Romancistas Essenciais - Joaquim Manuel de Macedo. Joaquim Manuel de Macedo

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Romancistas Essenciais - Joaquim Manuel de Macedo - Joaquim Manuel de Macedo Romancistas Essenciais

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eu não conhecia o primo da minha amada, mas essa era a infelicidade mais tolerável possível.

      Um dia tratamos de encontrar-nos em certa igreja, onde tinha de haver esplêndida festa; cheguei cedo, mas logo depois de minha chegada rebentou uma tempestade e choveu prodigiosamente. Pouco durou o mau tempo, porém as ruas deveriam ter ficado alagadas e a bela esperada não podia vir; apesar disso eu olhava a todos os momentos para a porta e, coisa notável, sempre encontrava os olhos de um outro moço, que se dirigiam também para lá; acabada a festa, ambos nos aproximamos.

      — Nós devemos ser amigos, disse ele.

      — Eu penso do mesmo modo, respondi.

      E apertamos as mãos.

      — Sou capaz de jurar que adivinho a razão por que o senhor olhava tanto para aquela porta, continuou ele.

      — E eu também.

      Convenho: esperávamos ambos nossas amadas e a chuva mangaram conosco.

      — Exatamente.

      — Mas nós vamos, sem dúvida, vingar-nos, indo agora vê-las à janela.

      — Eu queria propor a mesma vingança.

      Bravo! ... Iremos juntos... Onde mora a sua?...

      — Na rua de...

      — Ainda melhor... a minha é na mesma rua.

      Saímos da igreja, embraçamo-nos e fomos. A minha amada morava perto, eu avistei-a debruçada na janela, talvez me esperando, pois olhava para o lado donde eu vinha; abri a boca para dizer ao meu novo amigo:.é aquela!... Quando ele me pronunciou com indizível prazer: é aquela!

      Julgue, minha senhora, da minha exasperação! Pela terceira vez eu era a boneca de uma menina!...

      Não sei por que ainda tive ânimo de tirar o meu chapéu à tal pálida, que ao menos dessa vez se fez cor-de-rosa, talvez por ver-me de braço com o novo amigo.

      Passando a maldita casa, Jorge, que assim se chamava o moço, disse-me com fogo:

      — Aquela jovem adora-me!

      — Está certo disso, meu amigo?

      — Tenho provas.

      — Acredita muito nelas?

      — Tenho as mais fortes; por último recebi ainda a de maior confiança: eu lhe conto. Um estudante a requestou e escreveu-lhe; ela mandou-me a carta, e eu respondi em seu lugar. A correspondência tem continuado por minha vontade e sou eu quem sempre faço a norma das cartas que ela deve escrever; achará isto imprudência, e eu acho um belo divertimento.

      — Sim... um belo divertimento...

      — Mas que é isso? Está tão pálido!

      — Não é coisa de cuidado... Eu... ora... o estudante...

      — É por certo um famoso pateta...

      — Não é bom ir tão longe...

      — Não tem dúvida... é um tolo rematado.

      — Fale-me a verdade: eu acho aquela moça com cara de ser sua prima.

      — Quem lhe disse?... E, com efeito, minha prima!

      — Pois vamos à minha casa.

      — E a sua amada?...

      — Não me fale mais nela.

      Apenas chegamos à minha casa, abri uma gaveta, e tirando dela todas as cartas que Jorge havia escrito à sua prima, e que ela me tinha mandado, assim como as normas que eu redigira para as que deveriam ser enviadas ao meu amigo, acrescentando:

      — Concordemos ambos que, se o estudante foi um famoso pateta e um tolo rematado, não o foi menos o primo daquela senhora a quem cortejamos na rua de...

      Jorge devorou todas as cartas e normas que lhe dei; depois desatou a rir e, abraçando-me, exclamou:

      — Concordemos também, caro estudante, que minha prima tem bastante habilidade para se corresponder com meio mundo, sem se incomodar com o trabalho da redação de suas cartas!

      O bom humor de Jorge tornou-me alegre. Jantamos juntos, rimo-nos todo o dia, e só de noite se retirou.

      Tratei de dormir, mas, antes de adormecer, falei ainda comigo mesmo: juro que não hei de amar a moça nenhuma de cor pálida.

      Desde então declarei guerra ao amor, minha senhora; tornei-me ao que era dantes, isto é, ocupei-me somente em me lembrar de minha mulher e em beijar o meu breve.

      Mas eu andava triste e abatido e às vezes pensava assim: ora, pois jurei não amar moça nenhuma que fosse morena, corada ou pálida: estas são as cores, estes são os tipos da beleza... e, portanto, minha mulher terá, a pesar meu, uma das tais cores; logo não me caso com minha mulher e, em última conclusão, serei celibatário; vou ser frade... frade!

      Minha tristeza, meu abatimento deu nos olhos da digna, jovial e espirituosa esposa de um de meus bons amigos. Ela me pediu que lhe confiasse as minhas penas e eu não pude deixar de relatar estes três fatos à consorte de um caro amigo.

      A única consolação que tive foi vê-la correr para o piano, e ouvi-la cantar as seguintes e outras quadrinhas musicadas no gosto nacional:

      I

      Menina solteira

      Que almeja casar

      Não caia em amar

      A homem algum;

      Nem se/a notável

      Por sua esquivança,

      Não tire a esperança

      De amante nenhum.

      II

      Mereçam-lhe todos

      Olhares ardentes,

      Suspiros ferventes

      Bem pode soltar:

      Não negue a nenhum

      Protestos de amor;

      A qualquer que for

      O pode jurar.

      III

      Os velhos não devem

      Formar exceção,

      Porquanto eles são

      Um grande partido;

      Que, em falta de moço

      Que fortuna faça,

      Nunca foi desgraça

      Um velho marido.

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