A noiva substituta. Jane Porter
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O pai nunca mostrara o menor interesse por ela. Só se interessava pelo seu filho e herdeiro, Barnabas, e pela linda Elexis, que o apaixonara desde que nascera com os seus olhos castanhos grandes e as suas birras simpáticas.
Kass nunca fora simpática. Para a sua família, era uma menina silenciosa, esquiva e impossivelmente teimosa que se recusava a conversar com os convidados importantes do pai. Não queria cantar ou tocar piano. Em vez disso, Kass queria falar de política e economia. Desde pequena, sentira-se fascinada pela economia e fazia previsões sobre o futuro da indústria naval que horrorizavam o pai. Pouco importava que lesse melhor do que qualquer criança da sua idade ou que fosse a melhor da escola a matemática. As boas raparigas gregas não pensavam em assuntos de interesse nacional, política ou economia. As boas raparigas gregas casavam-se com homens gregos para criar a geração seguinte. Essa era a sua responsabilidade, esse era o seu valor, mais nada.
Kassiani deixara de ser incluída nas festas familiares. Não a convidavam para jantares ou eventos. Transformara-se na filha esquecida.
– Agradeço-te por teres vindo imediatamente – estava a dizer o pai. – Lamento ter-te incomodado, mas temos um problema.
O pai de Kassiani era um armador como Damen, mas greco-americano, nascido e criado em São Francisco. Sabia que estava nervoso, mas a sua voz não o traiu. Antes pelo contrário, parecia positivo e otimista.
E Kass alegrava-se por isso. As pessoas não deviam trair os seus medos nas negociações e a fusão da Naval Dukas com o empório Alexopoulos graças ao casamento de Damen e Elexis era uma transação comercial. Uma transação que, nesse momento, estava em perigo.
O pai não podia devolver o dinheiro que Damen investira na Naval Dukas, que estava à beira da ruína devido a uma má gestão. A empresa teria ido à falência sem uma injeção de dinheiro e Damen fora esse investidor. Mantivera o seu compromisso, mas, agora, Kristopher tinha de lhe dizer que os Dukas não iam cumprir a sua parte do acordo.
Kass olhou pela janela da vila. O sol refletia-se nas águas brilhantes do mar Egeu, de uma cor turquesa vibrante, mais claras do que as águas turvas do Oceano Pacífico.
– Não sei se entendo – disse Damen, então. O seu tom era amistoso, mas Kass sabia que aquilo era apenas o prelúdio da batalha.
Os pugilistas chocam as luvas antes de começar o combate e os jogadores de futebol apertam as mãos.
Damen e o pai estavam a cruzar as espadas.
Kass olhou para ambos. Damen não parecia um magnata. Era demasiado atlético, demasiado imponente. Tinha a pele bronzeada e o aspeto de um homem que trabalhava no cais, não à frente de uma secretária. Contudo, era o seu perfil que mais chamava a atenção. Eram essas feições esculpidas, tão severas como tudo nele: A testa larga, as maçãs do rosto altas, a cana do nariz, que parecia ter sido partido mais de uma vez.
Era um lutador, pensou, e não aceitaria bem a notícia que o pai estava prestes a dar-lhe.
– Temos um problema. A Elexis foi-se embora – anunciou Kristopher, então. – Espero que volte em breve, mas…
– Não temos um problema, tu tens um problema – interrompeu Damen.
– Eu sei – assentiu o pai –, mas pensei que deveríamos avisar os convidados enquanto temos tempo.
– Não vamos cancelar o casamento. Não haverá promessas falhadas nem humilhação pública. Está claro?
– Mas…
– Prometeste-me a tua melhor filha há cinco anos e espero que cumpras o prometido.
«A tua melhor filha.»
Kassiani mordeu o lábio inferior para conter a dor e a humilhação.
Então, viu que Damen olhava para ela com uma expressão séria e com as pestanas pretas espessas a emoldurar uns olhos intensos de cor cinzento-escura. Não sabia o que pensava, mas esse olhar breve intensificou a sua dor.
Ela não era «a melhor filha» e nunca seria.
Damen virou-se para o seu pai, esboçando um sorriso desdenhoso.
– Vemo-nos amanhã na igreja – disse. – Com a minha noiva.
E, depois, saiu da sala.
Capítulo 1
Era o dia perfeito de maio para um casamento na Riviera Ateniense. O céu era de um azul muito claro e sem nuvens e o sol refletia-se nas paredes da capela minúscula, com o mar Egeu e o templo de Poseidon como cortina de fundo. A cerimónia e o copo-d’água teriam lugar na vila histórica de Damen em Cabo Sunião. A temperatura era perfeita e agradável, nem muito quente nem muito húmida.
Em circunstâncias normais, uma noiva sentir-se-ia feliz, mas Kassiani não era uma noiva normal. Nem sequer deveria ser uma noiva, mas, naquela manhã, Kristopher Dukas tomara a decisão drástica de a trocar pela irmã e, portanto, Kassiani estava à frente da porta da capela, com um nó no estômago, à espera do sinal para entrar.
Havia muitas possibilidades de aquilo não acabar bem e receava que o noivo a deixasse plantada no altar ao ver que não era a irmã. Damen não era tolo. De facto, era um dos homens mais poderosos do mundo e não gostaria de ser enganado.
E ela não gostava de enganar os outros. Era a filha mais nova de Kristopher Dukas, a menos notável em todos os sentidos. No entanto, quando o pai a encurralara naquela manhã, exigindo que o fizesse para salvar a família, tivera de aceitar. Casar-se-ia com Damen Alexopoulos, não para salvar a empresa do pai, mas para se salvar.
Casar-se com Damen seria uma saída. Fugiria da casa do pai e fugiria do seu controlo porque, com vinte e três anos, estava decidida a ser mais do que a opaca, trôpega e aborrecida Kassiani Dukas.
Casar-se com o magnata Damen Alexopoulos não mudaria o seu aspeto físico, mas mudaria a forma como os outros a viam. Obrigá-los-ia a reconhecê-la como alguém importante, mesmo que parecesse patética.
A música do órgão começou a tocar no interior da capela e o pai, baixinho, roliço e com o cabelo grisalho, fez-lhe um gesto impaciente.
Kass conteve um suspiro. O pai não gostava dela. Quando era criança, não entendera a sua frieza com ela porque era muito carinhoso com Elexis, mas, quando crescera, fora capaz de descobrir o mistério.
Kristopher não era um homem atraente, mas ansiava ser respeitado. Ter dinheiro era uma forma de o conseguir, assim como ter uma família atraente. E enquanto Elexis era a clone da falecida mãe, que fora modelo antes de se casar, infelizmente, ela parecia-se com o pai, de quem herdara a constituição e o queixo marcado. E isso não era o que uma mulher queria quando a mãe fora uma modelo famosa.
Kassiani deixou escapar um suspiro. Esses pensamentos não a ajudavam nada. A sua autoestima, sempre escassa, estava a desaparecer nesse momento. E, então, o pai estalou os dedos.
Aparentemente, chegara a hora.
Tremia