Recordações de um amor - Uma amante temporária. Emma Darcy

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Recordações de um amor - Uma amante temporária - Emma Darcy Ómnibus Geral

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É aqui?

      – É aqui – disse ele. – Bem-vinda a casa, Maeve.

      O vento espalhara o cheiro dos pinheiros, iluminados agora com a luz malva do entardecer, enchia o ar, misturando-se com o cheiro do mar.

      Fechando os olhos, Maeve respirou profundamente, perguntando-se como podia não se recordar daquele lugar.

      Dario apoiou-se no carro, olhando para ela. A sua silhueta, recortada contra a luz do entardecer, surpreendeu-o tanto como quando a viu descer do avião. Nessa altura desejara envolvê-la nos seus braços, mas ao recordar a advertência de Peruzzi parou. Isso e o medo de lhe partir alguma costela sem querer.

      Maeve sempre tinha sido magra, mas nunca ao ponto de permitir que o vento siroco a atirasse ao mar se se aventurasse a aproximar-se da beira de alguma ravina. Estava tão frágil que parecia quase transparente. O conselho do neurologista era que fosse paciente e o mais lógico naquela situação. A primeira coisa a fazer era devolver-lhe a saúde. O resto, a sua história, o acidente e os eventos que o provocaram, teria de esperar.

      Sem se aperceber, já lhe revelara mais do que queria, mas não voltaria a cometer esse erro. Não tinha chegado ao topo de um império multimilionário sem aprender a ser discreto quando era necessário. E agora era mais necessário do que nunca.

      – Queres ficar aqui fora, por um momento? – perguntou-lhe. – Podes dar um passeio pelo jardim para esticar as pernas.

      Ela passou os dedos pelo cabelo curto.

      – Não, obrigada. Embora seja cedo, estou muito cansada.

      – Então anda. Direi à governanta que te acompanhe ao teu quarto.

      – Eu conheço-a?

      – Não, começou a trabalhar aqui a semana passada. A sua predecessora foi-se embora para Palermo para estar com os netos.

      Dario pegou na mala dela e abriu a porta, dando um passo atrás para a deixar entrar no hall.

      Maeve inspeccionou o enorme lustre de cristal suspenso do tecto, as paredes brancas, o chão de mármore preto…

      – Vives sempre aqui?

      – Não, normalmente venho só aos fins-de-semana para relaxar.

      – Então, a partir de manhã estarei aqui sozinha?

      – Não, Maeve. Ficarei contigo até que te sintas um pouco mais cómoda em casa.

      – E dormiremos no mesmo quarto?

      «É isso que queres?», queria perguntar Dario. Outrora tinham sentido uma insaciável paixão um pelo outro…

      – Não, terás o teu próprio quarto enquanto assim o desejares. Mas eu nunca estarei muito longe, para o caso de precisares – respondeu, felicitando-se a si mesmo por dar uma resposta que não fechava a porta à ideia de retomar a sua relação. Peruzzi ficaria orgulhoso dele.

      – Ah, sim – murmurou Maeve. – Bom, é muito atencioso da tua parte. Obrigada.

      – Prego.

      – As minhas coisas estão aqui?

      – Sim – garantiu ele. – Está tudo exactamente com o deixaste… olha, esta é a Antonia, ela leva-te ao teu quarto. Pede-lhe tudo o que precisares.

      – Obrigada outra vez, por tudo o que fizeste por mim – murmurou Maeve.

      – Não é nada. Dorme bem, vemo-nos amanhã.

      Assim que as duas mulheres, uma tão bem constituída, a outra tão frágil, desapareceram pelo corredor para os quartos, Dario foi para o seu escritório para ligar a Giuliana, a sua irmã, que vivia na casa ao lado.

      – A Maeve chegou?

      – Sim.

      – E como é que ela está? É tão terrível como esperávamos?

      – Está tão frágil… – Dario sentiu uma quebra na voz. – A viagem deixou-a esgotada. Foi para a cama mal assim que chegou.

      – Pobrezinha. Oxalá pudesse ir dizer-lhe como gosto dela e que estou muito feliz por ter voltado.

      – Eu também gostaria. E trazer o menino para que ela o visse, mas infelizmente ainda não é o momento.

      – Sim, eu sei.

      – Mas escapou-me que o nosso casamento não passava pela sua melhor fase e essa não é a melhor maneira de começar outra vez – suspirou Dario.

      – Podem recomeçar se ainda se amarem como antes. A questão é… ainda se amam, Dario?

      – Eu não posso falar por ela.

      – Então fala por ti mesmo. Sei que te casaste com Maeve porque te pareceu que era o mais honrado, mas a mim parecia-me que corria tudo bem.

      – Até que começou a correr tudo mal.

      E aí estava o problema. Será que poderiam esquecer o que se tinha passado alguma vez e voltarem a confiar um no outro?

      – Maeve ama-te, Dario. Tenho a certeza disso.

      – Oxalá eu também a tivesse. Mas não te estou a ligar para te sobrecarregar com os meus problemas, ligava-te para te perguntar por Sebastiano.

      – Estamos todos muito bem. Marietta é uma ajuda enorme. E quanto a Cristina, está encantada com o primo e está sempre a brincar com ele. Além disso, Sebastiano é uma criança maravilhosa; só chora quando tem fome ou quando há que lhe mudar a fralda.

      – É a única coisa boa em todo este desafortunado assunto.

      – E Sebastiano é demasiado pequeno para entender o que aconteceu.

      – Esperemos que nunca saiba – Dario fez uma pausa. – Alguém da família foi vê-lo?

      – Se te referes à nossa mãe, sim. Veio esta manhã e depois à tarde outra vez. Insiste em que deveria estar com ela e eu insisto em que deve estar comigo.

      – Pensei que tinha voltado para Milão com o papá. A última coisa que Maeve precisa neste momento é de se encontrar com ela.

      – Infelizmente, parece decidida a ficar. Mas não te preocupes, eu posso lutar com ela. E Lorenzo também, portanto não deixaremos que se intrometa.

      Dario sabia que era verdade.

      – Agradeço-vos muito aos dois que me estejam a ajudar tanto. Dá um beijo ao Sebastiano por mim, eh? Ia vê-lo, mas…

      – Não – interrompeu a irmã. – É importante que esta noite fiques em casa com Maeve. Seria horrível se despertasse a meio da noite e não soubesse onde está.

      Quanto tempo duraria aquilo?, questionou-se Dario depois de desligar. O doutor Peruzzi aconselhara paciência, mas ele nunca tinha sido um homem particularmente paciente.

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