Poder e desejo. Michelle Smart
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Como era costume entre a família italiana, beijaram-se e abraçaram-se efusivamente entre palavras de consolo sussurradas… Até ter de cumprimentar Matteo.
Preparou-se, pôs-lhe uma mão no ombro enquanto lhe punha outra na anca e representaram um gesto inevitável se não quisessem levantar suspeitas.
Quando sentiu a barba incipiente na face, teve de fechar os olhos com todas as forças para tentar não ver a lembrança dessa mesma barba a tocar-lhe no interior da coxa, algo que tinha de esquecer. No entanto, conseguia cheirar a pele e o perfume dele, conseguia sentir a força do corpo, conseguia sentir os caracóis morenos por baixo dos dedos…
Fora um erro enorme, algo que não tinham de expressar com palavras.
Não sabia se era possível odiar-se tanto como ela se odiava. Não devia nada a Pietro, mas…
Simplesmente, não conseguia acreditar que acontecera, não conseguia acreditar que perdera o domínio sobre si própria, não conseguia entender como ou porque acontecera.
Era como se uma espécie de loucura se tivesse apoderado dos dois.
Durante uma hora, deixara de ser a menina que fizera algo para agradar aos pais, que renunciara à vida que desejara e mostrara a mulher que nunca deixara que existisse.
A última coisa em que pensara fora a… proteção, tinham sido néscios e irrefletidos.
Francesca não lhe dissera que viria com o irmão e o primo e não pensara em perguntar-lhe. Daniele e Matteo geriam umas empresas incrivelmente prósperas que os levavam por todo o mundo e pensara que a sua contribuição para o hospital, sobretudo a de Matteo, chegaria mais tarde.
Então, olhou melhor para Francesca e compreendeu porque Daniele, pelo menos, ficara em Pisa. A cunhada parecia mais consumida do que no funeral, melhor dizendo, parecia que se apagara a luz que sempre a iluminara por dentro. Daniele nunca abandonaria a irmã nesse estado.
Francesca também olhou para ela com atenção.
– Como estás? Estás pálida.
– Só estou cansada.
– Seguras as costas, doem-te?
– Um pouco.
A empregada chegou com uma bandeja de café com biscotti e pararam de falar da saúde de Natasha. Sentaram-se ao redor da mesa de sala de jantar onde Francesca deixara os documentos. Natasha já nem sequer se lembrava deles. Estar com Matteo sob o mesmo teto fazia com que o seu cérebro parasse.
Porque viera? Para a torturar?
Aceitara essa tortura cada vez que o vira durante os últimos sete anos. Deixara que a beijasse e depois, algumas horas mais tarde, aceitara casar-se com outro homem e fizera-o à frente dele e de todos. E fora com o primo e melhor amigo. Naquele momento, deveria ter-lhe dito que ia casar-se com Pietro, mas esquecera tudo com o beijo.
As coisas teriam mudado se lhe tivesse dito, tanto nesse momento como semanas antes, quando as intenções de Pietro se tinham tornado claras ou o resultado teria sido o mesmo?
Ligara-lhe e deixara dúzias de mensagens, mas Matteo não atendera nem reagira. Tirara-a da sua vida.
No entanto, se as coisas tivessem sido de outra forma, teria sido mais feliz? Há muito tempo que não pensava assim. Matteo não era o homem que ela pensara que era, nenhuma mulher com a mínima prudência quereria passar a vida com esse homem, a não ser que fosse masoquista. Não só se transformara num homem que adorava o dinheiro desde que achara ter estado apaixonada por ele, como também se tornara lascivo. Nenhum homem que tinha uma mulher diferente todas as semanas quereria assentar com apenas uma.
Daniele tomou as rédeas da reunião e explicou como estava o projeto e que Matteo e ele tencionavam viajar para Caballeros durante as próximas duas semanas. Esperava-se que a construção começasse pouco depois.
– Tão cedo? – conseguiu perguntar ela.
– É Caballeros, não a Europa – respondeu Daniele. – A burocracia não é como aqui.
– Tiveste alguma ideia para a publicidade? – perguntou Francesca.
– Lamento muito, mas não. Vou começar a pensar e envio-vos algumas ideias um dia destes.
Esfregou a cabeça com a esperança de não estar a prometer algo que não ia conseguir cumprir. Quanto mais publicidade tivessem, mais doações receberiam e, quantas mais doações recebessem, mais pessoal poderiam contratar.
Ela, como familiar mais próxima de Pietro, era a responsável. Tudo o que dizia respeito à fundação do marido recaía sobre os seus ombros e, até à data, evitara qualquer responsabilidade… e evitaria todas as responsabilidades, se dependesse dela.
Em algum momento, em breve, teria de pensar nas coisas com clareza, mas, naquele momento, tinha a cabeça tão cheia e dispersa ao mesmo tempo que não conseguiria decidir o que queria comer ao pequeno-almoço.
Não podia continuar assim. Não sabia se era por causa do choque da morte de Pietro ou por causa do que acontecera com Matteo, mas tinha de recuperar a integridade.
Tinha um futuro pela frente e, mais cedo ou mais tarde, teria de decidir o que queria fazer com ele. Até ao momento, e que ela soubesse, passá-lo-ia sozinha. Não voltaria a casar-se, não voltaria a permitir que alguém, nem um homem nem os pais, tivesse o controlo da sua vida.
– Não há pressa. – Francesca fez um ar de cansaço. – No fim da semana que vem, seria bom.
O suplício acabou finalmente. A família levantou-se e ela também tentou, mas enjoou-se tanto que teve de se agarrar à beira da mesa.
Francesca, que estivera sentada ao seu lado, foi a primeira a perceber e agarrou-a pelo pulso.
– Passa-se alguma coisa?
Natasha abanou a cabeça.
– Só estou cansada. Certamente, deveria comer alguma coisa.
Francesca observou-a antes de ceder.
– Sabes onde estou se precisares de alguma coisa.
Era uma oferta risível se se tivesse em conta que Francesca tinha tão mau aspeto como devia ter, mas a cunhada fizera-a de coração e não se riria, mesmo que tivesse as forças necessárias.
Sentiu que ardia com o olhar, igualmente penetrante, de Matteo e só pôde respirar com tranquilidade quando todos se foram embora.
Mandou a empregada fazer uns recados. Precisava de estar sozinha e agradeceu a Pietro por ter acedido a deixar que o resto dos empregados fossem externos, como ela pedira. Era triste que tivesse tido de pedir essas coisas…
Fora tudo triste no seu casamento e a sua duração fora a menor das tristezas. Não tivera nenhuma autonomia.
Já passara o enjoo e percebeu que tinha fome. Tivera náuseas ao acordar e saltara o pequeno-almoço, o que evitara ter de tomar a decisão do que comer e, além disso, conseguira esquecer-se