A noiva substituta. Jane Porter
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– E se não me apetecesse consumá-lo contigo?
Kass mordeu o lábio inferior. Sabia como era dececionante como mulher. Não podia comparar-se com Elexis, mas tinha sentimentos. E esperanças e sonhos.
– Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance e vou esforçar-me para que me desejes.
Damen atravessou o quarto para se aproximar da janela e olhar para o antigo templo de Poseidon, iluminado pelos últimos raios do sol. Naquela noite, haveria outro ocaso espetacular. Os crepúsculos em Cabo Sunião eram lendários.
– Talvez devêssemos esquecer esta farsa agora – sugeriu, de costas para ela, com o olhar fixo no mar.
– Talvez – concedeu Kass. – Não vou chamar-te covarde se o fizeres.
Virou-se bruscamente e observou-a com um ar impaciente.
– Eu cumpri a minha parte do acordo. Investi na Naval Dukas, resolvi os problemas legais do teu pai, despedi-me da minha amante e esperei pacientemente pela tua irmã…
– Evidentemente, foi um erro.
– Isso não está a ajudar, querida.
– Talvez devesses ter passado mais tempo com a tua noiva para saber se era a mulher apropriada.
– O teu pai garantiu-me que a Elexis era a esposa apropriada.
– E esse é o problema, confiaste no meu pai – disse Kass, brincando com outra pérola do vestido. – Sou realista, sempre fui, e conheço bem a minha família. Admiro as suas virtudes, mas também tenho consciência dos seus defeitos. Pessoalmente, não teria feito negócios com o meu pai, mas tu querias a Costa Oeste dos Estados Unidos, querias os barcos, os portos e os acordos. Bom, agora, já os tens.
Damen deu um passo em frente e Kassiani tentou não se acovardar quando parou à frente dela, tão alto que tinha de deitar a cabeça para trás para olhar para ele.
– Não tens boa opinião de mim?
– Acho que subestimaste a família Dukas.
– Não respondeste à minha pergunta.
Ela hesitou por um instante, antes de olhar para ele nos olhos.
– Não me teria casado com um homem de quem não tivesse boa opinião – declarou, finalmente.
Damen olhou para ela em silêncio durante uns segundos.
– Eu também não gosto muito de festas – declarou, depois. – Portanto, vamos ignorar o copo-d’água e vamo-nos embora agora mesmo.
Capítulo 2
Damen levou-a até à cozinha por uma escada de serviço e, de lá, saíram para o jardim. Abriram caminho entre as árvores frutíferas, atravessaram a horta e passaram por baixo de um arco de pedra para seguir um caminho que levava ao cais, onde esperava uma lancha.
O piloto ofereceu-lhe a mão, mas Damen adiantou-se, pegando nela ao colo. Quando a deixou no chão da lancha, Kass balançou sobre os saltos altos e sentou-se o mais depressa que pôde. Damen sentou-se à frente dela e o piloto pôs o barco a trabalhar a toda a velocidade para se afastar da vila. Kassiani agarrou-se à beira do banco com uma mão, tentando controlar o véu pesado com a outra enquanto olhava para a propriedade, e para o copo-d’água, que deixavam para trás.
A vila era grande, uma das mais antigas da zona na costa ateniense. Fora construída à frente do Egeu e o arquiteto certificara-se de que todas as divisões tinham vista para o mar cor de turquesa e para o templo de Poseidon na colina.
Dali, conseguia ver as luzes suaves e douradas no jardim, as lâmpadas às cores penduradas nas árvores e os candelabros que iluminavam dúzias de mesas. Dali, o copo-d’água parecia mágico e Kassiani sentiu uma pontada de tristeza. Aquele não era o casamento que os convidados esperavam.
Tentou imaginar a reação deles quando descobrissem que os noivos tinham desaparecido. Ficariam para jantar quando soubessem que os noivos se tinham ido embora? Talvez ficassem para desfrutar do copo-d’água esplêndido. Alguns, alegrar-se-iam por não haver brinde e, outros, aqueles que gostassem de Damen, sentir-se-iam confusos e preocupados.
O casamento fora um desastre.
Como é que Damen lhe chamara? Uma farsa?
De repente, Kass sentiu-se culpada e angustiada. Aquilo era uma loucura. E, agora iam-se embora, mas não sabia para onde. Quando o cabo começou a desaparecer da sua vista, o piloto diminuiu a velocidade da lancha para se aproximar de um iate enorme. Havia vários membros da tripulação à espera deles numa plataforma, a segurar uma escada.
– Tira os sapatos – aconselhou Damen. – Será melhor não subires a escada com esses saltos. Quanto medem?
– Não sei, são muito altos – admitiu ela, tirando os sapatos que lhe tinham magoado os pés durante toda a tarde.
Damen pegou nela ao colo para a pôr na plataforma.
– Consegues subir a escada com esse vestido? – perguntou.
– Que outra coisa posso fazer, tirá-lo?
– Não – respondeu ele.
– Então, consigo subir a escada com o vestido.
Quando chegou ao topo, ajudada pelos membros da tripulação, deixou escapar um suspiro de alívio. Um empregado acompanhou-a ao interior, levando-a por várias escadas e corredores. As paredes eram de teca brilhante e os móveis, elegantes e discretos. Não tinha nada a ver com o iate do pai, que fora construído para a sua esposa. Infelizmente, Kristopher Dukas nunca entendera o gosto da sua mãe, de modo que o iate era exageradamente feminino, com paredes cremes, superfícies douradas, estofos florais e colunas horrendas por todo o lado para que o interior parecesse um templo grego. Kassiani achava-o estridente e feio e odiava que a obrigassem a participar nos cruzeiros que faziam pelo Mediterrâneo, prendendo-os a todos numa cela flutuante.
Susteve a respiração quando o empregado que a acompanhava parou à frente de uma porta. Não sabia se era o quarto principal ou um camarote para convidados, mas teve a certeza assim que pôs um pé no quarto. Tinha de ser o quarto principal porque era enorme, com uma parede de vidro e uma coberta privada de onde conseguia ver o templo de Poseidon, com as suas colunas majestosas e brilhantes como o ouro. As ruínas antigas eram impressionantes e Kass saiu para a coberta para as admirar, mas as luzes de uma vila do outro lado da baía competiam pela sua atenção.
A vila de Damen, onde o copo-d’água tinha lugar.
Talvez o seu sangue grego reconhecesse que voltara a casa porque, de repente, levou uma mão ao peito, embargada pela emoção.
– Arrependes-te? – perguntou Damen, atrás dela.
Kassiani virou-se, tentando esboçar um sorriso.
– E tu? Arrependes-te? Não sou a mulher que tu querias.