Poder e desejo. Michelle Smart
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A única coisa que fizera nos seus vinte e cinco anos de vida que agradara aos pais fora casar-se com Pietro. Permitira-lhes gabar-se de que o grande Pietro Pellegrini era o seu genro e tinham-no feito sempre que podiam.
Natasha limpou as lágrimas e soprou com força.
Nada ia mudar, por muito que chorasse. Ia ser mãe e isso significava que tinha de ser forte pelo filho. Além disso, por muito que chorasse, era preferível que todos a considerassem uma perdida a deixar que todos soubessem que Matteo era o único candidato a ser o pai.
Ninguém podia saber que fora virgem até à noite depois do enterro do marido.
A clínica onde Matteo a levou era num edifício medieval lindo no centro de Florença e podia parecer um dos muitos museus que davam fama à cidade.
O interior era o contrário. Ninguém poderia duvidar de que entrara num centro médico de vanguarda. A rececionista fria fez uma chamada e, um instante depois, Julianna, a diretora, saiu por uma porta para os cumprimentar.
Matteo conhecera Julianna, uma mulher alta e esbelta de quarenta e tal anos, porque se tinham encontrado em muitas conferências. Cumprimentaram-se como velhos amigos e trocaram alguns beijos. Depois, apresentou Natasha e levaram-nos para a sala impoluta onde estava tudo preparado para a ecografia.
– Importas-te que o doutor Manaserro fique enquanto a faço? – perguntou Julianna a Natasha, em inglês.
Ela desviou o olhar para ele com uma certa surpresa, antes de encolher os ombros.
– Vais ficar um pouco… exposta – avisou Julianna.
– Pode ficar, se quiser – respondeu ela, inexpressivamente.
Matteo sentiu uma pontada de remorso tão inesperada como desagradável.
Era a primeira vez que via Natasha em duas semanas. Nesse tempo, para além de organizar aquela ecografia, fizera o que pudera para a esquecer e à gravidez.
Repetia-se que havia poucas possibilidades de ser o pai e que era improvável, mesmo que a ecografia confirmasse que podia ser. Só tinham estado juntos uma vez enquanto Pietro e ela…
Sentiu um nó no estômago só de pensar em todas as vezes que teriam estado juntos nesses anos. Pietro e Natasha tinham tentado ter um filho, Pietro contara-lhe da última vez que o vira.
Além disso, ela estava contente por estar grávida e dissera que era um milagre. Era porque desejava ter um filho ou porque gostava que uma parte de Pietro pudesse estar a gerar-se dentro dela? Tinha de ter sentido alguma coisa pelo marido, independentemente do que fizera na noite do seu enterro. Teria reagido assim se achasse que ele poderia ser o pai?
Não podia pensar isso. Apagara Natasha da mente desde que aceitara o pedido de Pietro algumas horas depois de se beijarem. Nunca pensava nela, nunca pensava em Pietro e ela juntos. Só a detestava quando tinham de se encontrar e aprendera a disfarçá-lo, evitando-a sempre que podia. Virara a página depressa e, além disso, Pietro era um amigo e um primo demasiado íntimo para que uma mulher se interpusesse entre eles.
Pietro não soubera que Natasha e ele se tinham aproximado, algo que, pensando bem, fora estranho, porque Pietro e ele contavam muitas histórias sobre mulheres. Na altura, parecera-lhe demasiado especial para falar dela, algo que, a posteriori, fora cómico. Devia ser um arrebatamento de sentimentalismo e nunca mais voltara a pensar em algo tão ridículo.
Se fosse o filho de Pietro, também se alegraria por uma parte do melhor amigo permanecer viva, mesmo que a mãe fosse uma maldita farsante.
Tinha de ser de Pietro. Se não, destruiria tudo.
Deixá-la-ia em paz e dominaria a vontade de lhe ligar a cada cinco minutos para se certificar de que estava a comer e a dormir bem. Ao vê-la naquele momento, parecia-lhe que não comera decentemente desde a última vez que a vira.
– Muito bem, Natasha, queres uma ecografia para saber a data, não é?
Ela assentiu.
– Foste examinada por um médico ou uma parteira?
Ela abanou a cabeça.
– Vais ter o filho aqui ou em Inglaterra?
Voltou a olhar para Matteo e Julianna sorriu tranquilizadoramente.
– Não faz mal, não há respostas certas ou erradas.
– Ainda não pensei nisso – sussurrou Natasha.
– Tens muito tempo para decidir, mas temos de te fazer um seguimento. O nosso ginecologista é o melhor de Florença, mas posso recomendar-te uma mulher, se preferires.
Matteo sentiu que suava e teve de morder a língua para não intervir. Uma vez ali, com o ecrã do ultrassom ligado, queria acabar aquilo.
– Pronta…?
– Sim.
Respondera no tom mais animado que ele ouvira desde que lhe abrira a porta.
– Deita-te, levanta o top e baixa a saia para despir as ancas e a barriga.
Matteo olhou para o ecrã. Natasha acabou, Julianna sentou-se. Embora não estivesse a olhar diretamente para ela, viu Natasha a mexer-se quando lhe aplicaram o gel na barriga.
Então, Julianna pegou na sonda e passou-a por cima do gel com os três olhares fixos no ecrã.
– Aqui está! – exclamou Julianna. – Vês, Natasha? É o teu bebé.
– Onde? – perguntou Natasha, esticando o pescoço para tentar vê-lo.
– Ali. – Julianna pôs um dedo no ecrã. – Vês?
Natasha não sabia o que esperara ver, nem sequer a sua imaginação vira um bebé em miniatura, mas esperara mais do que aquela massa. Então, Julianna tocou em algumas teclas e focou melhor. Continuava a ser apenas uma sombra, mas tinha algo mais definido que fez com que o seu coração, já bastante acelerado, quase rebentasse.
– Queres ouvir os batimentos?
Um instante depois, o som mais maravilhoso que ouvira na sua vida ecoou pelo quarto.
Não se atreveu a olhar para Matteo. Se visse alguma coisa no seu rosto que não fosse felicidade, estragar-lhe-ia para sempre aquele momento tão especial. Continuou a olhar para a pequena avelã e a ouvir os batimentos, até Julianna se levantar e lhe limpar a barriga com uma toalhita.
– Parece estar tudo bem, por enquanto.
– Por enquanto?
– Sou médica e nunca falamos em termos absolutos. – Julianna sorriu. – O que posso dizer com sinceridade é que, neste momento, o teu filho está a evoluir bem e que devias estar contente com isso. Quanto à data do parto…
Julianna disse uma data no fim de junho e Natasha fechou os olhos. A julgar pelo