A Vida No Norte. Tao Wong

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A Vida No Norte - Tao Wong

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vão rondar os 6ºC à sombra. Enquanto me limpo, pergunto ao Ali algo que me tem incomodado. — Ali, porque é que os monstros nunca te atacam?

      — Eles não me conseguem ver — responde o Ali.

      Franzo as sobrancelhas.

      — Mas naquela primeira vez...

      — Eu consigo tornar-me visível com algum esforço, mas não o consigo fazer durante muito tempo, pelo menos, ainda não — o Ali faz uma pausa, virando-se para Este antes de falar. — Está na altura de irmos, jeitoso. Vamos ter companhia.

      Levanto-me depressa, sacudindo a água das minhas mãos e correndo devagar para Sudoeste, dando o meu melhor para ser o mais silencioso possível.

      ***

      O sol já quase se pôs quando finalmente chego ao parque de estacionamento. O que deveria ter sido uma caminhada de meio dia transformou-se num tormento de dois dias. Não me surpreendo ao ver o que sobra do meu veículo queimado, apesar de o sibilo da palavra “salamandra” me dar uma ideia do que possa ter causado o problema. Ou daria, se eu soubesse o que é uma salamandra.

      — Um lagarto gigante com uma afinidade superior a magia de fogo. Respira mesmo fogo. Há quem julgue que são um tipo mais fraco de dragão — explica o Ali. — São boas e más notícias.

      — Explica — murmuro, à procura de monstros na clareira.

      — Más notícias: vai em direção a Haines Junction — o Ali aponta para o rasto bastante óbvio. Ao ver que não quebro o silêncio, suspira e explica as boas notícias. — É provável que a presença dela afaste a maioria dos monstros do seu caminho. É mais seguro se a seguirmos. Isto, se ela não voltar para trás.

      Fantástico. É mesmo fantástico. Vou estar a seguir um lagarto gigante que cospe fogo no seu percurso para a civilização mais próxima que conheço e esperar que não repare em mim. Pelo menos, não se chama Godzilla.

      ***

      Não sou lá grande jogador, mas a minha ex era e apanhei termos suficientes para saber o que é “roubar mortes”. Quase me sentiria culpado ao tirar a vida a estes alces relâmpago e ao ganhar uma quantidade minúscula de experiência com isso, mas, tendo em conta que eles estão esmagados ou a sofrer com queimaduras significantes, vou chamar a isto serviço humanitário. Além desses atos de misericórdia, ignorei com determinação os corpos queimados e meio comidos que constituem a maioria da manada e que foram a refeição mais recente da salamandra.

      Passaste de Nível!

      Chegaste ao Nível 3 de Guarda de Honra de Erethran. Os Pontos foram distribuídos automaticamente. Tens 3 atributos livres por distribuir. As Habilidades de Classe estão bloqueadas.

      As habilidades bloqueadas levam-me a fazer uma careta, mas considerando o aumento ridículo das estatísticas, posso viver com isso. Como tenho um breve momento, invoco o quadro de estatísticas, para o rever.

Quadro de Estatísticas
Nome John Lee Classe Guarda de Honra de Erethran
Raça Humano (Masculino) Nível 3
Títulos
Nenhum
Vida 190 Resistência 190
Mana 220
Estado
Normal
Atributos
Força 15 (50) Agilidade 18 (70)
Constituição 19 (75) Perceção 12
Inteligência 22 (60) Determinação 24 (60)
Carisma 8 (16) Sorte 10
Habilidades
Furtivo 6 Sobrevivência na Natureza 3
Combate Desarmado 2 Proficiência com Faca 5
Atletismo 3 Observação 4
Cozinhar 1 Perceção de Perigo 2
Habilidades de Classe
Nenhuma (2 Bloqueadas)
Feitiços
Nenhum
Regalias
Espírito Companheiro Nível 3 Prodígio (Furtivo) N/A

      Atributos não atribuídos:

      Gostaria de atribuir estes atributos?

      3 Pontos de estatística

      (S/N)

      — Uau! De onde vieram todas estas habilidades? — ver o meu quadro de estatísticas pela primeira vez em dias faz-me levantar as sobrancelhas.

      — Tens andado a ganhá-las, eu é que tenho escondido as notificações, por agora — o Ali encolhe os ombros, fazendo um pino aéreo enquanto espera por mim.

      — O quê? Porquê? — resmungo com o homenzinho pequeno, com os olhos cerrados.

      — Seria uma distração. Não mudaria nada do que fizeste, pois não? As habilidades recebidas pelo Sistema são logo adicionadas à memória dos teus músculos e da tua mente, por isso, já tens beneficiado com isso, seja como for. O resto são apenas números — o Ali funga. — Os números não significam porcaria nenhuma se não fizeres nada. O melhor é não ficares obcecado com eles.

      O que ele diz relembra-me uma conversa que tive com um orientador da escola. “O QI não significa nada, se não estudares”, ele dizia sempre isto. Ao ouvir o Ali mencionar algo tão parecido, não consigo evitar fulminá-lo com o olhar.

      — Da próxima, faz-me um resumo todas as noites, está bem? Pelo menos, gostava de saber o que vai acontecendo.

      O Ali suspira, amuado.

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