Recordações de um amor - Uma amante temporária. Emma Darcy
Чтение книги онлайн.
Читать онлайн книгу Recordações de um amor - Uma amante temporária - Emma Darcy страница 3
Dario voltou-se para enfrentar a sua visitante. Com o cabelo preto preso num coque perfeito, um imaculado vestido de cor creme e um colar de pérolas ao pescoço, Celeste Costanzo poderia ter passado por uma mulher de quarenta e cinco anos quando na verdade estava prestes a fazer sessenta.
– Pareces vestida para uma festa, mas deverias estar a relaxar na ilha, mãe.
– Estar fora do olhar público em Pantelleria não é razão para não me vestir bem… e não mudes de assunto. O que te disse o neurologista?
– Que Maeve saiu do coma e espera que se recupere completamente.
– Então vai sobreviver?
– Tenta disfarçar a tua desilusão – suspirou Dario. – Afinal de contas, é a mãe do teu neto.
– Depois do que se passou, não entendo porque é que continuas a defendê-la.
– Mas essa é a questão, mãe, não sabemos o que aconteceu. Das duas pessoas que poderiam saber, uma está morta e a outra perdeu a memória.
– Ah, então esse é o jogo dela agora, não é? Fingir que não se recorda de nada, que não tinha tentado deixar-te e levar a criança – a mãe fez um gesto de desprezo. – Que conveniente para ela!
– Isso é uma tolice e tu sabes. Maeve não está em posição de fingir e mesmo que assim fosse, os médicos têm demasiada experiência para não se aperceberem.
– Então tu acreditas nesse diagnóstico?
– Tenho que acreditar e tu também.
– Receio que não, filho.
– Aconselho-te a que repenses a tua posição, se queres ser bem-vinda a minha casa – respondeu Dario.
Celeste empalideceu.
– Sou a tua mãe!
– E Maeve continua a ser a minha mulher.
– Durante quanto tempo? Até que decida voltar a partir? Até que um dia descubras que Sebastiano vive no outro lado do mundo e chama «papá» a outro homem? Diz-me o que tenho de fazer para que vejas que tipo de mulher ela é…
– É a mãe do meu filho – interrompeu ele. – E faz o favor de não repetires que não te parece uma boa mãe ou uma boa esposa.
– Não terei de fazê-lo, Dario. Maeve recordar-te-á isso em breve.
Todos na clínica, desde o enfermeiro ao médico, se foram despedir dela.
Quando lhes perguntou o que se tinha passado, só respondiam que tinha tido um acidente de trânsito e que não devia preocupar-se porque recuperaria a memória mais cedo ou mais tarde.
Eles negavam-se a dizer-lhe quem pagava as contas do hospital ou enviava as flores… todos excepto uma jovem auxiliar a quem lhe tinha escapado que era «ele» antes que a chefe das enfermeiras a fulminasse com o olhar.
Quem era «ele»?, queria perguntar Maeve. Embora soubesse que não conseguiria obter respostas.
– Posso perguntar pelo menos para onde vou quando sair daqui?
– É claro – respondeu a enfermeira, adoptando o tom que usaria com uma criança. – Para o sítio onde vivia antes, para o pé das pessoas que a amam.
Onde seria esse sítio e quem seria essa gente?, questionou-se Maeve.
Uns dias antes de os médicos lhe darem alta, disseram-lhe que passaria a sua convalescença num lugar chamado Pantelleria, do qual ela nunca ouvira falar.
– Quem é que estará ali à minha espera?
– Dario Costanzo…
Também nunca tinha ouvido falar dele.
– O seu marido – disse o médico então.
Isso tinha-a deixado sem fala.
Reunidos agora ao redor da limusina preta que esperava à porta do hospital, todos lhe desejaram uma rápida recuperação.
– Sentiremos saudades.
– Venha visitar-nos quando quiser, mas desta vez pelo seu próprio pé.
E, de repente, depois de tantos dias em que a única coisa que queria era sair do hospital, Maeve começou a sentir medo. Aquela gente era a sua âncora ao presente. Tudo o que ocorrera antes era um vazio, um borrão negro, um capítulo perdido da sua vida. Estar prestes a redescobri-lo, e ao homem com quem, aparentemente, se casara, deveria enchê-la de felicidade. Em vez disso, estava aterrorizada.
Reparando no seu pânico, uma jovem enfermeira tocou-lhe no braço.
– Não se alarme, eu acompanho-a até ao aeroporto.
A ideia de se misturar com gente assustava-a. Olhou-se ao espelho e sabia que, apesar do exercício, da boa alimentação e das horas que tinha passado no jardim do hospital, estava muito magra e muito pálida. O seu cabelo, outrora longo e espesso, agora era curto e mal cobria a cicatriz sobre a sua orelha esquerda. A roupa caía-lhe como se tivesse perdido uma tonelada de peso ou sofresse de alguma doença terrível.
Mas não podia fazer nada.
Em vez de se dirigir ao terminal, a limusina seguiu um caminho que levava a uma pista onde a esperava um jacto privado, com um assistente de bordo uniformizado à porta.
Que tipo de homem era o seu marido?, questionou-se Maeve. Ela tinha crescido num bairro operário em Vancouver, era filha única de um canalizador e de uma operadora de caixa de supermercado.
Recordando os seus pais, e quanto tinham amado a menina que nasceu quando já tinham perdido toda a esperança, fez com que os seus olhos se enchessem de lágrimas.
Se continuassem vivos teria ido para casa deles, naquela rua ladeada por árvores, a meio quarteirão do parque onde aprendera a andar de bicicleta.
A sua mãe far-lhe-ia um bolo de framboesa e o seu pai voltaria a dizer-lhe como estava orgulhoso dela. Mas os dois tinham morrido; o seu pai umas semanas depois de se reformar, a sua mãe três anos depois. A casa fora vendida.
E por isso Maeve, física e emocionalmente esgotada, via-se presa no elegante assento de couro do luxuoso jacto privado, dirigindo-se para uma vida que para ela não passava de um grande ponto de interrogação.
Capítulo 2
Embora não fosse exactamente mentira, quando Maeve lhe perguntara pelo sítio para onde se dirigiam, o assistente de bordo mostrou-se menos reservado do que o pessoal do hospital.
– Chama-se Pantelleria – respondeu, enquanto lhe servia o almoço
– Foi isso que me disseram, mas o nome não me é familiar.