A noiva substituta. Jane Porter
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– Parece-se com a tua mãe.
– E eu pareço-me com o meu pai.
– Não escolhi a Elexis pela sua beleza.
Kassiani esboçou um sorriso. Não acreditava.
– Em qualquer caso, suponho que já nada disso importe, pois não?
Olhou para o Cabo Sunião, brilhante e dourado, com o templo famoso de mármore construído no ano 440 a.C. Era incrível que ainda permanecesse de pé.
– Imagino que tenhas fome.
– Tenho aspeto de quem passa fome? – brincou Kassiani
Observou-a em silêncio por um instante.
– Vou pedir que te tragam uma bandeja.
– Não vais comer nada?
– Tenho de tratar de uns assuntos.
Era a sua noite de núpcias, mas não queria jantar com ela. Não devia incomodá-la. Era a substituta por obrigação e ele era o noivo humilhado. Não devia surpreender-se por querer manter a distância.
– Nesse caso, muito obrigada. Posso comer aqui fora?
– Sim, claro. Vou pedir que preparem uma mesa.
Kass ia agradecer, mas Damen já se virara e viu-o a desaparecer com um nó na garganta.
Aquilo não seria fácil.
O escritório de Damen, na coberta do segundo andar, era semelhante ao seu quarto, com uma parede de vidro, outra parede com estantes cheias de livros, obras de arte de tamanho grande aqui e acolá e uma secretária enorme virada para o mar.
Desejava o mar. Só de olhar para o mar e para o horizonte, conseguia relaxar e respirar à vontade.
Comeu alguma coisa enquanto estudava o acordo que havia no ecrã do seu computador. Um acordo de há três anos, embora a discussão sobre a fusão com Dukas tivesse começado há cinco anos, quando Elexis ainda estava na universidade. Foi Kristopher que propôs esse casamento combinado, sugerindo uma fusão que os transformaria num empório poderoso que controlaria rotas de navegação por todo o mundo.
Damen sentira-se intrigado, mas não o suficiente porque conhecia a reputação de Kristopher Dukas, que costumava fazer acordos demasiado apressados e ambiciosos.
Ele também era ambicioso, mas geria o seu negócio com integridade. No entanto, dois anos depois, quando soubera que Kristopher estava a oferecer a filha a outro armador grego, viajara para São Francisco para discutir um casamento que poderia ser benéfico para os dois.
Damen não sentia nada por Elexis, que mal conhecia. Era apenas um meio para obter um fim. E, no entanto, quando finalmente a conhecera, pensara que, para além de ser uma boa esposa e a mãe dos seus herdeiros, poderia ser um ativo valioso para ele. As pessoas sentiam-se atraídas por Elexis e isso seria muito útil para entreter os clientes.
Poderia dedicar-se ao aspeto social e, desse modo, ele poderia concentrar-se nos negócios.
O amor nunca fizera parte do acordo porque Damen não amava. Precisava de certas pessoas na sua vida para conseguir coisas. Respeitava as pessoas que trabalhavam para ele, mas não tolerava fraquezas. Quanto mais benéfico alguém fosse, mais o valorizava. Era simples.
Era frio e não tinha sentimentos, mas nunca se desculparia por ser pragmático e estratégico.
Isso levara-o dos olivais de Quios até ao leme da Naval Egeu, que se transformara na Naval Alexopoulos quando o idoso senhor Koumantaras morreu. A família não gostara, mas Damen não tinha remorsos. Os filhos de Koumantaras não queriam trabalhar no negócio familiar. A única coisa que queriam era viver dos lucros. Porque haveriam de se importar se a empresa mudasse de nome?
Algum dia, a Naval Dukas também perderia o seu nome e faria parte da poderosa Naval Alexopoulos.
Damen fechou o computador para olhar para o céu escuro pela janela.
As luzes do templo de Poseidon apagar-se-iam à meia-noite, mas eram apenas dez horas e continuavam acesas.
Damen tamborilou com os dedos no braço da cadeira, tentando acalmar o seu mau humor. Detestava que Kristopher Dukas tivesse brincado com ele. Demorara muitos anos a aprender a controlar o seu mau feitio e a sua raiva, mas, naquele dia, estavam a pô-lo à prova. Naquele dia, queria dar rédea solta à sua cólera.
Pensou em Kassiani no quarto principal e fechou os olhos, abanando a cabeça.
Devia dormir num camarote para convidados. Longe dele para que pudesse esquecê-la.
Contudo, estava no seu quarto, à espera que voltasse.
Sentiu um nó no estômago.
Não a desejava. Não queria ofendê-la, mas não a desejava. Não era a noiva que lhe fora prometida. Kristopher prometera-lhe a sua melhor filha e ele acreditara que cumpriria a sua palavra. Fora por isso que investira na Naval Dukas, na edificação de portos na Costa Oeste e na construção de novos barcos, sabendo que esse investimento estabilizaria ambos os negócios no futuro.
Mas o casamento seria anulado.
E, portanto, o acordo não seria válido.
Já enviara uma mensagem de correio eletrónico ao seu advogado para que começasse o processo de dissolução da sociedade. Agora, só tinha de devolver Kassiani ao pai e encarregar-se da papelada legal.
Quando acabou de jantar, Kassiani voltou ao interior do quarto principal luxuoso. Damen teria de voltar em algum momento. E, então, estariam sozinhos.
Ali, no quarto.
Tinha de encontrar confiança em si própria para ir para a cama com ele porque, se o casamento não fosse consumado, Damen anulá-lo-ia e os Dukas perderiam tudo.
Ela não era a filha favorita, mas era leal à família e queria proteger a empresa do pai. Aceitara casar-se com Damen para que a Naval Dukas não fosse destruída por processos legais intermináveis. E Damen poderia destruí-los. Os processos de restituição deixariam a empresa na ruína.
Como o pai dissera naquela manhã, não podia devolver o dinheiro a Damen. O casamento devia acontecer e o casamento devia ser consumado.
E isso significava que devia seduzir Damen naquela noite.
Embora não fosse fácil. Não só porque era virgem, mas porque não tinha experiência. Só a tinham beijado uma vez, um beijo trôpego tão húmido e desagradável que não quisera voltar a beijar ninguém.
Comparado com esse assédio violento, o beijo na capela fora… emocionante. Quando Damen lhe levantara o queixo para a beijar, Kass sentira um formigueiro de antecipação. Os seus lábios eram firmes e frescos e, no entanto, sentira um arrepio.
Tremia quando se afastara e dera por si a desejar que o beijo durasse mais.
Talvez, assim, tivesse sido capaz de processar os