Gravidez por contrato. Maya Blake
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– Feliz aniversário, maninho – disse Ramón a Luis, em espanhol.
Suki sentiu que um formigueiro lhe percorria as costas ao ouvir aquela voz aveludada. Meu Deus… Era tão bonito… Voltou a baixar a cabeça e engoliu em seco.
– Obrigado – agradeceu Luis. E depois, em inglês, acrescentou, com um sorriso irónico: – Embora já estivesse a começar a pensar que não virias.
Ramón pôs as mãos nos bolsos.
– São apenas onze – replicou, num tom leve.
Suki levantou o olhar timidamente e apanhou Ramón a olhar para a mão do irmão por cima da dela com os olhos semicerrados. Depois, olhou para ele, que fez uma careta e afastou a mão, antes de encolher os ombros.
– Enfim, senta-te – convidou Luis. – Vou buscar a garrafa de champanhe que pedi que pusessem no gelo.
Levantou-se, abraçaram-se e Ramón disse-lhe alguma coisa que Suki não ouviu bem. Vendo-os assim, um junto do outro, a semelhança entre ambos era inegável. Só se diferenciavam na cor dos olhos, Luis tinha-os castanhos e Ramón, verdes; na estatura, Ramón era mais alto do que Luis; e no cabelo, que Luis tinha castanho-escuro, enquanto o de Ramón era preto azeviche. No entanto, enquanto Luis, com a sua cara e a sua estatura, fazia com que as mulheres se virassem para olhar para ele, Ramón cativava por completo quem cometia o erro de pousar os olhos nele.
Por isso, pouco depois de Luis se afastar, e apesar de não parar de se repetir que devia olhar para a cara dele, Suki percebeu que não conseguia levantar o olhar. Para tentar disfarçar o tremor dos seus dedos, apertou as mãos contra o copo de vinho branco com sumo e ficou com falta de ar ao ver que Ramón se sentava ao seu lado em vez de ocupar o lugar de Luis, como pensara que faria.
Os segundos passaram lenta e dolorosamente enquanto os olhos de Ramón, fixos nela, estudavam o seu perfil.
– Feliz aniversário, Suki – replicou, em espanhol.
A sua voz tinha um matiz misterioso, sombrio, perigoso… Ou talvez fosse apenas por causa da sua imaginação febril. Tremeu por dentro e pôs uma madeixa atrás da orelha, antes de voltar a apertar o copo com força.
– Obrigada – murmurou, ainda com a cabeça encurvada.
– O normal é olhar para uma pessoa nos olhos quando fala contigo – repreendeu-a Ramón. – Ou a tua bebida é mais interessante do que eu?
– É. Quer dizer… Quero dizer que é o normal, não que a minha bebida é…
– Suki, olha para mim – interrompeu ele, num tom imperioso.
Não teria podido negar-se, mesmo que quisesse. Quando virou a cabeça, encontrou os seus olhos verdes intensos fixos nela.
Mal conhecia Ramón, só o vira algumas vezes. A primeira fora há três anos, quando Luis lho apresentara na cerimónia de licenciatura na universidade e, cada vez que voltava a encontrar-se com ele, era mais difícil falar. Era absurdo. Além disso, não se tratava só de que Ramón estivesse completamente fora do seu alcance, mas também estava noivo. A sortuda era Svetlana Roskova, uma modelo russa muito bonita.
No entanto, quando levantou o olhar, já não conseguiu desviar os olhos dele, nem pensar noutra coisa senão em como era incrivelmente irresistível: A pele azeitonada, o pescoço robusto, cuja base conseguia ver através dos dois botões desabotoados da sua camisa azul-marinho, os dedos compridos…
– Está melhor assim – murmurou, com satisfação. – Alegra-me não ter de passar o resto da noite a falar com o teu perfil, embora não seja verdade que possa saber-se se estão a ser sinceros se nos olharem nos olhos enquanto falam.
Suki detetou um matiz evidente de ressentimento na sua voz, envolto numa raiva mal disfarçada.
– Aconteceu alguma coisa? – aventurou. – Pareces incomodado.
Riu-se, brincalhão.
– Achas? – perguntou.
O seu tom transformou a perplexidade de Suki em irritação.
– Diverte-te que me preocupe contigo?
Os olhos verdes de Ramón estudaram o seu rosto, parando nos seus lábios.
– O meu irmão e tu estão juntos? – perguntou, sem responder à pergunta.
– Juntos? – repetiu ela, como um papagaio. – Não sei a que te…
– Queres que seja mais explícito? Foste para a cama com o meu irmão? – exigiu saber.
Suki soprou, espantada.
– Desculpa?
– Não tens de te fingir de ofendida com a minha pergunta. Basta responder.
– Olha, não sei o que se passa, mas é evidente que, esta manhã, te levantaste da cama com o pé esquerdo, portanto…
Ramón praguejou em espanhol.
– Faz o favor de não me falar de camas.
Suki franziu o sobrolho.
– Vês? Estás a dar-me razão. O que me leva a perguntar-te porque vieste ao aniversário do teu irmão se estás de tão mau humor.
Ramón cerrou os dentes.
– Porque sou leal – replicou. – Porque, quando dou a minha palavra, cumpro-a.
A fúria gélida com que pronunciou aquelas palavras deixou-a com falta de ar.
– Não estava a questionar a tua lealdade nem…
– Ainda não respondeste à minha pergunta.
Suki, que não entendia a reviravolta que a conversa dera, abanou a cabeça.
– Provavelmente, porque não te diz respeito.
– Achas que não me diz respeito? – perguntou, olhando para ela, carrancudo. – Quando o Luis te trata como se fosses dele e me devoras com os olhos?
Suki observou-o, entre espantada e indignada.
– Eu não…!
Ramón deixou escapar uma gargalhada cruel.
– Quando cheguei, fingias que não te atrevias a olhar para mim, mas, desde que te viraste, não me tiraste os olhos de cima. Vou fazer-te um aviso: Por mais que ame o meu irmão, partilhar uma mulher com outro não é para mim, portanto, bem podes esquecer a ideia de fazer um ménage à trois.
– És… Meu Deus, és desprezível! – exclamou ela.
Não sabia o que a horrorizava mais: Se o facto de perceber que se sentia atraída por ele ou de não ter o menor reparo de lho dizer na cara.