Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos. Andrea Laurence

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Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos - Andrea Laurence OMNIBUS DESEJO

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Cynthia – disse, dirigindo-se à porta.

      Assim que ele saiu, o quarto voltou a ficar frio e estéril como qualquer outro quarto de hospital, e ela sentiu-se mais sozinha do que nunca.

      Alex saboreava a sua bebida do outro lado da mesa. Estivera em silêncio durante os dois primeiros pratos. Will apreciava a sua capacidade de estar em silêncio, sem forçar assuntos nem fazer conversa fiada. Sabia que o seu amigo entendia que tinha muitas coisas na cabeça e precisava de desfrutar do seu uísque escocês antes de poder falar.

      Convidara Alex para jantar porque precisava de falar com alguém sincero. A maior parte das pessoas diziam-lhe o que queria ouvir. Mas Alex era uma das poucas pessoas que conhecia que tinha mais dinheiro do que ele, e não tinha papas na língua. Era um reconhecido playboy e Will não costumava pedir-lhe conselhos de tipo romântico, mas sabia que Alex iria dar-lhe a sua opinião clara com respeito a Cynthia.

      A relação entre eles era um desastre. Umas semanas antes achara que não podia piorar, mas fora tentar ao diabo.

      – Como está a Cynthia? – perguntou Alex finalmente.

      – Melhor. Está a recuperar-se muito bem, mas continua sem se lembrar de nada.

      – Incluindo a discussão?

      – Sobretudo da discussão – Will suspirou.

      Antes de Cynthia ter ido para Chicago, Will tinha-a confrontado com provas da sua infidelidade e tinha acabado o compromisso. Ela tinha-lhe dito que podiam falar e resolver aquilo quando voltasse, mas para ele já tinham acabado. O avião de Cynthia sofrera um acidente do qual ela, milagrosamente, escapara, mas tinha acordado com amnésia. Will achara cruel deixá-la sozinha e decidira esperar que se recuperasse e ir-se embora depois.

      Aquela fora a ideia original. Mas a situação estava a complicar-se. Por isso tinha chamado Alex, para que o ajudasse a pôr as ideias no lugar.

      – Já lhe disseste?

      – Não. Hei de falar com ela quando lhe derem alta. Quase nunca estamos sozinhos no hospital, e não quero envolver os pais dela.

      – Nunca mais voltou a ser a víbora frígida que todos conhecemos e amamos? – ironizou Alex.

      Will abanou a cabeça. Uma parte dele desejava que o fosse. Então, poderia deixá-la sem se sentir culpado. Mas desde o acidente, parecia uma mulher diferente. Estava a custar-lhe adaptar-se às mudanças que via nela, e continuava à espera que começasse a ladrar ordens ou a criticar o pessoal do hospital. Mas nunca o fazia. Embora contrariado, devia admitir que cada vez desfrutava mais nas suas visitas.

      – É como se tivesse sido raptada por extraterrestres e substituída por outra.

      – Tenho que admitir que foi muito agradável quando a visitei no outro dia.

      – Sim, eu sei. A cada vez que vou vê-la, observo com incredulidade que pergunta a toda a gente se estão bem e agradece a todos pela visitas e por lhe levarem coisas. É doce, considerada, engraçada... não se parece nada com a mulher que foi para Chicago.

      – Até sorris quando falas dela – Alex inclinou-se para a frente com o sobrolho franzido. – As coisas mudaram mesmo a sério. E tu gostas – acusou.

      – Sim. É mais agradável e gosto de estar com ela. Os médicos dizem que a sua amnésia, provavelmente, será temporária. Pode voltar à normalidade a qualquer momento. Recuso-me a investir na relação para acabar onde comecei.

      – Provavelmente temporária pode significar possivelmente permanente. Talvez fique assim.

      – Não interessa – Will abanou a cabeça. Típico de Alex animá-lo a arriscar. – Pode ser que ela não se lembre do que fez, mas eu lembro-me. Nunca mais vou ser capaz de voltar a confiar nela, e isso significa que acabámos.

      – Ou esta poderia ser a tua segunda oportunidade. Se realmente está uma pessoa diferente, trata-a como se fosse. Não tenhas em conta um passado do qual não se lembra. Ainda perdes qualquer coisa fantástica.

      Alex tinha dito precisamente aquilo que Will temia pensar. Estar com Cynthia era como conhecer uma mulher nova. Pensava nela quando tinha que concentrar-se no trabalho e quase corria para vê-la quando saía do escritório. Aquela tarde tinha sentido um arrepio inegável quando se tinham tocado. Não sabia se era por ela ter estado tão perto da morte ou se pela sua mudança de personalidade, mas parte dele queria seguir o conselho de Alex.

      No entanto, ainda que não parecesse, a antiga Cynthia continuava dentro dela. Aquela mulher desagradável e infiel que tinha espezinhado os seus sentimentos, acabaria por vir ao de cima. Will tinha acabado com ela e não ia entregar o seu coração, a sua liberdade e mais anos da sua vida àquela relação.

      Os médicos diziam que em breve poderia voltar para casa. Tinha a certeza de que Pauline e George iam querer que ficasse com eles na quinta, mas Will ia fazer questão de que voltasse para o loft que eles partilhavam para cuidar dela. Era o mais natural. Estaria mais perto do médico e estar rodeada das suas coisas podia ajudá-la.

      E se com isso recuperasse a memória, poupava-se ao trabalho de ter que acabar com ela uma segunda vez.

      «Quer trocar de lugar?».

      As palavras ecoavam na sua mente. Os seus sonhos misturavam a realidade com a fantasia, e os calmantes ainda tornavam tudo mais confuso.

      «O meu nome é Cynthia Dempsey».

      Franziu a testa. Cynthia Dempsey... Gostava que parassem de chamá-la assim. Mas não sabia como queria que a chamassem... Se não era Cynthia Dempsey, não devia saber quem era?

      E sabia. Tinha o seu nome na ponta da língua. Mas a explosão de um motor e o fogo tinham-no apagado da sua mente. Depois continuou aquela horrível sensação de queda livre em direção ao chão.

      – Não!

      Endireitou-se de repente. Tinha o coração tresloucado e estava ofegante. O monitor começou a apitar e rapidamente chegou uma enfermeira do turno de noite.

      – Como está, senhorita Dempsey?

      – Pare de chamar-me assim – respondeu ela, demasiado dormente para ter bons modos.

      – Bom... Cynthia. Está bem?

      Quando ligou a luz de noite, viu que era Gwen, a sua enfermeira favorita. Era uma rapariga do sul, pequenina e com o cabelo loiro platinado encaracolado e uma atitude positiva perante a vida.

      – Sim – esfregou os olhos com a mão boa. Tive um pesadelo. Desculpe ter-lhe gritado.

      – Não se preocupe – disse Gwen com um forte sotaque sulista. Desligou o alarme e comprovou o soro. – Muitos pacientes com trauma têm pesadelos. Quer que lhe dê alguma coisa para dormir?

      – Não. Estou cansada de... de não me sentir eu mesma. Embora comece a perguntar-me se isto terá alguma coisa a ver com a medicação.

      – Sofreu um grande trauma – Gwen sentou-se na beira da cama e deu-lhe uma palmadinha no joelho. – É possível que nunca volte a sentir-se como antes. Ou que, quando isso acontecer, não o saiba. Tente desfrutar de como se sente agora.

      Cynthia

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