O Duque e a Filha do Reverendo. Barbara Cartland
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−Confesso que estou cansado. Boa noite, Nolan.
−Boa noite, Bevil.
Uma vez a porta fechada por seu hóspede, ele pegou um jornal que estava sobre o banco em frente à lareira. Abriu o Times, mas deixou-o sobre os joelhos e pôs-se a pensar.
«O que poderia dizer? Como convencer seu primo de que estava cometendo o maior erro de sua vida?»
Lembrou-se do rapaz quando ainda recruta inexperiente sob suas ordens. Sentiu a mesma necessidade de protegê-lo, como sentira antes por tantos rapazes que tinham saído da Inglaterra.
Haviam sido obrigados a enfrentar o fogo destruidor do inimigo e as privações de uma campanha ingrata. No decorrer dela, uma noite, encontravam-se acantonados em algum galpão infestado de pulgas, numa aldeia portuguesa, na outra, estariam acampados numa encosta árida, sem um arbusto ou uma árvore para protegê-los contra as forças da natureza.
Entretanto, ele compreendera que não era apenas um inimigo desconhecido ou o medo da morte que os assustava, mas o receio de ficarem desmoralizados ante os olhos de seus camaradas. Lembrou-se, então, de como andava no meio deles, falando-lhes, apoiando-os e encorajando-os.
Todavia, um recruta novato tinha que obedecer a suas ordens. Richard, porém, agora era um homem livre.
Relanceou o olhar pela biblioteca e achou que não só era linda, mas sossegada. Como poderia tolerar que as pessoas que formavam o círculo de relações de Delyth Maulden transformassem aquela sala tranqüila num lugar tumultuoso, como acontecera em outras casas igualmente grandiosas?
O caráter turbulento dos jovens dândis, que vinha piorando progressivamente desde o começo do século, fora censurado pelos membros mais sensatos da sociedade.
Contudo, tornava-se difícil para eles fazer maiores comentários, quando o comportamento que tanto condenavam fora estimulado pelo Príncipe de Gales, antes de ter sido feito regente. Atualmente, já mais velho, tornara-se mais circunspecto, embora a sua extensa lista de amantes na idade madura fosse venenosamente escarnecida pelos carica turistas.
Um sistema de vida social, uma vez começado, era difícil de ser controlado. O comportamento desses rapazes fizera com que o duque desejasse tê-los sob suas ordens e pudesse tratá-los com a severidade que mereciam.
Delyth Maulden liderava certo tipo de mulheres atraentes, que haviam desprezado a sua própria feminilidade para participarem de festas extravagantes, fugas insensatas e certos deslizes que no passado tinham sido a marca característica das atrizes e prostitutas.
A futura Duquesa de Kingswood!
Ela sabia perfeitamente que o casamento com Richard significaria que muitas portas agora fechadas para ela abrir-se-iam, e seria recebida nos círculos sociais, nos quais anteriormente teria sido tratada com pouco caso.
−A Duquesa de Kingswood!
Essas palavras encerravam toda a sua cólera. Virou a cabeça, surpreso, ao ver a porta abrir-se. Um lacaio ali permanecia de pé, à espera de sua atenção.
−O que há?− perguntou o Duque.
−Lorde Tring veio vê-lo, Excelência.
−A esta hora?− exclamou o Duque−. Faça-o entrar.
Passaram-se alguns segundos, antes que o lacaio aparecesse anunciando:
−Lorde Tring, Excelência!
Bastou um olhar para seu visitante e o Duque compreendeu que acontecera algo errado.
Lorde Tring permanecia com seus trajes de noite, mas calçara as botas de montaria por cima da calça muito justa, que eram presas por baixo do peito do pé. A gravata, atada com um nó complicado, estava ligeiramente desarrumada.
Seus cabelos, que evidentemente deveriam ter sido penteados “ à ventania”, segundo a moda do momento introduzida pelo príncipe regente, estavam um pouco em desordem e caídos sobre a testa.
−Boa noite, Tring− disse o Duque calmamente, sem demonstrar nenhuma pressa−. O que o traz aqui a esta hora da noite?
O rapaz olhou por cima do ombro, esperando que o lacaio fechasse a porta e disse então, num tom de voz vacilante:
−Tinha que vir, sir! O senhor é a única pessoa que saberá o que fazer e capaz de enfrentar a situação.
O Duque compreendeu que ele falava como um jovem soldado dirigindo-se ao seu comandante. Em seus olhos havia uma expressão de confiança, que lhe era quase comovedoramente familiar.
−Tome um drink− sugeriu ele−, e conte-me o que aconteceu.
Como se sentisse uma necessidade premente de tomar algo, Lorde Tring dirigiu-se para a mesa, sobre a qual havia uma bandeja com várias garrafas e copos.
Serviu-se de uma boa dose de conhaque e bebeu-o de um só gole, e m seguida, com a mão trêmula, afastou os cabelos da testa e caminhou na direção do Duque.
−Trata-se de… Richard, sir!
−Richard?!− exclamou o Duque−. O que aconteceu com ele? Percebeu que Lorde Tring respirou, antes de responder:
−Ele matou sir Joceline Gadsby e tentou suicidar-se!
O Duque permaneceu bastante calmo. Seus olhos perscrutavam o rosto de Lorde Tring, como se procurasse concretizar as palavras que acabara de ouvir. Passaram-se alguns segundos, antes de tornar a falar calmamente:
−Sente-se! Você parece que veio a galope.
−Quando vi o que aconteceu− disse Lorde Tring, deixando-se cair numa poltrona, como se suas pernas não mais o aguentassem−, compreendi que a única pessoa que poderia auxiliá-lo seria o senhor.
−Por que Richard matou Gadsby?− perguntou o Duque.
Lembrou-se então do baronete como um sujeito maçante, um sócio do White Club excessivamente falador, do qual sempre procurara se esquivar. Julgava-o um intruso e perguntava a si mesmo como poderia ter sido admitido como sócio. Ao pensar isso, sabia o que Lorde Tring responderia.
−Richard... o encontrou…− respondeu o rapaz, um tanto constrangido−, com… Lady Delyth.
−Onde?
−Na… na cama, sir!
O Duque, que permanecera de pé, sentou-se numa poltrona, como se precisasse de apoio.
−Conte-me tudo, desde o começo!− ordenou.
−Richard chegou há dois dias, para ficar hospedado em minha casa. Naquela mesma noite, durante o jantar, anunciou seu casamento com Lady Delyth. É evidente que fizemos um brinde, desejando-lhe toda a felicidade.
−É claro!− replicou o duque ironicamente.
−Muitos dos cavalheiros presentes protestaram, alegando que estavam muito tristes e, num tom de brincadeira, tentaram convencer Lady Delyth a mudar de ideia.