudo.
O primeiro indício de sarilhos é a cabeça demasiado grande e deformada que vejo, ao aproximar-me lentamente. Uma mistura entre um Neandertal e um Pé Grande, a criatura de quatro metros parece feliz, a mastigar o seu jantar. As coisas ficam cada vez piores, quando me apercebo que aquela é a criança. A mãe, nua e bastante feminina, dá passos largos e arrasta o seu filho para o centro da cidade. O Ali franze as sobrancelhas ao olhar para eles e, depois, uma barra luminosa verde flutua acima da cabeça deles, juntamente com uma pequena descrição.
Ogre Jovem (Nível 12)
Ogre Mãe (Nível 21)
Respiro profundamente para acalmar o meu coração acelerado, antes de me aproximar ainda mais. Alguma coisa na refeição da criança me está a incomodar. Tenho de saber e, quando estou perto o suficiente para ver, arrependo-me de o ter feito. Encontrei os cidadãos ou o que sobra deles. À volta de uma fogueira, estão uma dúzia de ogres adultos, a maioria perto do Nível 20, a relaxar, após um banquete verdadeiramente épico. No monte de ossos, estão duas crianças a brincar às espadas com os fémures dos antigos residentes de Haines. O único consolo é que parece que os habitantes conseguiram matar alguns dos ogres, pelos corpos que estão postos de lado com cuidado.
Volto a mim quando me apercebo que me doem as mãos. Estou a apertar a espingarda com tanta força que fiquei sem circulação nos dedos. Volto a esconder-me e obrigo-me a respirar fundo e a controlar as minhas emoções. Sempre que o tento fazer, lembro-me dos ossos pequenos que vi, da cara meio comida e de uma outra criança, a chorar e a questionar-se porque ninguém a veio ajudar. Respiro fundo e estremeço, tenho as mãos a tremer e os olhos cheios de água.
— Não há nada que possamos fazer, John. Está na altura de irmos — murmura o Ali para me tentar consolar.
— Vou matá-los. Vou matá-los a todos — ameaço, sentindo a raiva a queimar-me por dentro, a transbordar e a envolver-me com o seu abraço familiar.
— Nem pensar nisso. Até aquela criança te conseguia derrotar com um só golpe. Desiste, voltamos noutra altura — insiste o Ali.
— Não quero saber! — digo com rispidez, levantando-me e começando a andar, com a raiva a consumir-me. Não sei bem para onde vou, mas não consigo continuar parado.
— Não podes fazer isto. Em grupo, eles seriam um desafio para monstros com cinco vezes mais força do que eles!
De repente, sinto a raiva a acalmar, a congelar, quando me lembro de um plano de loucos.
***
O plano tem três fases. Cada fase é extremamente perigosa. Para completar