Romancistas Essenciais - Joaquim Manuel de Macedo. Joaquim Manuel de Macedo

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Romancistas Essenciais - Joaquim Manuel de Macedo - Joaquim Manuel de Macedo Romancistas Essenciais

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of’recia?

      Pois hão de os seios puros

      Murcharem prematuros?

      XX

      Não sabes que me chamam

      A bela do deserto?...

      Empurras para longe

      O bem que te está perto?...

      Só pagas com rigor

      As lágrimas de amor?...

      XXI

      Ingrato! Ingrato! foge...

      E aqui não tornes mais,

      Que, sempre que tornares,

      Terás de ouvir meus ais:

      E ouvir queixas de amor,

      E ver pranto de dor...

      XXII

      E, se amanhã vieres,

      Em pé na rocha dura

      'Starei cantando aos ares

      A mal paga ternura...

      Cantando me ouviras,

      Chorando me acharás!...

      Capítulo XI: Travessuras de d. Carolina

      Mas ela não pára: o movimento é a sua vida; esteve no jardim e em toda a parte; cantou sobre o rochedo e ei-la outra vez no jardim!

      Infatigável, apenas suas faces se coraram com o rubor da agitação. Travessa menina!... Porém ela tempera todas as travessuras com tanta viveza, graça e espírito, que menos valera se não fizera o que faz. Não há um só, entre todos, de cuja alma não se tenham esvaído as idéias desfavoráveis que à primeira vista produzira o gênio inquieto de d. Carolina. O mesmo Augusto não pôde resistir à vivacidade da menina. Encontrando Leopoldo, disseram duas palavras sobre ela.

      — Então, como a achas agora?... disse Leopoldo, apontando para a irmã de Filipe.

      — Interessante, espirituosa e capaz de levar a glória ao mais destro casuísta. Olha, Fabrício vê-se doido com ela.

      — Só isto?...

      — Acho-a bonita.

      — Nada mais?...

      — Tem voz muito agradável.

      — É tudo o que pensas?...

      — Tem a boca mais engraçada que se pode imaginar.

      — Só?...

      — Só?...

      — Que mais?

      — É tão ligeira como um juramento de mulher.

      — Dize tudo de uma vez.

      — Pois que queres mais que eu diga?

      — Que a amas!... Que dás o cavaco por ela.

      — Amá-la? Não faltava mais nada! Amo-a como amo as outras.., isto sim.

      — Pois meu amigo, todos nós estamos derrotados: o diabinho da menina nos tem posto o coração em retalhos. Se, de novo, se fizer a saúde que hoje fizemos, todos, à exceção de Felipe, pronunciarão a letra C.

      — Também Fabrício?

      — Ora! Esse está doente... perdido... doido enfim! E ela?

      — Zomba de todos nós; cada cumprimento que lhe endereçamos paga ela com uma resposta que não tem troco e que nos racha de meio a meio. Tu ainda lhe não disseste nada?

      — Coisas vãs... e palavras da tarifa.

      — E ela?

      — Palavras da tarifa... e coisas vãs.

      — Tanto melhor para mim.

      — Pois é opinião geral que ela te prefere a todos nós.

      — E pior para ela, mas... adeus! O meu lindo par se levanta do banco de relva em que descansava, vou tomar-lhe o braço; tenho-me singularmente divertido: a bela senhora é filósofa! ... Faze idéia! Já leu Mary de Wollstonecraft e, como esta defende o direito das mulheres, agastou-se comigo, porque lhe pedi uma comenda para quando fosse ministra de Estado, e a patente de cirurgião de exército, no caso de chegar a ser general; mas, enfim, fez as pazes, pois lhe prometi que, apenas me formasse, trabalharia para encartar-me na Assembléia Provincial e lá, em lugar das maçadas de pontes, estradas e canais, promoveria a discussão de uma mensagem ao Governo Geral, em prol dos tais direitos das mulheres; além de que... Mas... tu bem vês que ela me está chamando; adeus!...

      No entanto d. Carolina continuava a cativar todos os olhares e atenções; tinham notado, é verdade, que ela estivera alguns momentos recostada à efígie da Esperança, triste e pensativa. Fabrício jurava mesmo que a vira enxugar uma lágrima, mas logo depois, lhe desaparecera completamente a menor aparência de tristeza, tornou a brilhar o prazer em ebulição.

      Todos tinham tido seu quinhão, maior ou menor, segundo os merecimentos de cada um, nas graças maliciosas da menina. Ninguém havia escapado: Fabrício era a vítima predileta, porque também fora ele o único que se atreveu a travar luta com ela.

      Finalmente d. Carolina acabava de entrar outra vez no jardim, depois de ter cantado sua balada. De todos os lados soavam-lhe os parabéns, mas ela escapou a eles, correndo para junto de uma roseira toda corada por suas belas e rubras flores.

      Fabrício, que ainda não estava suficientemente castigado e que, além disso, começava a gostar seu tantum da Moreninha, dirigiu-se com d. Joaninha para o lado em que ela se achava.

      — É decididamente o que eu pensava, disse Fabrício, quando se viu ao pé de d. Carolina; e dirigindo-se a d. Joaninha: sim... sua bela prima ama as rosas, exclusivamente.

      — Conforme as ocasiões e circunstâncias, respondeu a menina.

      — Poderia eu merecer a honra de uma explicação? perguntou Fabrício.

      Com toda a justiça e, continuou d. Carolina rindo-se, tanto mais que foi a V.S.a que me dirigi. Eu queria dizer que entre um beijo de frade ou um cravo defunto e uma rosa, não hesito em preferir a última.

      Fabrício fingiu não entender a alusão e continuou:

      — Todavia não é sempre bem pensada semelhante preferência; a rosa é como a beleza: encanta, mas espinha! V.S.a o sabe, não é assim?

      — Perfeitamente, mas também não ignoro que a rosa só espinha quando se defende de alguma mão impertinente que vem perturbar a paz de que goza; V. S.a o sabe, não é assim?

      — Oh! Então a sra. d. Carolina foi bem imprudente em quebrar o pé dessa rosa com que brinca, expondo assim seus delicados

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