Poder e sedução. Michelle Smart
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– Sim. O património está… Está ligado a um fideicomisso muito antigo que só pode ser herdado por um homem casado.
– Isso é legal?
– Demoraria anos a desmontar esse fideicomisso e a adaptá-lo aos tempos modernos. Não tenho anos, tenho de agir já.
– Então, procura outra.
– Não quero outra. As outras são demasiado dependentes e tu és dura.
– Nem sequer me conheces – replicou ela. – Há vinte minutos, achavas que era inglesa.
Era dura porque tivera de ser. Criara uma carapaça para virar as costas à família quando lhe tinham rasgado o coração e quando perdera Johann e descobrira que o coração se rasgava outra vez. Fora um processo natural, não fora conscientemente, não percebera que tinha essa carapaça até há quatro anos, quando estava a viver e a trabalhar em Haia e um colega bêbado a acusara de ser uma cadela insensível. Então, voltara ao pequeno apartamento que partilhara com Johann, olhara-se ao espelho e percebera que o colega tinha uma certa razão. Não era uma cadela, sabia que não era, mas insensível… Efetivamente, olhara-se ao espelho e tivera de reconhecer que já não sentia nada, que estava vazia por dentro.
– Sei tudo o que tenho de saber, querida. Não preciso de saber mais nada. Não quero conversar contigo na cama e que me contes os teus sonhos. Será uma sociedade, não uma aventura. Preciso de alguém pragmático e que mantenha a frieza nos momentos complicados.
Achava que ela era essa pessoa? Não sabia se rir ou chorar. Transformara-se numa pessoa tão fria que alguém podia pensar que aceitaria uma proposta tão carente de sentimentos?
Fora uma pessoa calorosa, sentira o sol, tanto no coração como na pele.
No entanto, o que é que essa proposta dizia dele? Como é que alguém podia ser tão cético sobre o casamento?
– O casamento não é uma brincadeira – replicou ela.
Eva olhava para os maços de notas e para os olhos ardentes de Daniele. Esse dinheiro seria crucial para o acampamento. A Blue Train Agency dependia plenamente das doações e nunca eram suficientes para cobrir todos os projetos.
Esses olhos…
Desviou o olhar e fixou-o no mar, não conseguia acreditar que estava a pensar naquela proposta desatinada.
– Não estou a brincar. Casa-te comigo e ganharemos todos. A tua organização humanitária terá doações garantidas que poderá gastar como quiser, tu receberás um valor em dinheiro ilimitado para gastares contigo própria, a minha família saberá que o património familiar estará a salvo durante outra geração e eu receberei a minha herança. És uma pessoa pragmática, Eva, sabes que o que proponho é muito coerente.
Nem sempre fora uma pessoa pragmática. Fora uma sonhadora, tivera muitas esperanças, mas todas tinham acabado destruídas.
– Não sei. Dizes que não é uma brincadeira, mas também dizes que todos ganharemos. O casamento é um compromisso entre duas pessoas que se amam, não entre duas pessoas que nem sequer gostam uma da outra.
– Os antepassados da minha família têm séculos. Os casamentos que correram melhor foram os que tinham motivos práticos, para formar alianças, não por amor. Nunca quis juntar a minha vida com a de uma pessoa em concreto, mas estou disposto a comprometer-me contigo. Não será um casamento baseado no amor, mas posso prometer-te um casamento baseado no respeito.
– Como podes respeitar-me se estás a tentar comprar-me?
– Não vou comprar-te, querida. Considera esse dinheiro como um incentivo.
– Não serei uma propriedade tua.
Não voltaria a ser propriedade de ninguém. Emancipara-se da sua família assim que fizera dezoito anos, no dia em que deixara de pertencer aos pais, para não continuar submetida às suas regras impostas de uma maneira inflexível. Dobrou a mão esquerda e sentiu a dor fantasma do tendão dos dedos. Os dedos tinham sarado há muito tempo, mas a dor continuava como um espetro do passado, como uma lembrança do que deixara para trás.
– Se quisesse ser dono de uma mulher, não te escolheria.
O mordomo apareceu para levar a sopa antes de ela conseguir responder. Ficou surpreendida ao ver a tigela vazia, pois não se lembrava de ter comido. Esperou que servissem o lombo Wellington para fazer a pergunta seguinte.
– Se aceitar, o que vai impedir-me de ficar com o dinheiro e fugir com ele?
– Não receberás dinheiro para o teu uso próprio até estarmos casados. Segundo a lei italiana, só poderás divorciar-te depois de três anos, mas isso não te impediria de me deixar. Tenho de confiar que não me deixarás sem falar comigo primeiro.
Ele tinha de confiar nela, mas a questão era se ela podia confiar nele.
– Se não queres um casamento tradicional, que casamento queres para nós? – perguntou ela.
Também não conseguia imaginar um casamento tradicional, nem com Daniele nem com ninguém, mas, para sua surpresa, percebeu que conseguia imaginar um casamento por conveniência onde a organização humanitária, que tanto amava, recebia quantias enormes de dinheiro.
Daniele Pellegrini era incrivelmente bonito e o pobre Johann teria dado os dois braços magricelas para ter a sua sensualidade, mas isso era tudo superficial. O seu corpo poderia reagir a ele, mas o seu coração estava a salvo. Daniele não queria uma relação nem conversar na cama, o que unia um casal, forjava a intimidade e deixava uma pessoa exposta ao desengano.
Não voltaria a expor-se a uma situação vulnerável, não podia. Tinham-lhe esmigalhado tantas vezes o coração que a seguinte poderia ser a definitiva.
– Todos vão ver-nos como um casal – respondeu ele. – Viveremos juntos. Visitaremos os amigos e a família e receberemos como um casal.
– Seremos o acompanhante principal um do outro?
– É uma forma fantástica de o expressar. Além disso, algum dia, é possível que sejamos pais…
Eva engasgou-se com a comida, bateu no peito, tossiu ruidosamente e bebeu um gole de água diretamente da garrafa.
– Estás bem…? – perguntou Daniele.
– Não. Achava que tinhas dito alguma coisa sobre sermos pais.
– Disse-o. Se vamos casar-nos, dormiremos na mesma cama.
– E não achas que devias ter-mo dito?
– Não achei que houvesse necessidade de o dizer com todas as letras. Os casais dormem juntos, querida, e eu vou dormir contigo – indicou. – O facto de dormirmos juntos é outro estímulo para que nos casemos.
– Não quero ter relações sexuais contigo.
– Acho que essa é a primeira mentira que me disseste. Não podes negar que te atraio.
– Se me atraísses,