Pintar Com O Dragão. Olga Kryuchkova
Чтение книги онлайн.
Читать онлайн книгу Pintar Com O Dragão - Olga Kryuchkova страница 6
Os pais do menino, Ōi e Satsuki, bem como outros amigos prantearam amargamente a morte da criança. Mas todos sabem que de nada servirão as lágrimas de tristeza...
Um ano depois da morte de Shotaro acontece outro terrível acidente. O pai da Satsuki, o mercador, ficou na falência, por conta de um negócio que correu mal. Ao tentar melhorar o seu negócio, pediu dinheiro emprestado a uns agiotas, esperando melhorar as suas contas e conseguir pagar a dívida. Contudo, ele não foi bem-sucedido...
Por forma a conseguir pagar as suas dividas, para conseguirem ter dinheiro para dar de comer aos irmãos mais novos da Satsuki tiveram de tomar uma decisão terrível. Vender a sua única filha Satsuki para o distrito da luz-vermelha. Pela formosa menina de oito anos de idade e letrada, pagaram um valor avultado.
Quando levaram a menina de casa, ela chorava desesperadamente, ao mesmo tempo sabendo que a sua família não tinha alternativa. Ōi, sem suspeitar de nada, tinha ido à procura dela para brincar, e involuntariamente assistiu a tudo. Um calafrio percorreu-lhe todo o corpo, ao aperceber-se do que se estava a passar. Ela apressou-se a implorar ao esclavagista para deixar a Satsuki ficar. Claro que a única coisa que as tentativas de Ōi para salvar a amiga alcançaram foi um sorriso de condescendência do esclavagista.
"Não te preocupes, estou certo de que a tua amiga será comprada por um bordel de renome, e tornar-se-á tayu ou oiran no futuro. As meninas bonitas são sempre mais populares," disse ele.
"Qual é o valor da divida da Satsuki? Eu pago, mas deixem-na ir!" A Ōi tirou do cabelo um travessão caríssimo e deu-lhes, tinha-lhe sido oferecido pelos seus pais no seu dia de aniversário. E deu-o ao homem.
"Ōi a divida é demasiado alta," murmurou Satsuki por entre as suas lágrimas. "Nem uma dúzia de travessões chegariam para tal."
Ao presenciar isto, o austero coração do esclavagista estremeceu um pouco. Raramente testemunhava tamanha determinação. E disse a única coisa que poderia dizer naquele momento:
"Menina, o teu travessão não é suficiente, a divida é muito alta. A Satsuki será uma aprendiza de tayu ou oiran, eu prometo."
Ōi incapaz de conter as suas lágrimas desfez-se num pranto. Era um chorar de amargura tão forte que nem os pais de Satsuki conseguiram conter as suas próprias lágrimas. Embora o pai ainda se conseguisse conter, a sua mãe, pálida que nem um fantasma, desatou a chorar.
Finalmente depois de se conseguir acalmar um pouco, Ōi abraçou a sua amiga, Satsuki despediu-se e foi-se embora juntamente com o esclavagista. Ōi ficou a vê-la durante muito tempo até que ela desaparecesse por completo. E foi aí que se virou e olhou com crueldade para os pais da sua amiga.
"Como é que conseguiram fazer isto à vossa própria filha?" gritava a menina revoltada. "Pediram demasiado dinheiro ao agiota não foi?"
"Tens toda a razão," concordou o pai da Satsuki. O remorso estava-lhe espelhado na face. "Não tivemos escolha..."
"Há sempre uma escolha!" gritou novamente Ōi enraivecida. Ela estava revoltada com os pais da amiga. "Vocês não podiam fazer um empréstimo! Ou vender a Satsuki, mas sim um dos vossos filhos mais novos! Nas casas de chá em Kagema, os prostitutos são sempre precisos!"
Os pais da Satsuki olhavam estupidificados para si próprios. Não lhes ocorreu venderem um dos seus potenciais herdeiros. Mais ainda eles não faziam ideia como é que uma menina de oito anos sabia tais detalhes. De facto, ela ouvia falar constantemente sobre prostitutos através do seu pai, este ia com regularidade a Yoshiwara para pintar não só para pintar bijin-ga com cortesãs famosas, mas também retratos de Kagema.
