Uma esposa para o príncipe. Maya Blake
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A mãe apoiou as mãos sobre a polida superfície da secretária e olhou-o nos olhos.
– Chegou a hora, Remirez.
Remi fez um esgar. A sua mãe não costumava tratá-lo pelo seu nome próprio completo. Em pequeno, isso nunca era bom sinal e continuava a não o ser.
Incapaz de permanecer sentado, levantou-se e andou de um lado para o outro frente à secretária.
– Quanto tempo tenho? Semanas, meses?
Não podiam ser anos. Já lhe tinha dado dois anos e, ultimamente, passara a ideia de que era altura de esquecer e seguir em frente.
– Gostaria de anunciar a minha renúncia ao trono durante o próximo festival do solstício – disse a mãe. Na terceira semana de junho.
– Dentro de três meses – murmurou Remi.
A realidade foi como um balde de água fria.
– E isso significa que temos pouco tempo. Temos de ter tudo em ordem antes de fazer os anúncios reais.
– Anúncios, no plural?
– Não vou renunciar apenas ao trono, Remi. Também me vou demitir dos meus deveres oficiais durante algum tempo.
Isadora Montegova não era só a rainha, também era membro do Parlamento.
– Vais renunciar? Porquê?
– Os últimos anos têm sido muito difíceis para mim e preciso… de afastar-me um pouco de tudo.
Se alguém tinha direito a retirar-se por algum tempo era a sua mãe, que não só tinha suportado estoicamente a repentina morte do esposo, como o escândalo que se seguiu ao descobrir-se o segredo que ele tinha guardado durante décadas.
Mas, na intimidade, Remi tinha visto quanto isso a magoava. E ele mal tinha conseguira controlar a fúria ao descobrir que o pai que adorava fora infiel. Com o passar dos anos a ira transformara-se num surdo ressentimento, mas nunca desaparecera. Porque, além do mal que causara à mãe, a descoberta provocara o caos e a confusão no reino durante anos. Uns anos muito difíceis para a sua mãe, para ele e para Zak, o seu irmão mais novo.
Segredos e mentiras. Aí estava um cliché que só se percebe quando nos acontece a nós e toda a gente fica a saber.
– E isso leva-me ao problema seguinte – disse a rainha então, agarrando numa pasta que deslizou pela secretária.
E ali, real e palpável, estava o mais recente motivo da angústia da sua mãe.
Jules Montegova.
O rude meio-irmão que lhes tinha sido apresentado momentos após o enterro do seu pai. Um adolescente, na altura, um jovem de vinte e oito anos agora, resultado de uma aventura ilícita do seu pai enquanto estava em Paris em funções diplomáticas. A paternidade fora provada graças a um discreto teste de ADN.
Jules era o escândalo que quase levara à queda da monarquia de Montegova. Os paparazzi tinham andado como loucos, tentando descobrir mais segredos.
O escândalo teria sido mais suportável se Jules não tivesse sido uma constante aflição desde que chegara a Montegova dez anos antes.
Remi olhou para fotografia e apertou os dentes ao ver os olhos vidrados e o aspeto desalinhado de bêbado.
– Que fez ele agora?
A rainha Isadora torceu os lábios.
– Deverias perguntar o que não tem feito. Há três semanas gastou uma fortuna em Monte Carlo, depois foi para Paris e continuou a jogar durante quatro dias. O tesoureiro de palácio ficou perplexo quando recebeu as faturas. Há dez dias apareceu em Barcelona e foi de penetra a uma festa que o duque Armando organizara para a sobrinha. Desde então está em Londres, e nos últimos dias em companhia desta mulher – disse a mãe, apontando para umas fotografias.
Em todas elas aparecia a mesma mulher, de cabelo loiro, pernas longas, brilhantes olhos verdes, lábios carnudos e um corpo de fazer parar o trânsito. Era impressionante. Com aquele sorriso poderia acender uma lâmpada de dez mil volts.
Mas havia muitas mulheres como ela no mundo de Remi, só aparência e nenhuma substância. Numa das fotografias exibia literalmente a roupa interior, como se não se importasse que o mundo inteiro pudesse ver a tanga de renda enquanto lançava os braços ao pescoço do seu meio-irmão.
Remi analisou-as, em silêncio. Olhou para o nariz respingão, os sensuais lábios, as maçãs do rosto elevadas, o delicado queixo, os ombros bronzeados e a atraente curva dos seus seios. Umas pernas intermináveis completavam o pacote.
Era fabulosa, pelo menos fisicamente, mas Remi tinha a certeza de que teria muitas falhas noutros aspetos. Exceto talvez em…
– Quem é? – perguntou, irritado com os seus próprios pensamentos. Que importava como fosse a fulana na cama?
A sua mãe voltou a sentar-se.
– Os detalhes estão na outra página. O resto continua a ser um pouco impreciso, mas já vi o suficiente para saber que é um problema. Para começar, Jules não costuma ficar num lugar mais do que alguns dias e está há duas semanas em Londres. E, desgraçadamente, estas são as fotografias menos ofensivas. O que há entre eles tem de terminar agora mesmo, mas Jules recusa-se a voltar para Montegova – a rainha deixou escapar um suspiro. – Não sei como, mas tenho de encontrar uma maneira de o meter na ordem.
Remi olhou para a última página do relatório, a descrição da mulher que acompanhava ultimamente o seu meio-irmão resumida em quatro linhas.
Madeleine Myers
Empregada de café
Vinte e quatro anos
Deixou a universidade sem terminar os estudos
– Queres que eu me encarregue disso? – perguntou-lhe.
Pelo bem do país, as palhaçadas do seu meio-irmão tinham de terminar.
– O Jules não tem interesse em ser membro da família real a não ser para ter entrada facilitada em casinos e festas, mas isto não pode continuar. Ele finge, mas eu sei que te respeita. Até diria que te receia. A ti, Remi, ele dará ouvidos. E tu és o único que pode resolver a situação discretamente – a rainha aclarou a garganta. – Não podemos permitir-nos outro escândalo quando estás prestes a anunciar o teu casamento.
Remi ficou sem fala durante uns segundos.
– O quê? – exclamou quando recuperou a voz.
– Não me olhes com essa cara