Uma Orquidea Para Chandra. Barbara Cartland
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Caminhando sem fazer ruído, Chandra foi até um armário de canto que permanecera no vestíbulo quando a sala fora reformada pela primeira vez. Descobrira recentemente que, ao abrir a porta desse armário, podia ouvir claramente o que falavam no escritório.
Supunha que, para instalar aquele armário, tinham tirado os tijolos, deixando apenas uma camada superficial de reboco na parede do quarto ao lado. Contara isso ao pai, que achara graça e lhe dissera:
–Não posso crer que esta casa, tendo pertencido à mais respeitável família do condado, até meu pai a adquirir, fosse usada para espionagem. No entanto, podemos tirar proveito desse posto de escuta…
–Como, papai?
–Quando alguns dos meus visitantes importunos demorarem demasiadamente, elevarei minha voz e você poderá vir socorrer-me…
–Tenho uma ideia, papai! Vamos inventar um código! Se disser, “está frio para esta época”, saberei que está ansioso por livrar-se deles e se falar; “sinto cheiro de fumaça”, compreenderei que devo socorrer o senhor imediatamente!
–É isso que sempre preciso, todas as vezes que você me impinge esses idiotas faladores– resmungou ele–, não consigo imaginar por que as pessoas não me deixam em paz!
Essa era a eterna queixa do professor, pois tudo que mais desejava era ficar sozinho com seus livros.
Ao abrir a porta do armário, Chandra ouviu a voz grave que escutara no vestíbulo dizer:
–Se a minha informação está certa, será a mais espantosa descoberta de todos os tempos.
–Concordo com o senhor– respondeu o professor–, mas sabe tão bem quanto eu que os informes desses manuscritos são frequentemente baseados em boatos e em geral, acabam demonstrando que são inteiramente sem valor.
–Meu informante é um homem de completa integridade, mas é natural que possa ter se enganado.
–Ele lhe foi realmente útil no passado?
–Sempre o julguei merecedor de crédito, além do quê ele se deu ao trabalho de vir para a Inglaterra,
–Certamente isso indica que ele estava convencido do valor do manuscrito, mas Lord Frome, ainda não me disse como lhe posso ser útil…
Chandra estremeceu. Sabia agora quem era o visitante. Damon Frome, era um dos homens mais interessados nos tesouros do sânscrito. Seu pai já o mencionara várias vezes.
Nos últimos dois anos o professor Barnard, realmente recebera de Damon Frome vários manuscritos, que Chandra ajudara a traduzir. Lembrava-se agora de que eram muito mais antigos e emocionantes do que todos os outros analisados por seu pai, e o melhor é, que o professor fora muito bem pago pelo tempo que gastara nessas traduções.
«Se Lord Frome trouxera algum trabalho novo para seu pai» pensou encantada, «seria justamente o que estava precisando no momento».
Há pouco, antes de sair da aldeia, o Sr. Dart, o dono do empório, avisara Chandra, que o professor estava devendo muito, e pedira-lhe para amortizar um pouco essa dívida.
O Sr. Dart, era um homem nervoso, um pouco gago, mas não do tipo explosivo e exuberante, próprio da sua profissão.
Chandra reconhecia que ele elevara a voz para lhe falar, mas sabia que a conta com o Sr. Dart vinha aumentando cada vez mais, já há meses.
–Falarei com papai– a moça respondeu–, estou certa de que ele se esqueceu dessa dívida com o senhor. Sabe o quanto ele é distraído.
–Peço que me desculpe por importuná-la, bem como ao professor– respondera o Sr. Dart–, mas sabe como os tempos estão difíceis, e nada posso encomendar ao meu atacadista, sem pagar em dinheiro.
–Compreendo, Sr. Dart. Falarei com papai mal chegue a casa– para aliviar um pouco a situação, ela lhe pedira notícias dos filhos.
Ao afastar-se do modesto estabelecimento, Chandra ficou imaginando como pagar essa dívida. Evidentemente, poderia escrever para os editores de seu pai. Já o fizera no passado e ele se zangara ao descobrir.
Tinha, porém, pouca chance de que concordassem em pagar adiantado pelos livros publicados no ano anterior, os quais, embora elogiados nas revistas eruditas, receberam pouca aceitação do público.
Ao voltar para casa, enquanto caminhava, perguntou a si mesma se ainda havia alguma coisa que pudesse vender. Mas não havia mais objetos de valor em sua casa, fora os manuscritos de seu pai.
Agora, porém, sentia-se animada. Lord Frome trouxera algum trabalho para seu pai, e tinha certeza de que no futuro tudo seria diferente.
–O que desejo nesta situação– continuou falando Lord Frome–, é o seu auxílio, professor, e de um modo diferente de tudo quanto já fizemos antes.
–Um modo diferente?– perguntou seu pai intrigado.
–No passado, trouxe-lhe manuscritos que descobri no Tibete e no Himalaia, e o senhor os traduziu com uma tal perícia, permita-me dizer-lhe, que não pode competir com nenhuma outra no mundo ocidental.
–É muita bondade sua– Chandra ouviu seu pai responder, sabendo o quanto esse elogio lhe agradara.
–Mas, como esse manuscrito é tão precioso e tão diferente de tudo que descobri anteriormente– continuou Lord Frome–, não só quero que o traduza para mim, mas que me ajude a achá-lo.
–Achá-lo?– repetiu o professor, muito surpreso.
–Isso mesmo. Para ser franco– observou Lord Frome–, não estou certo de que eu o reconheceria se o visse.
Houve um silêncio e Chandra tinha certeza da expressão perplexa de seu pai ao olhar para Lord Frome.
–O que estou querendo dizer, professor– disse o Lord, como se respondendo a uma pergunta muda–, é que o senhor tem de ir comigo para o Nepal.
–Nepal? Por quê? Julga ser lá que o manuscrito está escondido?
–Meu informante contou-me que existe uma lamaseria nas montanhas do outro lado de Katmandu. Tem quase certeza de que, nesse Mosteiro, o abade e os monges não fazem ideia do que possuem, de fato, ele julga que esses religiosos não são homens de grande cultura, mas sim donos de uma profunda piedade.
–É evidente que isso tornaria mais fácil a aquisição– observou o professor, de um modo prático.
–Foi o que pensei– concordou Lord Frome–, ao mesmo tempo, e segundo fui informado, naquele Mosteiro existem centenas, senão milhares de manuscritos! A não ser que eu, pretenda passar lá muitos anos para pesquisá-los, precisarei de seu auxílio para encontrar exatamente o que eu quero.
–Está realmente pedindo para eu o acompanhar ao Nepal? Ouvi dizer que é muito difícil entrar no país.
–Sim, é. De fato, a poucos europeus foi permitida a entrada, com exceção do residente britânico.