Mais do que um filho secreto. Кейт Хьюит
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– Neste edifício vazio, a estas horas e a beber sozinho.
– Estava a trabalhar.
Até as lembranças amargas começarem a embargá-lo, como acontecia naquele dia todos os anos. E em muitos outros dias se ele o permitisse.
– Trabalha aqui? – perguntou ela, incrédula.
– Não de forma habitual. Contrataram-me para me encarregar de uma certa operação.
– Que tipo de operação?
Ele hesitou porque, embora a aquisição fosse de conhecimento geral, não queria inspirar rumores. Porém, então, decidiu que Maisie, certamente, não conhecia nenhum dos empregados, de modo que era inofensiva.
– Dedico-me a avaliar os riscos de uma aquisição e tento minimizar as perdas e os danos durante a mudança de poder.
– Esta empresa foi adquirida por outra?
– É verdade. Conhece alguém que trabalhe aqui?
– Só as empregadas da limpeza. Os nossos postos de trabalho estão em perigo? – perguntou ela, sem conseguir disfarçar o seu medo.
– Não, não me parece. Seja quem for o proprietário, terá de limpar os escritórios.
– Ah… – murmurou ela, deixando escapar um suspiro de alívio. – Ainda bem.
– Brindamos a isso? – sugeriu Antonio. – Os vossos são dos poucos empregos que não se verão afetados pelas mudanças.
– Ena, é uma pena.
– Mas não para ti.
– Não, não.
Ele levantou o seu copo.
– Tchim-tchim.
Maisie bebeu um gole de uísque, fazendo uma careta quando o álcool potente lhe queimou a garganta.
– O que significa isso?
– É um brinde italiano.
– Ah… É italiano?
– É verdade.
– O uísque é muito forte, não estou habituada.
– Ena, agora, sinto-me culpado…
Antonio não acabou a frase. «Culpado.» Sentia-se culpado por tantas coisas… Coisas que não podia mudar. Coisas que nunca esqueceria.
– Nunca estive em Itália. É bonita?
– Algumas cidades são lindas.
Maisie bebeu outro gole de uísque.
– Sabe a fogo.
– E queima como o fogo. – Antonio bebeu o resto do uísque, saboreando o ardor e desejando o esquecimento. Se fechasse os olhos, via o rosto do irmão, o seu sorriso, os seus olhos brilhantes, tão jovem e despreocupado. Mas, se os mantivesse fechados, esse rosto mudaria, tornar-se-ia apagado e pálido. Veria o pavimento vermelho de sangue por baixo da sua cabeça, embora nunca tivesse visto o irmão assim. Nunca tivera oportunidade.
Era por isso que precisava de continuar a beber. Para poder fechar os olhos.
– Porque está aqui? – insistiu Maisie, olhando para ele com uma expressão incerta. – Tinha um aspeto tão triste… tão triste como eu me senti muitas vezes.
Essa admissão surpreendeu-o.
– Porque se sentia triste?
Maisie fez uma careta.
– Os meus pais morreram quando eu tinha dezanove anos. Quando o vi, pensei nisso. Parecia… enfim, parecia tão triste como eu me senti nessa altura. Às vezes, continuo a sentir-me assim.
A sua sinceridade surpreendeu-o. Mais do que isso, essa verdade sem enfeites deixou-o sem fala. Finalmente, encontrou as palavras, mas não eram as que esperava.
– Porque eu também perdi alguém e estava a pensar nele esta noite.
O que estava a fazer? Nunca falava de Paolo com ninguém e muito menos com uma desconhecida. Tentava não pensar nele, mas fazia-o sempre. Paolo estava sempre na sua mente e na sua alma. Perseguindo-o, acusando-o. Fazendo-o recordar.
– Quem perdeu? – perguntou ela, com um brilho de compaixão nos olhos.
Era tão encantadora… O cabelo ruivo emoldurava um rosto ovalado de expressão aberta e acolhedora e os lábios suculentos eram tão tentadores… Queria abraçá-la, mas mais do que isso, queria falar com ela. Queria contar-lhe a verdade ou, pelo menos, a parte da verdade que podia revelar.
– O meu irmão – esclareceu, em voz baixa. – O meu irmão mais novo.
Capítulo 2
– Ah… – murmurou Maisie, olhando para aquele homem tão atraente e tão triste que o seu coração se partia por ele. – Lamento muito.
– Obrigado.
– Eu também tenho um irmão mais novo e nem quero imaginar…
Não poderia perder Max. Era a sua única família, mas, agora que acabara o curso, vivia a sua própria vida, exigindo uma independência que a fazia sentir-se ao mesmo tempo orgulhosa e triste. Finalmente, chegara a hora de perseguir os seus próprios sonhos, mas, às vezes, era uma ocupação muito solitária.
– Mas perdeu os seus pais – disse ele, pondo as mãos nos bolsos das calças enquanto se dirigia para a janela para olhar para o céu. – Como aconteceu?
– Um acidente de viação.
Maisie reparou que Antonio ficava com os ombros tensos.
– Um condutor bêbado?
– Não, alguém que conduzia a demasiada velocidade. Passou um sinal vermelho e bateu de frente no carro dos meus pais. – Maisie respirou fundo. Cinco anos depois, continuava a partir-lhe o coração. Já não era uma ferida aberta, mas uma chaga antiga e profunda que seria sempre parte dela. – O único consolo é que morreram no ato.
– Que rico consolo…
– Pelo menos, é qualquer coisa – replicou ela. Às vezes, era a única coisa que tinha. – Como é que o seu irmão morreu?
Antonio demorou um instante a responder, como se estivesse a ponderar o que ia dizer, a debater o que podia contar-lhe.
– Do mesmo modo – replicou, finalmente. – Um acidente de viação, como os seus pais.