Entretanto, a Ōi voltou a desfazer-se em lágrimas e correu para a sua casa, deixando os pais da Satsuki a sofrer sozinhos. Sentia uma indignação e sofrimento que só queria gritar, uivar e bater a quem quer que cruzasse o seu caminho. A menina lutava por conter esse impulso.
O caso da Satsuki fê-la pensar bastante. De repente ela apercebeu-se do quão desprotegidas estavam as mulheres na sociedade, a situação era ainda mais precária do que ela tinha imaginado. E jurou para com a sua consciência de que iria fazer de tudo para ser independente. E que se algum dia tivesse filhos, nunca os venderia, como se fossem gado. Seria melhor viver em pobreza com eles. E certamente irá reencontrar e resgatar a Satsuki. A Ōi ainda não sabia que o seu rendimento nunca lhe iria permitir realizar tal façanha.
Passaram-se dois anos desde esses eventos (e três desde o casamento dos ratos). Era um verão quente e abafado. A Ōi não sabia quase nada da Satsuki. Embora Hokusai tenha dito à sua filha que tinha visto uma menina parecida com ela em Yoshiwara, próxima de uma oiran. Aparentemente, Satsuki é uma sortuda, e tornou-se aprendiza de uma cortesã da classe alta, isto se podemos chamar sorte a este destino. Mas o artista não a voltou a encontrar, pois quando voltou para pintar um bijin-ga, ele falou mais com aprendizas mais velhas e as próprias cortesãs. Era muito difícil este conseguir falar com as aprendizas mais novas.
... Nessa noite, como era seu costume, a pequena Ōi de dez anos dormiu no seu quarto. Próxima dela num outro futon12, Tatsujo dormia pacificamente. Ōi, pensando para si mesma sobre várias coisas, sobre ela própria, e a sua irmã, com quem continuava a ser um pouco traquinas.
Vale a pena lembrar que durante os três anos que se passaram, para além da morte de Shotaro e a partida da Satsuki, muitas coisas mudaram na vida das duas irmãs.
Deveras mais bonita, mais crescida e em tudo a aparentar os seus quinze anos. Também ela se interessou pela pintura e claramente que obteve sucesso nesta área. Mas não era ao desenho que ela queria dedicar a sua vida. Em vez disso, a rapariga que no ano passado celebrou a maioridade sonhava em casar-se. Escolhendo até um candidato decente para tal, o irmão mais velho do Shotaro, Sotaro. Que fez este ano quinze anos, e recíprocava os sentimentos de Tatsujo.
Os pais de Sotaro, bem como, Hokusai e Okiko estavam bastante felizes com o par. Concordavam plenamente em como os seus filhos formavam um par perfeito. Com a maior brevidade decidiram contactar um astrólogo para escolher uma data auspiciosa para a cerimónia do casamento. Para além disso, o vestido de noiva também já estava pronto.
Também a Ōi cresceu durante esse tempo. Por enquanto, não eram claros os traços femininos, mas deixou crescer um longo e esplêndido cabelo. Quando não o usava apanhado, deixava-o cair pelas costas como se fosse um rio negro com vida própria. Quando iluminada pela luz das velas a menina assemelhava-se a uma criatura mítica ou sobrenatural. Ela não suspeitava o quanto a sua irmã Tatsujo a invejava pelo seu belo cabelo, pois ela própria não o conseguia colocar do mesmo jeito.
A Ōi também aprendeu a dominar vários tipos de laços para laçar o obi. Mas contrariamente à Tatsujo, ela nunca sonhou em casar-se. Em vez disso, a menina estava cada vez mais convencida de que iria dedicar toda a sua vida à pintura. Não importa como: Seja apenas a ajudar o seu pai para que dê andamento aos seus trabalhos, ou a desenhar as suas próprias obras.
A opinião de Hokusai, era de que a sua filha mais nova fazia um enorme sucesso no meio artistico, especialmente a desenhar mulheres.
"A Ōi já desenha mulheres muito bem. Se assim continuar, em poucos anos chegará ao meu nível, e mais tarde irá superar-me por completo," o seu pai sorria de felicidade.
Hokusai costumava ficar triste ao pensar que nenhum dos seus filhos se tinha tornado artista. Era por esse motivo que ficava bastante orgulhoso pelas suas duas filhas mostrarem