Pintar Com O Dragão. Olga Kryuchkova

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Pintar Com O Dragão - Olga Kryuchkova

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      Mas por outro lado as cortesãs tinham de comprar cosméticos e quimonos para elas próprias. Mas compensava bastante. E era assim que poucas se conseguiam salvar a si mesmas.

      ... Quanto às classes sociais, estas não estavam fortemente enraizadas na sociedade de Yoshiwara. Qualquer plebeu com dinheiro suficiente era servido de forma igual a um samurai. A permanência de samurais em Yoshiwara não era aprovada, mas eles iam lá na mesma com alguma frequência. A única coisa que lhes pediam era que deixassem as suas armas à entrada do portão.

      Ao mesmo tempo, Yoshiwara era uma zona de comércio auspiciosa. A moda na cidade estava sempre a mudar, o que criou uma grande necessidade de consumo de novas roupas e joias. Claro que, tradicionalmente, os trabalhadores do distrito da Luz-vermelha estavam autorizados a usar apenas modestas roupas azuis. Esta regra raramente era seguida. Por exemplo, as cortesãs da mais alta classe, oiran e tayu vestiam frequentemente quimonos bastante vistosos, e o seu cabelo adornado com elegantes e ostentosas joias. A moda representava uma importância tal em Yoshiwara que frequentemente servia de palco às novas tendências, que mais tarde eram encontradas em todo o Japão.

      A propósito as cortesãs estavam dividadas por classes e estatutos. Estas incluíam: yūjo — "mulheres para prazer" ou simplesmente prostitutas. Também havia jovens aprendizas kamuro, aprendizas mais velhas shinzô, cortesãs de classe mais baixa hashi e cortesãs de classe alta kôshi (este título era considerado um pouco mais baixo que tayu). E por fim, tayu e oiran — as cortesãs da mais alta classe e mentoras de oiran, yarite. Também havia prostituição masculina.

      Para além das cortesãs também havia geishas cujo nome significa "pessoas da arte" e as suas aprendizas as maiko. Ao contrário das cortesãs, as geishas estavam proibidas de enveredar pela prostituição. Assim sendo, elas simplesmente entretinham os seus visitantes com danças, canções, cerimónias de chá e conversavam. Contráriamente às cortesãs, que apertavam o obi (sash) com um simples nó à frente, a geisha apertava o nó atrás. E a geisha apenas podia apertar ou desapertar o nó do obi com a ajuda de uma criada.

      E é óbvio que, em Yoshiwara, junto com os clientes habituais havia visitas de vários artistas para desenharem os retratos das beldades, bijin-ga.

      Um desses artistas foi Tokitarō, mais conhecido pelo seu pseudónimo Katsushika Hokusai.8. Muitas pessoas o tratavam assim.

      Hokusai nasceu há trinta e oito anos, num subúrbio pobre chamado Katsushika, na família de um artesão. A sua mãe era uma concubina do seu pai, desta forma, o rapaz nunca poderia ser herdeiro. Quando ainda era muito jovem foi entregue a um homem que fabricava espelhos para os shogun.

      Hokusai começou a desenhar muito cedo, pois o trabalho do seu mentor incluía a pintura dos mesmos.

      Aos dez anos, com o nome de Tetsuko, o rapaz tornou-se vendedor de livros. Ele deixou o seu mentor anterior pois queria encontrar o seu próprio caminho criativo. Até certo ponto, trabalhar numa livraria ajudou-o — aí aprendeu a ler e a escrever, e aprendeu mandarim.

      Contudo, as suas pesquisas criativas não terminaram ali, mas pode dizer-se que foi ali que começaram. A partir dos treze anos, o futuro Hokusai começou a trabalhar no atelier do gravurista. E nas gravuras, enquanto fazia várias experiências de iniciante.

      Mas o trabalho de gravurista também parecia bastante limitante para o futuro Hokusai. Estas também eram limitativas das suas próprias visões artísticas. Continuando, aos dezoito anos Hokusai tornou-se aprendiz no estúdio de Katsukawa Shunshō9, o mestre de ukiyo-e — o mundo pairando.

      Hokusai provou ser um aprendiz bastante capaz, um trabalho notável segundo o seu professor. Para Shunsyo ele era o seu preferido e distinguia-o do resto dos seus pupilos. Hokusai podia até mesmo assinar os seus trabalhos com o pseudónimo Shunrō, criado pelo próprio professor.

