Atração De Sangue. Victory Storm

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Atração De Sangue - Victory Storm

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adiar os meus planos, porque depois chegava o enésimo contratempo a estragar tudo.

      Devia tê-lo antecipado para o dia anterior.

      Assim dei por mim a não saber o que fazer.

      Acabei por optar pela televisão.

      Passou-me a vontade de sair.

      Estava prestes a voltar para o quarto para mudar de roupa, quando de repente, soou a campainha.

      Fui abrir.

      Era Dominick acompanhado de dois homens altos e maciços, vestidos de negro com o desenho de uma cruz branca com uma gota vermelha ao centro, bordado no bolso do casaco.

      Fiquei tão curiosa com aqueles dois endemoniados, nunca antes vistos, imóveis perante a porta da minha casa, que não prestei atenção à voz transtornada do padre Dominick, que me empurrou bruscamente para dentro de casa e gritou o nome da minha tia.

      «Cecília, têm que se ir embora! Agora!» gritou o padre Dominick aterrorizado.

      «O que está a acontecer?» perguntou-lhe a tia, tentando não mostrar a sua angústia.

      «Eles sabem tudo e estão a chegar!» gritou novamente o padre Dominick.

      «Eles quem?» intrometi-me alarmada.

      Ninguém me respondeu, mas percebi que a tia sabia a quem o padre se referia, porque levou a mão direita à boca, para tentar sufocar um grito.

      «Mas como é possível?» sussurrou a tia com um fio de voz.

      «Assassinaram-no! Assassinaram o cardeal Montagnard, depois de o terem feito confessar! Agora eles sabem tudo e vocês não estão mais seguras. Virão procurá-las e quando o fizerem, apanharão a Vera e vão matá-la».

      Eu? Mas o que tinha a ver com isto tudo?

      Estava tão chocada que não consegui abrir a boca.

      «Dispararam-lhe em vez de usarem o seu habitual modo de atacar. Por isso, a Ordem levou tanto tempo a perceber quem era o culpado do homicídio. De certeza que foi o Blake. Só ele e o seu bando são capazes de um crime semelhante. Ninguém sabe o que aconteceu realmente, mas ao que parece o cardeal contou tudo ao Blake, provavelmente sob tortura» continuou o padre Dominick.

      «Mas é terrível!».

      «Pois e agora devem fugir. Já vos reservei um quarto num hotel em Dublin. Quando chegarem, receberemos novas ordens do cardeal Siringer, que nos quer encontrar».

      «Mas como fazemos?» suspirou a tia abalada.

      Naquela quinta estava a sua casa, a sua vida.

      E também a minha.

      «Temos que partir imediatamente. Vamos viajar toda a noite, se necessário. Seremos escoltados por dois membros de confiança da Ordem, sob coordenação do cardeal Siringer, que nos levarão primeiro ao hotel e depois ao lugar prefixado para o encontro. Por isso, mexam-se! Levem o mínimo indispensável e vamos embora!» recomeçou a gritar o padre Dominick.

      Por alguns segundos, que me pareceram horas, a tia e o padre olharam-se intensamente nos olhos, depois disso, como que movida por uma força inexplicável, a tia agarrou-me por um braço e arrastou-me pelas escadas até ao meu quarto.

      Em frente à porta, abraçou-me e sussurrou-me docemente ao ouvido: «Não te preocupes. Estarei sempre presente para te defender. Não permito que ninguém te faça mal. Foi assim por dezassete anos e será sempre, enquanto for viva».

      «Tia, o que está a acontecer?» consegui perguntar baixinho.

      «Está calma. Agora vai para o teu quarto. Tens três minutos para pegares na mala que está debaixo da tua cama e enchê-la com aquilo que te pode ser útil nos próximos dias. Quando estivermos longe daqui te explicarei tudo. Prometo-te».

      Não tive outra escolha.

      Corri para o meu quarto, abri o guarda-roupa e comecei a encher a mala que tirei de debaixo da cama, com camisolas e calças. Alguma roupa interior, o estojo de maquilhagem e as minhas poupanças. Estava prestes a fechar a bagagem, quando notei a foto que tinha sobre a mesa-de-cabeceira perto da cama. Era uma foto minha com a tia abraçadas em frente à cancela da quinta.

      Adorava aquela foto tirada pelo Ahmed há alguns anos atrás.

      Coloquei-a também e fechei o zip da mala.

      Saí do meu quarto, olhando-o mais uma vez. Aquele tinha sido o meu quarto de infância, o meu refúgio.

      Tinha esperança de um dia poder voltar ali, mas alguma coisa me dizia que aquele era um adeus.

      Fechei a porta do quarto atrás de mim com um véu de tristeza.

      Mal desci para o piso inferior, o padre Dominick agarrou-me pelas costas e arrastou-me para fora de casa em direção a um carro negro, que estava estacionado em frente à cancela da quinta.

      Mal me viram, os dois homens desconhecidos entraram no carro e o mais forte pôs-se ao volante.

      «Quem são aqueles dois?» perguntei.

      «Não há tempo para explicações» abreviou o padre, fazendo-me entrar no carro, para depois apressar-se a ajudar a tia, que estava a dois passos da viatura. Nesse instante, chegou Ahmed.

      «Ahmed, chegou o momento do qual falámos com frequência. Adeus» a tia cumprimentou-o, pouco antes de entrar no carro empurrada pelo padre Dominick.

      «Fechar a porta e partir. Adeus, Cecília. Vera, vou ter saudades tuas» cumprimentou-nos o Ahmed com um ar triste.

      «Adeus, mas talvez nos voltemos a ver» confortei-o, mas ele sacudiu a cabeça e foi-se embora, no mesmo instante em que a BMW negra também partiu.

      Senti uma onda de infelicidade propagar-se no meu coração.

      Comparando com aquilo, o que tinha sentido pelo Kevin depois de ter sabido do seu futuro casamento, parecia uma ninharia.

      Gostava muito do Ahmed e nunca pensei que um dia, ficaria sozinha.

      Mal o carro partiu a toda a velocidade, senti o suspiro de alívio da tia e do Dominick.

      Apenas eu permanecia tensa como uma corda de violino.

      «O Ahmed não vem connosco?» tentei perguntar.

      «Não, Vera. O Ahmed tem que ficar a tratar dos nossos assuntos. Dará a casa a uma instituição de caridade e avisará a escola da tua partida, informando-a da tua transferência inesperada devido a problemas de saúde e depois partirá para a Tunísia com o dinheiro que lhe deixei numa conta corrente particular, para ser usado só em caso de necessidade. Na verdade, há anos que isto está tudo planeado» explicou-me a tia, acariciando-me a cabeça.

      Tudo isto era ainda incompreensível para mim. Mil pensamentos e frases pronunciadas giravam na minha mente a uma velocidade incontrolável. Não conseguia memorizar um pormenor, que depois desaparecia para dar lugar a outra coisa qualquer.

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