Recordações de um amor - Uma amante temporária. Emma Darcy

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Recordações de um amor - Uma amante temporária - Emma Darcy Ómnibus Geral

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Sim, signora. A uns cem quilómetros da Sicília e a menos de oitenta da Tunísia.

      – Fale-me desse lugar.

      – É uma ilha pequena e isolada com ventos muito fortes. A estrada que a rodeia é um desastre, mas as uvas são doces, o mar é de um azul transparente… pode mergulhar-se nele. E o pôr-do-sol é magnífico.

      Parecia um pequeno paraíso. Ou uma prisão.

      – Vive lá muita gente?

      – Além dos turistas, muito pouca.

      – Eu vivi lá durante muito tempo?

      O homem ergueu-se, como se estivesse num desfile militar.

      – Posso oferecer-lhe alguma coisa para beber, signora?

      Maeve sorriu, tentando sacar-lhe mais alguma revelação.

      – O que costumava beber?

      Mas o seu esforço não serviu de nada.

      – Temos vinho, sumos, leite e água mineral com gás. Ou, se quiser, posso fazer-lhe um café.

      – Água mineral – suspirou Maeve, pensando que quem quer que fosse recebê-la ao aeroporto teria de lhe dar alguma resposta porque estava a começar a ficar cansada daquela conspiração de silêncio.

      Mas todas as perguntas que queria fazer desapareceram da sua mente quando o jacto aterrou e viu o homem que estava à sua espera.

      Se Pantelleria era a pérola negra do Mediterrâneo, ele devia ser o príncipe dos diamantes: alto, bronzeado, de ombros largos e tão bonito que Maeve teve de afastar os olhos quando lhe apertou a mão.

      – Ciao, Maeve. Sou o teu marido – disse. – Estou muito feliz por voltar a ver-te e que estejas tão bem.

      O cabelo preto bem cortado, o queixo cuidadosamente barbeado… usava umas calças de linho, uma camisa azul e um relógio Bulgari no pulso. Em comparação, ela devia parecer uma expatriada e deslocada ao lado daquele estranho tão elegante.

      E ele devia pensar o mesmo porque quando olhou para os seus olhos cinzentos viu neles o mesmo brilho de compaixão que a açoitara quando era adolescente.

      Desesperados por dar à sua filha o que eles não tinham tido, os seus pais gastaram todas as suas economias para a enviarem para um dos melhores colégios privados de Vancouver, sem se darem conta da angústia que o seu sacrifício provocava em Maeve. As suas companheiras, todas filhas de famílias ricas, criticavam-na sem piedade e esses comentários tinham-lhe deixado mais cicatrizes do que o acidente de carro.

      «Pobrezinha, já viste os dentes dela? É normal que se esconda atrás de tanto cabelo».

      «Sinto-me mal por não a convidar para a minha festa, mas ela não se integraria».

      Anos depois, uma ortodontia deixara-lhe os dentes perfeitos e, sorrindo agora para disfarçar a timidez que sentia quando se encontrava em desvantagem, Maeve disse:

      – Terás de me perdoar, mas esqueci-me do teu nome.

      Deviam ser as palavras mais absurdas que alguma vez pronunciara, mas ele também sorriu.

      – Dario.

      – Dario – repetiu Maeve, copiando a sua entoação, como se desse modo o nome pudesse ser-lhe familiar. Mas não foi assim.

      Ele indicou-lhe o carro que os esperava, um Porsche Cayenne Turbo, que Maeve sabia que era muito caro.

      – Vamos para o carro, o vento é infernal.

      Sim, de facto era. O seu cabelo, ou o que restava dele, levantava-se como um campo de trigo e tinha a testa coberta de suor. E, embora o voo não tivesse durado mais do que algumas horas, a angústia do que a esperava deixara-a esgotada.

      Como Dario não parecia muito inclinado a falar, Maeve foi olhando para a paisagem pela janela, rezando para que qualquer coisa despertasse uma lembrança, por mais pequena que fosse.

      À esquerda havia vinhedos protegidos por muros de pedra e grupos de oliveiras que abraçavam a terra como se pudessem evitar que o forte vento os atirasse ao mar.

      À direita, ondas de cor turquesa acariciavam rochas vulcânicas de cor preta. Daí o nome da ilha, sem dúvida.

      Pouco depois passaram por uma vila de pescadores, com casinhas pequenas em forma de cubo, juntas umas às outras com uns telhados estranhos.

      – Para aproveitar a água da chuva – explicou Dario quando lhe perguntou porque é que eram assim. – Pantelleria é uma ilha vulcânica com muitas nascentes, mas o sulfureto que a água contém faz com que não seja potável.

      Essa informação também não lhe despertava lembrança alguma, de modo que Maeve se viu obrigada a continuar a fazer perguntas se quisesse chegar ao seu destino tendo alguma referência.

      – O assistente de bordo disse-me que a ilha era muito pequena.

      – Sim.

      – Então a tua casa não fica muito longe.

      – Nada fica muito longe aqui. Pantelleria só tem catorze quilómetros e meio.

      – Então chegaremos em breve?

      – Sim.

      – Ouvi dizer que eu vivia aqui antes do acidente.

      Maeve viu que ele cerrava os lábios.

      – Sim.

      Era um homem de poucas palavras, certamente.

      – Há quanto tempo estamos casados?

      – Há pouco mais de um ano.

      – E somos felizes?

      Dario ficou visivelmente tenso.

      – Aparentemente, não.

      Surpreendida, Maeve virou a cabeça para olhar para ele.

      – Porquê?

      Ele encolheu os ombros, apertando o volante com mais força. Tinha umas mãos lindas, grandes e elegantes. Mas não usava aliança.

      – A nossa situação não era… a ideal.

      Maeve quis perguntar-lhe o que significava isso, mas havia tal reserva no seu tom de voz que decidiu continuar a olhar pela janela.

      Pouco depois, Dario seguiu por um caminho estreito que levava até um grupo de casas sobre uma colina. Por meio de algum método que não conhecia, um portão de ferro forjado abrira-se quando o carro se aproximara e voltara a fechar-se depois, silenciosamente.

      Um caminho ladeado de palmeiras levava até uma residência que, embora seguindo o que parecia o estilo arquitectónico da ilha, era muito maior do que as restantes e tinha um inegável ar de opulência. De um só andar, estendia-se

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