Recordações de um amor - Uma amante temporária. Emma Darcy
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Uma vez, não há muito tempo atrás, Maeve desejara-o como ele a desejava. E, à noite, na piscina, faziam amor com uma urgência que alcançava o desespero. Ele enterrava a sua boca na de Maeve por medo de que alguém a ouvisse gritar de prazer… ele continha-se, esperando prolongar o encontro até que não pudesse aguentar mais. E depois deixava-se ir, com uma urgência e um ardor que quase faziam com que o seu coração parasse.
Então, porque é que estava sozinho agora? Porque é que Maeve estava a dormir num quarto que não era o do casal?
Um som quebrou o silêncio da noite, mais próximo do que o murmúrio das ondas, um passo tão hesitante que poderia ter pensado que era a sua imaginação se não viesse acompanhado por uma fragrância que conhecia tão bem: bergamota, junípero e tangerina siciliana com um toque de alecrim. A fragrância de Maeve. Sabia porque ele mesmo a tinha comprado para ela.
Quando voltou a cabeça encontrou-a na soleira da porta, usava uma roupa larga que a fazia parecer ainda mais frágil. Nunca lhe tinha parecido mais etérea, mais desejável.
– Pensei que estavas a dormir.
– Não conseguia dormir.
– Demasiadas emoções?
– Talvez – Maeve deu um passo em frente. – Ou talvez tenha dormido demasiado e já esteja na hora acordar.
Capítulo 3
Dario permanecera imóvel, olhando para ela com uma expressão tão indecifrável que Maeve quase perdera a coragem e voltara para o seu quarto. Para a sua suíte, decorada em tons suaves, a mais luxuosa que alguma vez vira. A casa de banho tinha um banho turco e uma banheira suficientemente grande para duas pessoas. Entre a casa de banho e o quarto havia uma sala e lá fora, no jardim, em frente ao mar, um jacuzzi.
Um oásis de tranquilidade e, no entanto, Maeve não era capaz de a encontrar. Desde que entrara na casa sentia-se embargada por uma sensação desoladora. Sentia-se vazia, sozinha.
Alguma coisa horrível tinha acontecido ali, alguma coisa que ia além de um casamento com problemas. E a sensação de que tinha havido uma tragédia, alguma coisa que nem sequer queria contemplar, perseguia-a. Aquela villa espectacular ocultava um segredo terrível e Maeve estava decidida a descobrir qual era.
E quisesse ou não, o seu marido teria de lho revelar.
– Não me vais oferecer uma bebida? – perguntou-lhe, embora tivesse o pulso tão acelerado que mal conseguia respirar. Nada de novo, certamente. Tinha vivido grande parte da sua vida com um medo que tinha aprendido a disfarçar.
– Não sei se podes beber álcool.
– Porque não? Era alcoólica?
Dario riu, um som agradável, masculino.
– Não, absolutamente.
– Ah, que alívio. Por um momento receei que fosse uma dessas raparigas que começam a dançar sobre a mesa depois de beber uma cerveja.
– Eu não sabia que bebias cerveja. Preferes champanhe e nunca mais de um copo ou dois. Além disso, também nunca te vi a dançar sobre uma mesa.
– Então porque é que não me queres dar uma bebida?
– Não é bom misturar a medicação com o álcool.
– Não estou a tomar nenhuma medicação. Há semanas que não tomo nada.
– Estou a ver – murmurou Dario, passando uma mão pelo queixo. – Nesse caso, fazemos um trato: vamos jantar e abro uma garrafa do teu champanhe favorito.
– Muito bem. Além disso, tenho fome.
– Óptimo! – ele sorriu. – Se me perdoares um momento, direi à cozinheira que seremos dois para jantar.
– Sim, claro.
Maeve saiu para o jardim, com as pernas trémulas, e deixou-se cair sobre uma rede.
Dali podia ver uma enorme piscina infinity estrategicamente colocada de forma a parecer que ia agarrar-se à beira de um precipício. Uma ilusão, é claro, que só os muito ricos podiam permitir-se. Mas a profusão de buganvílias em redor era obra da natureza.
Dario voltou alguns minutos depois com uma garrafa de champanhe e, depois de o servir, tocou com o seu copo no dela.
– Salute.
– Salute. E obrigada.
– Porquê?
– Por tudo o que fizeste por mim. No hospital disseram-me que enviavas flores todos os dias e que pagavas as contas.
– Sou o teu marido, Maeve.
– Sim, bom, sobre isso…
– Relaxa, cara. Não mencionei a nossa relação como um prelúdio para exigir os meus direitos conjugais.
– Ah! – murmurou Maeve, engolindo a desilusão juntamente com um gole de champanhe. Não queria fazer amor com um homem que não conhecia, mas que ele se mostrasse tão disposto a manter as distâncias também não era exactamente lisonjeador. Por outro lado, o que podia esperar?
– Posso não me recordar de ter estado casada contigo, mas não sou tola. Sei que pareço um espantalho…
– Estás a recuperar de um acidente que quase te custou a vida. Não podes esperar ter o mesmo aspecto que tinhas antes.
– Mas o meu cabelo… – Maeve tocou nos patéticos restos do que uma vez fora uma linda cabeleira.
Quando Dario lhe estendeu uma mão para agarrar a dela, o toque provocou uma espécie de descargas eléctricas num lugar íntimo que a fez fechar as pernas, como uma virgem a defender a sua inocência.
Felizmente, ele não podia ler os seus pensamentos ou, se podia, não gostou da direcção que tinham tomado porque soltou a sua mão em seguida.
– Tens um cabelo lindo. Faz-me recordar o amanhecer ou o cetim.
– Está demasiado curto.
– Eu gosto de o ver curto… assim vê-se mais a tua cara que, como o resto em ti, é linda.
Maeve sabia que não era verdade porque, depois de tomar banho, tinha procurado alguma coisa que lhe ficasse bem e ficava-lhe tudo largo. Havia roupa interior em gavetas com tampa de vidro, prateleiras para sapatos. Muitos vestidos, saias e calças, tudo posto em cabides forrados. A julgar pela quantidade de roupa informal, Pantelleria não parecia ser um lugar onde fosse necessário andar demasiado arranjado.
A qualidade da roupa, no entanto, era inegável. Todos os vestidos eram de marca, com um corte elegante e feitos com tecidos caros. Maeve tinha a moda no sangue e, embora tivesse esquecido tudo o resto, continuava a ter bom olho para o estilo.