Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos. Andrea Laurence

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Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos - Andrea Laurence OMNIBUS DESEJO

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      Inclinou-se e pousou a boca na sua. Foi pouco mais que um toque, uma silenciosa confirmação de que ia correr tudo bem, mesmo que não continuassem juntos.

      Isso, ao menos, era o que a sua cabeça lhe dizia. Mas o seu corpo reagiu ao contacto. Achou que só podia ser porque estava há muito tempo sem sexo, mas desejou agarrar o rosto dela entre as mãos e beber da sua boca. Não se atreveu. Por um lado, ainda não estava completamente curada e não queria magoá-la. Por outro, era descer a um poço do qual não seria capaz de sair.

      – Pensa no que queres que seja a tua vida. E no que queres que nós sejamos juntos – sussurrou contra a sua boca. Depois, afastou-se antes de fazer alguma coisa da qual poderia arrepender-se.

      Cynthia não se sentia bonita. Era-lhe igual o que Will dissesse. Certamente, aquele beijo tinha sido por pena, para que se sentisse melhor depois de compreender que fora uma mulher bela e horrível que se transformara numa mulher doce e quebrada. Era óbvio que ele se sentia incomodado e quando o telemóvel tocou, aproveitou a oportunidade para desaparecer no seu escritório, deixando-a sozinha para voltar a habituar-se ao seu novo-antigo lar.

      O problema era que não tinha sensação de ser o seu lar. Admirava as linhas limpas e os tecidos, mas era um espaço demasiado frio e moderno para o seu gosto... Não havia uma única peça de mobiliário que a convidasse a ficar confortável. O sofá era duro, de pele, e as cadeiras de madeira ou de metal, nada fofinhas. Depois de dar mais uma vista de olhos a tudo, foi para o quarto ver televisão. A cama era enorme e confortável.

      Quando se cansou, decidiu tomar o primeiro duche desde o acidente. Despiu-se e tirou a tala de plástico do braço. Depois de passar meia hora sob a água a correr, sentiu-se mais humana e um pouco mais normal, mas a sensação evaporou-se rapidamente quando se sentou no tocador.

      Pauline, a sua... mãe, tinha-lhe impedido de olhar-se no espelho durante semanas. Cynthia não sabia que aspeto devia ter, mas não precisava de espelho para saber que sofrera uma transformação drástica, e não para melhor. A expressão de todos os que a conheciam deixara isso bem claro.

      No dia em que o doutor Takashi lhe tirara as últimas ligaduras e lhe oferecera um espelho de mão, Cynthia não quisera olhar-se porque não sabia o que iria encontrar. A sua mãe era uma mulher atraente, e a sua irmã, Emma, era uma adolescente bonita, mas talvez ela fosse parecida com o pai... George era um homem imponente, mas não era bonito. Tinha o nariz como o bico de um falcão e olhos pequenos e frios.

      Olhar-se no espelho dessa vez fora difícil, mas tinha-se habituado. A sua imagem melhorava de dia para dia. A sua mãe tinha-lhe levado uma caixa cheia de fotografias para ver se se ia lembrando da família e amigos, mas ela não aparecia em nenhuma delas. Ninguém lhe tinha mostrado uma foto sua de antes do acidente.

      E ao chegar ao apartamento tinha dado de caras com o enorme retrato de noivado. Ela tinha o cabelo comprido e escuro sobre um ombro, brincos de safiras e um vestido azul real. Will estava com umas calças caqui e uma camisa azul claro. Estavam sentados juntos, sob uma árvore.

      A mulher da foto tinha traços elegantes e delicados. A sua pele era cremosa e suave, os olhos verdes vivos. Estava tão bem maquilhada que parecia não estar. Era perfeita.

      Tinha achado que ver uma foto sua seria perturbador, mas tinha sido uma experiência vazia, como olhar para a foto de uma desconhecida.

