Poder e sedução. Michelle Smart
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Matteo traíra todos.
– Tem de haver alguma via legal para nos esquivarmos a essa condição. É arcaica.
O vinho, levado pela lei da gravidade, estava a chegar ao chão. Teria de pintar a divisão antes de ter uns inquilinos novos, pensou Daniele, distraidamente. Aquele apartamento de Pisa era dele, mas a irmã vivera lá durante seis anos. No entanto, ia casar-se e viver em Roma e, a não ser que lhe ocorresse alguma alternativa, ele também se veria obrigado a casar-se.
– Efetivamente – concedeu Francesca –, todos sabemos. O Pietro estava a tentar anulá-la, mas não é tão fácil como tínhamos esperado. Demorarias meses, talvez anos, a anular essa cláusula e, enquanto isso, o Matteo poderia casar-se com a Natasha e ficar com a herança.
A maldita herança, o património familiar, entre outras coisas, um castelo de seiscentos anos e centenas de hectares de vinhedos que tinham pertencido à família Pellegrini desde que o príncipe Carlos Filiberto, o primeiro príncipe e ovelha negra da família, pusera a primeira pedra. A família renunciara aos títulos há décadas, mas o castelo continuava a ser a joia da coroa. Para conservar o património intacto, a herança ia para o mais velho dos descendentes masculinos. Isso não fora suficiente para o príncipe Emmanuel II, um príncipe especialmente desumano e louco do século XIX que suspeitava que o filho mais velho era homossexual. Por isso, introduzira a cláusula, ainda em vigor, de que o filho mais velho só poderia herdar se estivesse casado. Além disso, o príncipe Emmanuel devia ter sabido como os costumes sociais evoluiriam porque essa cláusula dizia com toda a clareza que o cônjuge tinha de ser uma mulher.
Essa cláusula arcaica nunca fora um inconveniente porque, ao fim e ao cabo, todos acabavam por se casar. Era o que as pessoas faziam, sobretudo, os aristocratas, mas os tempos, como os costumes sociais, também mudavam.
Daniele era muito novo quando o avô morrera e o pai herdara o património. Além disso, como era o segundo filho, sempre soubera que Pietro herdaria quando o pai morresse e não se importava. Odiava esse castelo cheio de correntes de ar e goteiras que era como um poço sem fundo por onde o dinheiro desaparecia, mas, sobretudo, odiava a ideia do casamento. Durante toda a sua vida adulta, sentira uma satisfação perversa por continuar solteiro, por ser a antítese do Pietro sério e cumpridor.
No entanto, Pietro estava morto.
Durante dois meses, agarrara-se à esperança de que Natasha, a esposa de Pietro, estivesse grávida e esperasse um menino. Então, o filho herdaria o património e ele poderia continuar a viver como sempre gostara de viver.
Efetivamente, Natasha estava grávida, mas, infelizmente, Pietro não era o pai. Começara uma aventura com Matteo antes de o cadáver do marido ter arrefecido. Matteo, o primo que vivera com eles como mais um irmão desde que tinha treze anos. O próprio canalha contara-lhe pessoalmente que ela estava à espera de um filho dele. Nesse momento, só podia seguir dois caminhos. Ou encontrava uma esposa e renunciava a todas as suas liberdades apreciadas para herdar um património que não queria ou o seu primo ingrato herdaria tudo o que o pai e o irmão tanto tinham adorado.
Cerrou os dentes e pensou na mãe, no amor e no orgulho que sentia pela família e por esse património que adquirira ao casar-se aos dezanove anos. Então, compreendeu que só havia um caminho.
– Tenho de me casar.
– Sim.
– E depressa.
– Sim. Pensaste em alguém? – perguntou Francesca.
Sabia como odiava a ideia de se casar e também tinha uma cabeça mais incisiva para os assuntos legais do que Pietro. Se não conseguia pensar numa forma de anular a cláusula sem que Matteo ficasse com tudo, era porque não podia fazer-se.
Prometeu-se que a anularia algum dia, que a próxima geração de Pellegrini não teria de pagar esse preço.
Daniele pensou em todas as mulheres com quem saíra ao longo dos anos. Calculava que as que continuavam solteiras, quase cem porcento delas, correriam para uma loja de vestidos de noiva antes de ele acabar o pedido.
Então, lembrou-se da última, da única que não acabara na sua cama. Tocou no nariz arroxeado. Os pensos que Eva lhe pusera continuavam lá. Também se lembrou da tristeza que se refletia nos seus olhos azuis cristalinos cada vez que olhava para ele.
Fora a sua tradutora durante a primeira viagem a Caballeros, há um mês. Numa ilha onde a cor dominante era o castanho e a desolação, resplandecia como um farol na penumbra ou, pelo menos, o seu cabelo, que apanhara num rabo de cavalo infantil, resplandecera. Era de um tom de vermelho que só podia ter saído de um frasco e contrastava com a sua pele como o alabastro. Devia ter de pôr protetor solar de fator cinquenta para a manter tão branca. O contraste era tão bonito que não conseguia imaginar que outra cor, nem sequer a natural, a favorecesse tanto.
Embora usasse apenas umas calças de ganga velhas e a t-shirt oficial da Blue Train Aid Agency, Eva Bergen era, provavelmente, a mulher mais bonita que conhecera nos seus trinta e três anos de vida e, com toda a certeza, a mais sensual… e odiava-o.
Olhou para a cara de preocupação da irmã e esboçou um sorriso.
– Sim. Conheço a mulher perfeita para me casar.
Uma hora depois, quando saiu do apartamento, pensou que, independentemente do que acontecesse, a mãe estaria finalmente contente com uma decisão que tomara.
Eva ficou pacientemente na fila para entrar no compartimento dos duches. O acampamento tinha uma quantidade limitada de água limpa e racionava-se zelosamente. Transformara-se numa perita em tomar banho em sessenta segundos com água morna de três em três dias. Ela, como o resto da equipa, sentia remorso e alívio quando, a cada três fins de semana, podia ir a Aguadilla e reservar uma quarto num hotel simples. Lá, pago por ela, podia passar horas no duche, pintar o cabelo, fazer a manicura e lavar a pele enquanto tentava sufocar os problemas de consciência por todas as pessoas acolhidas no acampamento que não podiam tirar alguns dias para ter esses caprichos.
Se havia algo que não faltava no acampamento era os telemóveis. Todos pareciam ter um, até as crianças que não tinham mais nada. A moda naquele momento era um jogo grátis com bolas às cores que explodiam e se multiplicavam. Um génio da tecnologia ligara todos os jogadores do acampamento, acolhidos e trabalhadores, para que competissem entre si. Eva, como todos, transformara-se numa viciada e estava prestes a bater o seu recorde e de ficar entre os cem primeiros jogadores. Nesse momento, enquanto jogava na fila para tomar um duche, tinha três adolescentes ao lado que fingiam estar tranquilos, embora a observassem com avidez.
O telemóvel vibrou-lhe na mão, mas ela não fez caso.
– Devia atender – disse Odney, o mais velho dos adolescentes.
– Podem ligar outra vez – replicou Eva.
Odney, com um sorriso malicioso, arrebatou-lhe o telemóvel, carregou no botão para atender e levou-o ao ouvido.
– É o telefone da Eva, como posso ajudá-lo? Em inglês? – perguntou Odney à pessoa que ligava. – Falo muito mal. Quer falar com a Eva?
Eva esticou uma mão, olhando fixamente para ele e aguentando um sorriso. Odney, com um sorriso, devolveu-lho.
– O telemóvel não guardou o jogo… – comentou ele, num tom