Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos. Andrea Laurence

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Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos - Andrea Laurence OMNIBUS DESEJO

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pela questão financeira.

      No entanto, saber que ele tinha um pé na porta não a motivava a investir muito na relação. Dessa vez podia ser ela a acabar ferida.

      Começou a folhear um documento sobre campanhas e clientes, em parte por curiosidade, em parte na esperança de se lembrar de alguma coisa. Mas nem sequer percebia a linguagem publicitária, de modo que o pôs de lado.

      Abriu uma gaveta da mesa. Na parte da frente havia material de escritório, na parte de trás um monte de envelopes. Cynthia tirou-os e viu que eram dirigidos a ela. Alguns carimbos dos correios eram de há quase um ano.

      Escolheu o mais antigo, tirou a carta e começou a ler. Era uma carta de amor de Nigel, manuscrita, em que lhe explicava que o correio eletrónico lhe parecia frio e impessoal e preferia escrever-lhe em papel. Imaginou que teria guardado as cartas pelo seu valor sentimental.

      Cynthia suspirou. Sabia que tivera uma aventura, mas ter que enfrentar à evidência desconcertava-a. Descobriu que ele era um artista que tentava vingar, que o tinha conhecido numa galeria de arte. Depois, tinham combinado para almoçar, passado fins de semana juntos alegando viagens de negócios e aproveitado as longas horas de trabalho de Will vendo-se, inclusive, ali em casa.

      As cartas eram mais românticas do que esperava. Não sabia o que ela lhe tinha respondido, mas pareciam apaixonados. A história não encaixava minimamente com o que lhe diziam de si mesma. Como é que uma miúda rica da alta sociedade podia apaixonar-se por um artista pobretanas do Bronx? Teria estado a usar Nigel, ou teria vergonha de aparecer com ele em público? A sua família nunca aprovaria a relação. Perguntou-se se pretenderia ter o melhor dos dois mundos sendo amante de Nigel e casando com Will.

      Cynthia sentiu náuseas. Já não queria lembrar a verdade da sua vida passada, queria erradicá-la.

      Pôs as cartas num monte e continuou a vasculhar. Todo e qualquer registo digital da sua relação tinha desaparecido com o seu telemóvel e o seu computador portátil no acidente. Quando substituísse o equipamento, purgaria qualquer coisa que tivesse ficado nas suas contas e pediria um novo número de telemóvel, desconhecido para Nigel. Num dossier encontrou uma pasta com cartões do Dia dos Namorados e de aniversários, nenhum deles era de Will. Acrescentou-os ao monte, junto com algumas fotos de Cynthia com um homem loiro que não reconhecia. Pareciam estar muito melosos, de modo que decidiu livrar-se delas.

      Quando Anita chegou, Cynthia tinha um monte de coisas para destruir. Saiu para cumprimentar a mulher cheiinha e com o cabelo grisalho, que já estava a limpar o pó na sala.

      – Senhorita Dempsey – a mulher sorriu, ainda que não com muito carinho. – Fico contente por vê-la de volta a casa. Vou tentar não a incomodar.

      – Por favor, chame-me Cynthia – disse ela. Pelos visto a empregada também não gostava muito dela. – E não me incomoda nada, é bom ter cá mais alguém. Se puder ajudar com alguma coisa, diga-me. Não gosto de estar sentada enquanto trabalha.

      – Obrigada, senhorita Dempsey – Anita tentou disfarçar a sua surpresa, sem sucesso. – Precisa de alguma coisa?

      – Tenho frio. Gostaria de me deitar no sofá com um livro. Seria possível acender a lareira? – perguntou. O fogo era a melhor maneira de se livrar do que não queria.

      Nesse sábado esteve um dia muito agradável. A temperatura rondava os vinte graus. Will tinha começado a manhã a trabalhar no seu escritório, mas sentiu-se culpado ao ver a Cynthia a percorrer o apartamento sem rumo.

      Antes do acidente, tinha adquirido o hábito de se concentrar no trabalho para evitá-la mas, pela primeira vez em muitos meses, tinha vontade de passar mais tempo com ela. Atraía-o demasiado.

      Fechou o computador e saiu do escritório. Encontrou-a no sofá, com um romance na mão.

      – O que estás a ler? – perguntou.

      – Um livro que comprei ontem na loja da esquina. Estou a adorar.

      Will assentiu, tentando disfarçar a sua surpresa. Sabia que Cynthia se preocupava quando percebia que estava a fazer alguma coisa fora do normal. Ele preferia que não se apercebesse das diferenças; até porque gostava mais da nova Cynthia do que a de antes.

      – Está um dia lindo. Apetece-te sair e ir dar uma volta pelo parque? – Will sentiu-se ainda mais culpado ao ver que o rosto dela se iluminava como o de uma criança com um gelado.

      – Tenho de mudar de roupa? – perguntou Cynthia.

      Will não tinha reparado no que tinha vestido. Outra surpresa: calças de ganga escuras e justas, botins cinzentos e uma suave camisola cinzenta que lhe caía sob das ancas. Em cima tinha posto um cinto cor-de-rosa escuro e ainda tinha umas pulseiras largas a combinar.

      – Caramba, cor-de-rosa – comentou ele.

      – Decidido que o cor-de-rosa é a minha cor favorita – disse ela, acariciando o cinto. – Gostas?

      Cynthia tinha comprado aquele cinto só para uma festa benéfica de estilo anos oitenta mas, de repente, parecia adorar. Era óbvio que desfrutava a combinar peças de roupa. Tinha o cabelo solto e ondulado e o rosto sem maquilhagem. Estava linda.

      – Estás bem assim. Consegues andar com essas botas?

      – Acho que sim – levantou-se e deu uns passos. – São muito confortáveis e estou bem mais forte graças aos meus passeios diários.

      Will tirou um casaco leve do armário e saíram. Desceram de elevador e cumprimentaram o porteiro, que lhes abriu a porta.

      Não demoraram a chegar ao Central Park e a ficarem rodeados pelo bosque de vermelhos, laranjas e dourados outonais. O outono em Manhattan sempre fora a época favorita de Will.

      – Adoro o outono – disse Cynthia. – Acho que esta é a minha época favorita do ano... Mas como não me lembro muita das outras três estações, vou reservar-me a decisão, por enquanto.

      Will sorriu e tirou o telemóvel, que já tinha tocado várias vezes desde que tinham saído de casa. Começou a ler as mensagens, mas não demorou a sentir Cynthia a puxar-lhe do braço.

      – Vamos ver se gosto dos cachorros quentes – disse, apontando para uns carrinhos.

      Will fechou o telemóvel. O entusiasmo dela por uma coisa tão simples como um carrinho de cachorros quentes era contagiante, de modo que decidiu acompanhá-la.

      Pediram dois refrescos e dois cachorros. Ele com chucrute e mostarda; ela com ketchup, mostarda e cornichons. Procuraram um banco e sentaram-se para saborear o seu almoço.

      Tinha comido metade do seu cachorro quando olhou para Cynthia e viu que ela já tinha acabado e estava a limpar o canto da boca.

      – Queres outro? – ofereceu-lhe.

      – Não – abanou a cabeça e deu um gole no refresco. – Era a quantidade certa. Há um milhão de coisas que tenho que experimentar para saber se gosto. Vou engordar cinco quilos se não tiver cuidado.

      Will observou que a sua expressão se tornava sombria e pensativa. Em silêncio, acabou o seu cachorro.

      – Em que estás a pensar? – perguntou, finalmente.

      –

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