      Nesse momento, à frente do espelho do tocador, não foi difícil comparar e catalogar as diferenças. As maçãs do rosto altas e o nariz delicado tinham sofrido o impacto do acidente. O tempo diria se as placas e os implantes colocados pelo doutor Takashi lhe devolveriam aqueles traços.

      Só os olhos e o sorriso se pareciam com o retrato. Sorriu e admirou os dentes implantados. Eram como os da foto, mas continuava a sentir-se estranha quando tentava comer ou falar. E a expressão dos seus olhos era diferente, menos segura.

      Com um suspiro, Cynthia começou a estender o creme que lhe tinham dado no hospital pelo pescoço e o rosto. Era suposto melhorar e acelerar o processo de cicatrização.

      Mesmo que não voltasse a ser a da fotografia, Cynthia queria sentir-se bem na sua própria pele, e não era o caso. O creme não resolveria isso.

      – Aposto a que desfrutaste do duche depois tantos banhos de esponja.

      Cynthia virou a cabeça e viu Will apoiado na porta, com as mãos nos bolsos.

      Envergonhada, levantou e prendeu a toalha que tinha presa no peito. Sentia-se atraída por ele, mas incomodava-a estar quase nua à sua frente. Mesmo que já se tivessem visto nus centenas de vezes, ela não se lembrava dele. Era um desconhecido.

      – Desculpa. Imagino que te sentes incomodada – ele deu um passo para trás. – Não tinha pensado nisso. Eu vou-me embora.

      – Não, não vás – não queria estar sozinha. Tinha passado toda a tarde a passear pelo apartamento, confusa e triste, esperando que alguma coisa lhe reativasse a memória.

      – Volto já – disse ele, levantando um dedo. Regressou pouco depois com um robe fofo de cor azul gelo. – Era o teu preferido. Costumavas vesti-lo à noite para ler no sofá a beber um copo de vinho.

      Cynthia levantou-se, sem soltar a toalha, e deixou que lho pusesse sobre os ombros. Enfiou os braços nas mangas, apertou o cinto e deixou cair a toalha.

      Não podia imaginar nada melhor do que estar de banho acabado de tomar e embrulhada na suavidade e no calor daquele robe. Ao menos até que os seus dedos roçaram os dele e um arrepio percorreu-a de cima a baixo. Deixou fugir um gemido e afastou os dedos.

      – É uma maravilha – murmurou. – Obrigada.

      Ele assentiu e deu um passo atrás, sem parar de olhar para ela. Ela desejou poder compreender o que significava o seu olhar intenso, não sabia se desejo, irritação ou curiosidade.

      – Estás com fome?

      – Estou – admitiu. Pelos vistos, tinha confundido um olhar de fome com um de luxúria.

      – Está bem – sorriu ele. – Posso ir buscar qualquer coisa. Há um restaurante tailandês aqui perto.

      Will assentiu e saiu do quarto. Pouco depois, ouviu-se a porta a fechar-se.

      Ela desenredou o cabelo e foi ao armário em busca de qualquer coisa confortável. Na parte de trás havia roupa de um tamanho maior. Estava a olhar para uns leggins quando o telefone tocou.

      Pensando que seria Will, foi até ao quarto atender.

      – Estou?

      – Cynthia? – sussurrou a voz de homem, mais grave do que a de Will.

      – Sim, sou a Cynthia. Quem fala?

      – Amor, sou o Nigel.

      Nigel, o nome não lhe dizia nada, mas tinha-a chamado «amor» e não gostava nada disso.

      – Desculpe. Não me lembro de si... Tive um acidente e diagnosticaram-me amnésia.

      – Amnésia? Meu Deus, Cynthia! Tenho que ver-te. Estou há semanas a morrer de preocupação. O teu telemóvel está desligado... Não pude ir ver-te ao hospital. Só sei o que li nos jornais, e não é muito. Podemos ver-nos amanhã, quando o Will estiver

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