A esposa do Siciliano. Kate Walker
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– Não me anuncie. Gostaria de lhe fazer uma surpresa.
– Claro. Ela está na biblioteca.
A senhora Moore assinalou-lhe com uma mão o fundo do vestíbulo.
– Decerto que vai ficar feliz por vê-lo. Na minha opinião, acho que está um pouco deprimida… demasiado pálida e magra para o meu gosto.
Ele fez um esforço por conter a sua impaciência. Seria possível que aquela mulher nunca mais desaparecesse dali?
Por fim, a governanta dirigiu-se até à cozinha. Mas precisamente quando ele ia começar a andar, ela virou-se.
– Deseja tomar um café ou um sumo?
– Não, obrigado. Chamo-a se necessitarmos de alguma coisa.
Utilizou o tom que aplicava aos empregados mais difíceis. Um tom duro que exigia obediência instantânea… e cujos resultados eram sempre positivos. Dessa vez também funcionou. A empregada assentiu e, depois, afastou-se a passo ligeiro, com os saltos dos sapatos a ressoar pelo corredor.
«Até que enfim!», pensou.
Cesare deixou escapar um suspiro de alívio e passou as mãos pelo cabelo negro, cor-de-azeitona. Parecia que a empregada tinha descoberto as suas intenções, a razão pela qual se encontrava ali nessa noite, erguendo-se como a guardiã moral da filha da casa, a defensora da honra de Megan, perante a pressão de um homem com muita experiência.
A sua linda boca adoptou uma curvatura cínica ao fechar a porta com bastante sigilo. Não queria que Megan desse pela sua presença. Queria apanhá-la desprevenida. E não era a sua honra que queria roubar. Era o seu coração.
Megan ouviu a campainha, mas decidiu ignorá-la. Se fosse algo importante, a senhora Moore chamá-la-ia. Senão, ela encarregar-se-ia do que quer que fosse. Desde que fora para a universidade que a governanta sabia muito mais sobre as coisas do seu pai do que ela mesma. Além disso, não estava com humor para receber ninguém.
«O que é que eu vou fazer?», interrogou-se.
Com um suspiro, afastou o cabelo acobreado e apoiou os cotovelos sobre a mesa, escondendo o rosto entre as mãos. Tinha um livro aberto à sua frente. Pretendia lê-lo, mas tratava-se de uma mera desculpa, pois os seus olhos, verdes como a relva, estavam inundados de lágrimas.
«O que é que eu vou fazer?», voltou a pensar.
Era uma pergunta que repetia constantemente para si mesma sem encontrar resposta.
– Megan?
A figura que viu junto à porta, alta, escura e devastadora, deixou-a petrificada, incapaz de acreditar naquilo que estava a ver.
– Cesare?
O seu coração deu um salto tremendo. Cesare Santorino era a última pessoa que esperava ver nessa noite. Era a última pessoa que desejava ver.
Mas isso não impediu que as suas estúpidas emoções começassem a funcionar a toda a velocidade.
Houvera um tempo em que adorara ver cada centímetro daquele homem moreno, alto e magro. Sonhara perder-se nos seus braços e afogar-se naquele profundo olhar de bronze. A imagem das suas feições cravara-se-lhe na memória de tal forma que, durante muitas noites, a última coisa em que pensara antes de adormecer era naqueles pómulos pronunciados, naquela mandíbula angulosa e na devastadora curva da sua boca sensual.
– O que é que estás aqui a fazer?
Para seu desgosto, a sua voz ia e vinha como se fosse uma rádio mal sintonizada. Era assim que ela se sentia.
Mas não era por ele.
Os seus sentimentos por Cesare já estavam superados desde há muitos meses, desde aquela desastrosa festa em Nova Iorque onde ele a humilhara. Antes disso, teria beijado o chão que Cesare pisava; mas naquela noite, ele arrancou-lhe a sua devoção e orgulho, espezinhando-os com os lindos sapatos feitos à medida.
– Se vieste falar com o meu pai, lamento informar-te que ele…
– Eu sei – interrompeu-a com o sobrolho ligeiramente franzido. – Vim ver-te a ti.
– A mim?
Aquele gesto e o tom da sua voz colocaram-lhe os nervos à flor da pele. De repente, apercebeu-se das marcas que as lágrimas tinham deixado no seu rosto, pelo que as limpou rapidamente.
– O que é que queres de mim?
Levantou-se e afastou-se da luz directa da janela até uma zona mais escura do quarto.
– Nunca pensei que quisesses voltar a falar comigo.
– Porque não? – perguntou ele, com um tom de humor que a fez ferver de fúria.
– Deixaste bem claro que não querias perder tempo comigo.
O seu sorriso lento e sexy provocava-lhe terríveis sensações, afectando-lhe a postura.
– Oh, Megan, cara, não estavas em condições de passar o tempo com ninguém.
– Mas eu apenas bebi uma ou duas taças de champanhe!
Aquilo que não podia admitir era que não tinha sido a bebida espumosa que a embriagara, mas o impacto da presença de Cesare, elegante e distinta.
– Ou três ou quatro… – continuou ele. – E o problema era que estavas diabolicamente atraente naquele estado. Imaginas a doçura e a sedução que transmitias com aquele vestido?
– Doçura e…? – repetiu Megan, totalmente desconcertada.
Ele teria realmente dito aquilo que ela ouvira? Teria realmente utilizado as palavras «doçura» e «sedução» para descrever o seu estado? Apesar da tristeza, aquelas palavras despertaram algo nela. Algo que julgava morto há muito tempo. Algo que ainda perdurava no seu coração.
– Estás a gozar comigo!
– Em absoluto.
Cesare abanou a cabeça, movendo-se por fim, atravessando o quarto como um felino.
– Fiz aquilo que julguei ser melhor para manter as mãos afastadas de ti.
A única coisa que saiu da boca de Megan foi uma espécie de desabafo pouco feminino que indicava achar aquele comentário cínico.
– Oh, claro! Foi tão difícil conter-te que me afastaste como se eu tivesse a peste! Depois… ignoraste-me durante o resto da noite.
Megan pestanejou, confusa, enquanto Cesare negava com a cabeça.
– Não – adiantou com firmeza. – Era impossível ignorar-te, por muito que tentasse. Nunca consegui ignorar-te. Desde a primeira vez que apareceste na minha vida, quando eras uma linda menina de treze anos, que não consigo afastar os olhos de ti.