Tempo de esperança. Daphne Clair
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E, como tinha feito tantas outras vezes, pegou no seu talher para envolver com astúcia a massa e ofereceu-lhe. Automaticamente Roxane abriu os lábios.
Ninguém podia fazer pasta com finas ervas como Zito Riccioni. Involuntariamente fechou os olhos para saborear a massa…
Quando os abriu, ele estava a olhar para ela com um sorriso nos lábios. Um sorriso que era um desafio.
– Estão riquíssimo, como sempre.
Nunca fazia duas vezes a mesma salsa, mudava sempre os ingredientes e a quantidade de acordo com o momento ou o que houvesse disponível no mercado. Mas cada variação era uma obra de arte e aquela noite não era excepção.
– Fico contente. Estaria melhor se fosse eu próprio a fazer a massa, mas…
– É massa fresca.
Depois de provar a massa de Zito, Roxane não podia comprá-la no supermercado.
Mas o que nunca aprendeu foi enrolar a pasta no talher sem que caísse.
– Não te rias. Já sabes que sou pouco habilidosa – murmurou ao ver o brilho burlesco nos olhos azuis dele.
– Olha, é assim… – disse ele, pegando na sua mão. Tinha tentado ensinar-lhe dezenas de vezes, mas era impossível. Zito dizia que, pelos seus genes, tinha nascido com um talher de prata na boca.
– Falta-me prática. Além disso, não costumo comer pasta.
– Por isso estás mais magra.
– Não estou magra.
– Estás. Mas tão bonita como sempre.
– Obrigado.
– Mas perdeste peso.
– Faço mais exercício. Vou para o trabalho a pé. Tu continuas a jogar squash?
– Sim.
Zito tinha sido campeão do Estado e tinha a casa cheia de troféus. Mas quando cumpriu 25 anos o trabalho absorveu-o por completo. O seu avô tinha-se retirado e o seu pai estava ansioso por ensinar ao herdeiro tudo o que devia saber sobre a empresa familiar.
– Como está a tua família? – perguntou Roxane.
– Importas-te?
Ali estava novamente, aquela raiva que raramente deixava antever.
– Sim, importo-me. Já sabes que gosto muito dos teus pais e das tuas irmãs. E o teu avô é um anjo.
– Mas o seu neto não.
– Zito, já te disse…
– Não me disseste nada! – exclamou ele, batendo na mesa com o punho. – Perdoa-me, não queria assustar-te – disse então ao ver que Roxane tinha ficado pálida. – Isto pode esperar.
Não costumavam discutir à mesa. Zito dizia que era imprescindível desfrutar dos alimentos e que, quase sempre, depois de uma boa refeição discutir não fazia sentido.
E quase sempre tinha razão. Quando não se esqueciam da discussão pela comida, esqueciam-na porque iam para a cama. E faziam amor, nada mais importava. Na realidade, nunca tinham tido uma verdadeira discussão.
– Come – disse. Roxane ia protestar, mas decidiu terminar a sua pasta. – Alimentas-te bem?
– Alimento-me perfeitamente. Saladas, peixe, verduras…
– Costumas sair muito?
– De vez em quando.
Não costumava organizar jantares porque a sua casa era muito pequena e na mesa do salão apenas podiam comer quatro pessoas, mas saía com as suas amigas ao cinema ou a beber um copo.
– Fala-me do teu trabalho.
– Comecei a trabalhar com Leon quando cheguei a Auckland. No princípio apenas me encarregava de servir comida nas festas, mas de imediato pediu-me que trabalhasse no escritório.
Leon tinha ficado impressionado pela sua iniciativa e a sua capacidade de trabalho. Além disso, o seu diploma em Economia permitia-lhe levar a administração da empresa.
– Apercebi-me que alguns clientes queriam algo mais que comida. Queriam que alguém organizasse os convites, publicidade… alguém que se encarregasse de todos os pormenores de uma forma original.
– Tu apercebeste-te? – perguntou Zito.
«Não é incredulidade, apenas interesse», pensou Roxane. Não devia ser tão perspicaz.
– Sim. Por isso disse a Leon e ele decidiu que tentássemos. Desde então, além de nos encarregarmos da comida nas festas, fazemos de tudo. Gosto do meu trabalho e tenho um bom salário.
– Parabéns.
– É uma empresa pequena comparada com o império Riccioni.
– Delora não é um império, é um negócio familiar – replicou ele.
– Um negócio familiar que vale milhões.
Talvez centenas de milhões. Roxane nunca tinha visto as contas do seu marido.
– Isso não é nenhum crime. Trabalhamos muito.
– Já sei.
Mas apenas os homens. As mulheres da família Riccioni não trabalhavam, como Zito lhe tinha deixado bem claro.
Devia ficar em casa para controlar os empregados, presidir às festas e aparecer nos eventos sociais para mostrar as jóias e os vestidos que lhe comprava o seu marido.
Roxane queixou-se uma vez, dizendo que se sentia inútil como uma escultura de gelo no centro de uma mesa. A resposta de Zito foi: «Tu és muito mais bonita e menos fria».
Com os olhos brilhantes, pegou-lhe pela cintura para a levar para a pista de dança e, com a cara na sua frente, recordou-lhe em voz baixa o que se passava entre eles como homem e mulher. Explicitamente recordou-lhe o que tinha acontecido na noite anterior…
Roxane, corada como um tomate, teve que lhe pedir que se calasse.
– Ninguém nos ouve, tonta – tinha rido ele, apertando-a com força. Estava excitado. – Vamos para algum sítio escuro?
– Onde?
A festa tinha lugar no salão de uma casa histórica de Melbourne.
– Para o jardim – sussurrou Zito, roçando o lóbulo da sua orelha com a ponta da língua.
Roxane teve que morder os lábios para não deixar escapar um gemido, como cada vez que lhe tocava. Teve que controlar-se para não cair nos seus braços.
Sem