Tempo de esperança. Daphne Clair
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Na sua longa e possivelmente incoerente carta de despedida, tinha-lhe dito que não o odiava e que não devia culpar-se a si mesmo pelo que não podia evitar. Tinha tentado não o magoar.
Talvez a dor fosse mais profunda do que ela esperava. Tinha tido doze meses para a esquecer, mas não parecia tê-la esquecido.
– Lamento. Pensava que compreendias.
– Há outro homem? – perguntou ele abruptamente.
– Por favor! – exclamou Roxane. Não entendia que o tinha deixado porque queria estar sozinha. – Outro homem depois de viver contigo durante três anos? Como te atreves a sugerir que te fui infiel?
Zito ficou em silêncio durante uns segundos.
– Durante meses, torturei-me com essa ideia.
Roxane nunca tinha pensado nisso. Essa era mais uma prova de que não a conhecia, que nunca tinha tentado compreendê-la ou entender os seus desejos.
– Pois enganas-te.
Ele encolheu os ombros, como se não tivesse importância. Mas tinha. Tinha o seu orgulho ferido e essa era, seguramente, a razão pela qual não a tinha procurado através de um detective.
– Quebraste outras promessas do casamento – disse então. – Por que não essa?
– É diferente.
– Porquê?
Roxane não podia responder a essa pergunta.
– Porque sim – disse, suspirando.
– E agora?
– Agora, a minha vida privada é a minha vida privada.
Nesse momento, começou a tocar o telefone e Roxane levantou-se para ir para o corredor.
– Diga-me?
Zito ficou a olhar para ela desde o salão, enquanto ela tentava concentrar-se na chamada.
– Diz-me, Leon… No sábado? Sim, bem, tenho que ver a agenda.
Roxane abriu a mala que tinha deixado sobre a mesa do telefone.
– No sábado da semana que vem? Que género de festa? Se há muitos convidados…
Leon garantiu que não. Uma festa de boas vindas, pelos vistos, para o filho de um cliente que voltava da Europa com a sua noiva.
– É apenas uma reunião familiar. Uma centena de convidados.
– Uma reunião familiar? – sorriu ela. – Para que os familiares vejam a pobre noiva?
– É uma proeminente família de Auckland e os contactos vêm mesmo a calhar. Espero que possas organizá-la.
– Claro que sim – prometeu Roxane.
– Sei que posso confiar em ti.
Quando voltou ao salão, tinha um sorriso nos lábios. Zito estava a olhar pela janela, com um ar muito sério.
– O teu noivo?
Roxane não tinha noivo, mas a pergunta fez com que vacilasse um pouco.
– Não, uma chamada de trabalho.
– Trabalho? – repetiu Zito, incrédulo. – A estas horas?
– Não é assim tão tarde – murmurou ela, olhando para o relógio. Eram apenas dez horas.
– Uma festa no sábado à noite? A sério que tinhas que consultar a agenda ou apenas o fizeste para o deixares nervoso?
– Não sejas ridículo.
Ele afastou-se da janela, com um brilho feroz nos olhos.
– Ridículo?
– Ridículo, sim!
Talvez fosse a segurança no seu tom de voz, talvez o brilho dos seus olhos verdes, mas Zito deteve-se. Roxane nunca se tinha atrevido a repreendê-lo dessa forma.
– Quem é a noiva? Tu? Se és tu, esqueceste-te de um pequeno detalhe.
Ela ficou tão surpreendida que soltou uma gargalhada.
E, novamente, reparou que o tinha deixado nervoso.
Nunca tinha visto Zito a perder a calma no espaço de… dez minutos?
Era uma sensação muito peculiar.
– Quem telefonou foi o meu chefe. Dedicamo-nos a organizar eventos, sobretudo para grandes empresas, mas pediu-me que organizasse uma festa familiar para o filho de um cliente.
Zito olhou para ela como se estivesse a tentar decidir se devia acreditar ou não. Depois deixou-se cair no sofá, passando uma mão pelo cabelo.
Roxane sentou-se no braço do cadeirão, a seu lado, e cruzou as mãos. Umas mãos sem aliança, sem anel de comprometida.
Quando levantou o olhar, ele estava apoiado nas costas do sofá, com as longas pernas esticadas.
– Comportei-me como um idiota. Como um autêntico idiota.
Surpreendida pela confissão, Roxane ficou a olhar para ele sem dizer nada.
– Deveria ter-me aproximado de ti quando desceste do autocarro.
– Em vez de me pregares um susto de morte?
– Quando soubeste que era eu?
Quando lhe chamou «querida» com a sua inesquecível voz rouca que ela sempre tinha imaginado com o sotaque italiano dos seus antepassados, embora os seus pais tivessem nascido na Austrália.
– Antes de dar-te a bofetada – respondeu.
Ele sorriu suavemente, sem olhar para ela, despertando emoções antigas. Emoções que não devia despertar.
– Já vejo.
– O que fazes na avenida Ponsonby? Na realidade, o que fazes em Auckland?
– Estamos a pensar em abrir uma cadeia de restaurantes na Nova Zelândia. E estava a jantar no GPK.
– Vigiando a competência?
O avô de Zito tinha chegado à Austrália sem um cêntimo e lavou pratos até que abriu o seu próprio restaurante e depois outro e outro. O negócio familiar converteu-se numa instituição australiana que valia milhões de dólares.
E estavam a pensar em expandir-se na Nova Zelândia…
– Estava a misturar os negócios com o prazer – disse Zito.