O Duque e a Filha do Reverendo. Barbara Cartland
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Os dois permaneceram em silêncio, enquanto pensavam no tímido e bem-humorado jovem Marquês de Gosport, que se atirara, bem como seu título, aos pés da mais famosa beleza de Londres, e certamente a mais astuta. Ele estivera prestes a ligar-se a ela pelo resto de sua vida.
Lady Delyth Maulden, filha do Duque de Hull, um nobre libertino e arruinado, irrompera há cinco anos no mundo social.
Não havia dúvidas quanto à sua extraordinária beleza e os dândis e galanteadores de St. James, sempre propensos a ficarem fascinados por um rosto novo e bonito, haviam-na declarado uma “incomparável”, e bebiam à sua saúde em doses bem maiores do que as habituais.
Evidentemente, tinham sido os anfitriões importantes os primeiros a descobrirem que Lady Delyth era tão libertina quanto o pai, e que seus conceitos de moral, mesmo numa época imoral, não podiam ser aceitos sem protestos.
Seus amantes se sucediam. Embora tentasse manter certa discrição em torno de seus amores, no White’s Club eram feitas constantes -apostas sobre quem seria sua próxima vítima.
O Duque ouvira dizer que Richard Wood, seu jovem primo e provável herdeiro, apaixonara-se loucamente por ela. Contudo, não dera ouvidos a esses boatos.
Julgara que o rapaz não se prejudicaria ao aprender o modo audacioso pelo qual Delyth lhe arrancaria cada centavo que tivesse, e muitos outros que ele não possuía. Caso esse procedimento o decepcionasse, não havia dúvida de que isso o tornaria mais cuidadoso ao escolher a pessoa adequada para confiar seu coração.
Mas nunca lhe passara pela cabeça que Delyth tencionasse realmente casar-se com o rapaz. Percebeu então que fora tão tolo quanto seu herdeiro.
Era lógico que Delyth Maulden considerasse Richard um bom partido, ainda mais por ter o duque dito não uma, mas inúmeras vezes, que não pretendia casar-se.
Aquela fora uma declaração tão sensacional, partindo de um homem de uma posição social elevada, que era quase impossível as pessoas não se sentirem curiosas sobre o motivo que o levara a desejar continuar solteiro, além do que, de acordo com todas as regras e tradições da nobreza, ele deveria estar ansioso por ter um filho.
Entretanto, o Duque nada fizera para atenuar essa curiosidade.
Limitara-se a dizer que não sentia nenhuma vontade de ter uma esposa e que, ao morrer, o que não ocorreria por muitos anos, Richard o substituiria de forma irrepreensível.
Ninguém podia acreditar que ele continuasse firme nessa decisão.
Contudo, quatro anos já se haviam passado desde que ele herdara o título. Seus casos amorosos eram sempre com mulheres lindas e sofisticadas, mas invariavelmente casadas.
Entretanto, o Duque sentia um grande orgulho da família.
Quando jovem, jamais esperara herdar o título, pois seu pai fora o segundo filho. O tio, por sua vez, tinha um filho, e portanto, um herdeiro, além de toda a probabilidade de aumentar a família, à medida que os anos passassem.
Mas as várias e estranhas artimanhas do destino, acidentes e doenças, tinham levado o duque a instalar-se no poder quando menos esperava.
Embora sua vida íntima, por ele considerada sua propriedade, fosse ligeiramente condenável, seu aparecimento em público conservava toda a dignidade e a importância de sua categoria.
O Duque cumpria as obrigações escrupulosamente e com uma inflexibilidade que às vezes chegava a inspirar temor.
Conseqüentemente, a idéia de que alguém igual a Lady Delyth Maulden pudesse vir a ser a Duquesa de Kingswood, e a castelã da mansão na qual se encontravam agora sentados, foi para ele um choque maior do que seu amigo Bevil Haverington havia imaginado.
−Que diabo!− exclamou em voz alta−. Por que casamento?
−Foi Delyth quem tomou a iniciativa. Como já lhe disse, Richard está apaixonado a ponto de tentar dar-lhe a lua e as estrelas, caso ela as pedisse.
−Quando ouviu essa notícia?− perguntou Nolan, com os lábios crispados.
−Ontem à noite, e pensei que seria melhor ocultar-lhe essa informação até que pudéssemos discuti-la a sós e tranqüilamente.
−O que há para discutir?− perguntou o Duque, encolerizado−. Delyth Maulden conseguiu arrancar uma promessa de casamento de Richard e não permitirá que ele volte atrás.
−Receio que não− concordou o major Haverington.
Nolan estava imóvel tal qual uma estátua, e seu amigo sabia o que estaria pensando.
Já observara aquela mesma expressão em seu rosto, quando enfrentando um inimigo que os excedia em número e colocado estrategicamente numa posição impossível de ser atingido.
Todavia, várias vezes nessas circunstâncias vira o Duque evitar que as forças que comandava fossem destruídas, e as levara à vitória unicamente pelo poder de sua força de vontade.
Ao mesmo tempo, o major pensava, desanimado, que a guerra era uma coisa e o amor outra, e que Richard estava comprometido até o pescoço.
Como o Duque permanecesse em silêncio, após alguns instantes ele disse espontaneamente:
−Na verdade, no momento, eles não estão muito longe daqui. Encontram-se hospedados no Castelo Tring.
−Tring era um bom soldado− observou o Duque automaticamente.
−Mas desde que a guerra terminou, ele se tornou muito dissoluto− acrescentou o major Haverington−. Assisti a uma das festas no castelo e achei que era demasiadamente tumultuosa para meu gosto. Esse, porém, é o tipo de reunião que agrada a Delyth.
O Duque teve uma súbita visão do tipo de festas que o major estava descrevendo e que poderiam ocorrer em Kingswood. A idéia fê-lo estremecer.
Cerrando o punho, bateu-o com toda força sobre a mesa, o que fez com que os copos de cristal dessem um pulo.
−Não tolerarei isso! Está me ouvindo, Bevil? Não permitirei que Richard se case com essa mulher!
−Mas como pode impedi-lo?− perguntou o major asperamente.
−Dê-me uma idéia. Você costumava ter uma porção, quando estávamos combatendo em Portugal.
−Se estivéssemos lá− respondeu o amigo−, poderíamos certamente fazer com que Delyth fosse seqüestrada ou mandarmos Richard de volta num navio bem lento! Mas acontece que Portugal é uma coisa, e a Inglaterra uma outra.
O olhar do Duque assumiu uma expressão sombria, ao dizer:
−Tem que haver algo que possamos fazer. Você sabe que ela arruinou Morpeth e o pobre rapaz teve que se retirar para o campo.
−Sem um só centavo em seu nome− acrescentou o major−, e Morpeth não foi o único, mas no que diz respeito a Richard, Delyth pretende ser sua esposa, e embora possamos não gostar dela, você tem que admitir que embelezará os brilhantes de Kingswood.
−Não, se eu jogá-los no lago com minhas