Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos. Andrea Laurence
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Will engoliu em seco e assentiu. Até então, só estivera preocupado com a hipótese de Cynthia o magoar.
Quando Cynthia regressou do seu almoço com Gwen, o porteiro chamou-a.
– Senhorita Dempsey?
– Boa tarde, Calvin – disse ela, dirigindo-se ao balcão. – Como está hoje?
– Muito bem, senhorita – Calvin sorriu com uma sinceridade que não mostrara nos primeiros dias. – Trouxeram uma encomenda para si. É bastante pesada. Quer que a mande para cima?
– Isso seria ótimo, obrigada Calvin.
Subiu para casa e, poucos minutos depois, bateram à porta. Era Ronald, outro dos porteiros do edifício, com uma grande caixa branca.
– Pode pô-la na mesa da cozinha, se faz favor.
Roland saiu e ela foi procurar uma tesoura para cortar a fita adesiva. Dentro da caixa estava uma linda máquina de costura de alta gama. Pesava tanto que não foi capaz de tirá-la da caixa e ficou a admirá-la de cima. Tirou o manual de instruções para o ler. Estava mesmo a acabar quando ouviu a porta. Levantou-se de um salto e correu para ir receber Will.
– Vejo que já chegou – disse ele, ao ver a sua expressão de entusiasmo.
– Sim, chegou! – exclamou ela. – É maravilhosa!
– Comprei-a hoje de manhã. Garantiram-me que era a melhor do mercado e que a entregariam ainda hoje.
Sem hesitar, ela abraçou-o com força e beijou-o. Só queria agradecer-lhe mas, quando os seus lábios se encontraram, o seu plano fracassou. Will rodeou-lhe a cintura com os braços e puxou-a para si. Tinha estado tão distante desde o último beijo que ela tinha achado que não se sentia atraído por ela. Mas a sua língua e os seus dedos convenceram-na de que não era bem assim.
– Obrigada – disse. Sentia-se vermelha como um tomate, mas Will não fez comentários.
– De nada – sorriu com ironia. – Se soubesse que ias reagir assim, já a teria comprado há dois anos. Ou, pelo menos, na semana passada.
– Estive... estive a ler como se usa – murmurou Cynthia, ainda nos seus braços.
– Já estás a estudar? – perguntou ele, soltando-a e dando uns passos para trás.
– Já. Acho que amanhã já a posso ter a funcionar – disse ela. – Importas-te de ir às compras? Gostava de comprar tecido, linha, botões...
– Acho muito bem – Will tirou o casaco. – Tinha pensado levar-te a jantar fora. Podemos passar pela loja de caminho. Espera que mude de roupa.
Minutos depois, entraram num táxi para ir para o distrito têxtil. Quando chegaram à Mood, a meca dos tecidos de alta costura, ela entrou e Will ficou à porta, a tratar de negócios ao telefone.
Reuniu-se com ele meia hora depois, triunfal, com um enorme saco preto. Entregavam-lhe o manequim em casa no dia seguinte. Uma das empregadas da loja ajudara-a a escolher as coisas básicas e tinha-lhe explicado como usar tudo. Cynthia não sentia uma energia igual desde que acordara após o acidente. O destino tinha fechado a porta do passado, mas tinha aberto uma janela para um futuro carregado de emoção e novas possibilidades.
– Compraste a loja inteira?
– Hoje não. Talvez para a semana.
– É bom ter objetivos – riu-se ele. – Pronta para ir jantar? Há um restaurante especializado em carnes a poucos quarteirões daqui. Apetece-te?
– Parece-me muito bem.
Will pegou no saco e foram a pé até ao restaurante. Assim que entraram, Cynthia ficou imóvel. O restaurante era luxuoso e, com umas simples calças de ganga e uma camisola normal, não se sentia à altura.
– Este lugar é demasiado elegante – murmurou.
– Estás ótima – garantiu-lhe ele.
O maître guiou-os até uma mesa situada num canto, um espaço reservado. Pelos vistos, o homem achava que era um encontro romântico. Ela não achava o mesmo, especialmente porque Will voltava a estar concentrado no seu telemóvel, em vez de na ementa.
– Gostariam de provar um vinho da nossa seleção de hoje? – perguntou o empregado quando chegou.
Will deixou o telemóvel e olhou para ela, expetante. Supostamente, ela gostava de vinho, mas naquele momento o que lhe apetecia mesmo era um copo de Coca-Cola light muito fria, e foi o que pediu.
– Coca-Cola light para a senhorita e um copo de Merlot para mim, faz favor – pediu Will.
Quando o empregado de mesa foi embora, Cynthia tentou concentrar na ementa. Decidiu pedir um prato combinado de carne e marisco.
Depois de pedir, e já com as bebidas na mesa, Cynthia percebeu que o restaurante era realmente romântico. Numa parede havia uma enorme lareira de pedra e o fogo dava a tudo uma luz dourada muito favorecedora.
Cynthia engoliu em seco e humedeceu os lábios com a língua. Ele sorriu e o seu olhar pareceu abrasá-la. Tinha vestido uma camisa verde escura que se esticava sobre o peito e os ombros, marcando aqueles músculos que ela tanto desejava sentir. A sua imaginação voou.
– É um lugar muito agradável – disse. Tinha a garganta seca, de modo que deu um grande gole no refresco.
– Sim. Fico contente de ter vindo provar.
– Está tudo a correr bem com o teu trabalho? – Cynthia queria um tema de conversa que lhe impedisse de pensar em tocar Will.
– Atarefado, como sempre. Hoje estive com o teu pai.
– Sim, a mãe mencionou-me que ia ver-te. Está tudo bem? – aquele tema certamente abafaria o seu calor.
– Bem. Estivemos a rever os detalhes do acordo de colaboração. Devemos poder lançá-lo na primavera.
– Em que consiste exatamente?
– Tem a ver com tecnologia para um leitor de livros digitais. A sua equipa criou um ecrã tátil tão leve, fino e barato que em breve toda a gente poderá usá-lo. Esperamos mesmo oferecê-lo com as assinaturas de longo prazo no jornal digital.
– O teu jornal tem problemas?
– Não, mas hoje em dia tudo se passa na Internet. Há vários anos que já temos as assinaturas eletrónicas, mas acho que os leitores digitais são a nova bomba para a indústria editorial. Quero que o Observer e a Corporação Dempsey estejam na crista da onda. Levar a minha empresa ao seguinte nível de excelência e qualidade. Há anos que luto por isso.
Cynthia assentiu, ainda que não percebesse bem. Ela ainda gostava de sentir um livro na mão e ia demorar a renunciar a esse prazer por um tablet. Mas parecia um assunto promissor para ambas as empresas.