      A partir dos vinte e cinco anos, Hokusai obteve autorização para publicar os seus próprios trabalhos. E esta foi a sua primeira experiência pessoal com várias formas gravura teatral. O jovem artista desprezava os retratos dos atores famosos dessa época, a sua popularidade foi comparável à do seu mestre, Shunshō. E assim Hokusai começou o seu próprio estilo de trabalho.

      Para além dos retratos de atores de teatro, ele também ilustrava livros. As pluralidades de géneros exigiam que o artista retratasse várias cenas: ambas da vida quotidiana ou da história. Mais precisamente as segundas, pois eram necessárias para retratar a história do Japão.

      Shunshō faleceu quando Hokusai fez trinta e dois anos. A escola foi liderada por um antigo aprendiz do artista falecido, Katsukawa Shun'ei. Foi na mesma altura que Hokusai saiu da escola. Sentia um pesar devido aos seus deveres de aprendiz; faltava-lhe liberdade criativa.

      Paralelamente, sair da escola foi difícil para Hokusai. Durante os dois anos seguinte (1793-1794), o artista viveu em pobreza e fez alguns negócios dúbios por falta de dinheiro. Contudo, foi estudando outras escolas e estilos artísticos, desenvolvendo um estilo completamente novo. Até certo ponto estes dois anos tornaram-se um ponto de viragem na sua carreira.

      E devido a isso a vida de Hokusai ficou mais ou menos estável. Ele criou várias pinturas, desenhou ilustrações para livros. Três anos mais tarde o artista começou a assinar com o seu próprio pseudónimo, Katsushika Hokusai.

      Apesar das suas buscas criativas o artista não pôs de parte a hipótese de se casar, por duas vezes. A primeira mulher de Hokusai morreu cedo, deixando-o com duas crianças. A segunda mulher até à data está viva e bem de saúde. Ao todo Hokusai teve cinco crianças: três filhos e duas filhas.

      Os seus filhos já eram crescidos e tinham as suas próprias vidas. Mas as suas filhas ainda não eram adultas. A filha mais velha chamava-se Tatsujo, e tinha feito dez anos há pouco tempo. E o nome da sua filha mais nova era Ōi10,e tinha feito sete anos há pouco tempo.

      As irmãs não se davam muito bem, brigavam e discutiam com frequência. E naquela manhã de primavera a família Katsushika, numa casa antiga, mas um lar bem apresentável, acordou com uma discussão. No espaço que estava decorado pelo tatami e decoração simplista, ouviam-se os gritos agudos de raparigas. Embora a sala fosse espaçosa, talvez a sala não tivesse espaço para mais nada naquele momento. Nem móveis requintados, nem tão pouco decorações requintadas. A sala era tão comum quanto qualquer outra sala típica nas casas dos cidadãos de Edo. Mas havia duas notáveis pinturas com paisagens nas paredes: uma com macieiras em flor e outra com o mar. Claro que foi Hokusai quem as desenhou.

      "Ōi, tu não sabes apertar um obi! já tens sete anos, mas continuas a pedir ajuda à mãe!" Dizia a Tatsujo num tom condescendente. Ela era uma rapariga com a altura certa para a sua idade com longos cabelos negros, elegantemente apanhados, e vestia um quimono rosa-claro. E lançando um olhar presunçoso a Ōi disse: "Mas como tu sabes, se uma mulher não sabe como apertar um obi, é como se não soubesse nada!"

      Indignada a irmã mais nova disse: "Eu sei apertar o obi!" Parecia demasiado nova para a sua idade e era mais alta do que a Tatsujo. Ela vestia um quimono amarelo e trazia o cabelo apanhado num rabo-de-cavalo. "Até mesmo com um simples nó eu consigo!"

      "Não consigo perceber como, não consigo perceber como!" A Tatsujo continuava a sua provocação.

      Um grito de guerra foi solto por Ōi, uma batalha estava prestes a começar. Felizmente, Okiko a mãe elas, interviu a tempo. Rigidamente a mulher disse às suas filhas:

      "Vocês são raparigas, mas comportam-se como rapazes! E enquanto forem assim indelicadas. Ou continuarem com este comportamento, nenhuma das duas

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