Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos. Andrea Laurence

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Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos - Andrea Laurence OMNIBUS DESEJO

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sempre escolher».

      O passado era o passado. Will tinha-lhe oferecido um novo começo, uma folha em branco e, talvez, um futuro juntos. Estava disposta a tentar. Queria ficar com Will. O homem que estava ao telefone podia arruinar tudo.

      – Não, lamento.

      – Amor, espera. Eu apanho o primeiro comboio do Bronx e bebemos um café juntos.

      – Não. Por favor, não volte a ligar. Adeus – desligou o telefone. Segundos depois, voltou a tocar e viu no ecrã que era o mesmo número. Não atendeu.

      Respirou fundo e voltou para o armário para se vestir para o seu primeiro jantar com Will.

      Will olhava, sem ver, para o ecrã do seu computador portátil. Depois de jantar tinha ido para o seu escritório para trabalhar um pouco, como costumava fazer. Um jornal não se fechava sozinho e, visto que passava grande parte do dia em reuniões pouco produtivas, mas necessárias, era a única hora em que podia rever o correio eletrónico e trabalhar a sério. Naqueles últimos anos, o escritório e o trabalho tinham-se transformado no seu refúgio de uma relação frustrada.

      No entanto, naquela noite não conseguia concentrar-se no trabalho. Não parava de pensar em Cynthia.

      Tinha-a observado a percorrer o apartamento através das portas envidraçadas que separavam o seu escritório da sala. Tinha ido comprar o jantar pensando que as coisas estavam a correr bem entre eles. Mais do que bem, se tivesse em conta que ver a sua pele húmida depois do duche lhe tinha provocado uma potente e imediata reação física. Felizmente, o passeio até ao restaurante tinha feito a função de duche frio, e quando voltou a casa estava tudo sob controlo.

      Tinham jantado na casa de jantar, a conversar sobre coisas várias, mas tinha-a notado nervosa. Quando o telefone tocara, tinha-se levantado de um salto, como a sua vida dependesse disso. Era Pauline, e mãe e filha tinham conversado um pouco enquanto ele levantava a mesa e ia enclausurar-se no seu escritório.

      Will perguntava-se se teria percebido a sua atração por ela e isso a deixava desconfortável. Tinha mencionado a possibilidade de um futuro juntos, embora não lhe convencesse muito a ideia. Mas o seu cérebro e o seu corpo pareciam estar a seguir caminhos diferentes.

      Não ficou surpreendido por ela se ter ido deitar cedo. Era o seu primeiro dia fora do hospital e era lógico que estivesse estafada. Além do desafio físico, tinha recebido muita informação sobre o seu passado, que era sempre difícil de processar.

      Visto que parecia nervosa na sua presença, decidiu ir dormir para o quarto de hóspedes.

      Will desligou o computador à meia-noite. Acordava às seis, mas estava habituado a dormir pouco. Haveria de dormir quando se reformasse.

      Já estava vestido e a beber o seu café quando Cynthia entrou na cozinha na manhã seguinte. Tinha um pijama de seda azul escuro sob o robe e o cabelo apanhado num rabo de cavalo. Ainda tinha olhos ensonados e marcas dos lençóis no rosto. A mulher que conhecia não teria permitido que ninguém a visse assim, nem sequer ele. Saía sempre do quarto penteada e maquilhada. Will disfarçou a sua surpresa dando um gole no café. Custava-lhe habituar-se à nova Cynthia.

      – Bom dia – disse ela, esfregando os olhos.

      – Bom dia – respondeu ele, levantando-se para encher a sua caneca. – Queres café?

      – Não, obrigada – franziu o nariz. – Experimentei no hospital e não gostei.

      Will voltou para a mesa e empurrou-lhe um prato com duas torradas de pão integral.

      – No armário há chá e chocolate em pó, se preferires.

      Cynthia sentou-se e tirou uma torrada do prato. Parecia mais descontraída do que na noite anterior. Will, aliviado, pensou que passar algum tempo sozinha em casa talvez a ajudasse a adaptar-se.

      – Odeio ter de me ir embora agora que acabaste de acordar, mas estou cheio de trabalho. Vou tentar não ficar até muito tarde.

      – Trabalhas muito – comentou ela.

      – Faço o que tenho que fazer – Will encolheu os ombros, levantou-se e deixou a caneca no lava-loiça. – A empregada deve vir sobre o meio dia, de modo que não vais estar sozinha. Ela vai fazer o jantar para não termos que sair. Acho que hoje é dia de estufado.

      – Está bem – assentiu ela, franzindo a testa.

      – O que foi?

      – Acho estranho que alguém venha cozinhar e limpar para mim. Não sei porquê, mas é estranho.

      – Tenho a certeza que vais habituar-te ao luxo rapidamente, especialmente quando provares as beringelas à parmesã da Anita. É uma artista na cozinha. Se precisares de alguma coisa, liga-me para o telemóvel – vestiu o casaco. – Pus uma lista de números telefones no frigorífico, incluídos os da tua família e amigos.

      – Obrigada – disse ela, levantando-se para o acompanhar à porta.

      – Até logo à noite – inclinou-se para dar-lhe um beijo de despedida, mas viu que ficava com os olhos esbugalhados e ficava tensa. Lembrando a sua reação ao beijo do dia anterior, pensou que era má ideia, de modo que parou, fez um gesto com a mão e saiu para o vestíbulo.

      Enquanto descia no elevador, Will abanou a cabeça. Ela estava a absorvê-lo como areias movediças. Quanto mais tentasse lutar, mais se afundaria.

      Cynthia ficou a olhar para a porta, mais confusa do que nunca. Tinha ficado com o coração acelerado quando pensou que ia beijá-la. O beijo da noite anterior tivera o efeito de lhe fazer querer mais. Sabia que era demasiado cedo para um romance e que os beijos só iam complicar mais as coisas. Mas não podia deixar de fantasiar com como seriam esses beijos. Bastava-lhe cheirar a sua colónia de especiarias para ficar com o pulso acelerado. Por sorte, já não estava ligada a monitores que pudessem delatar a atração que sentia por ele.

      Abanou a cabeça e voltou para o quarto para se vestir. Optou por umas calças caqui, uma blusa de manga comprida cor-de-rosa e mocassins.

      Voltou para a cozinha e pôs água a ferver para fazer chá. Barrou uma torrada com doce de framboesa e, depois de fazer um chá, foi explorar o seu escritório privado.

      Depois do telefonema de Nigel, tinha medo do que podia encontrar. Queria enfrentar-se ao passado e pôr-lhe um fim. Sentou-se frente à mesa de vidro e inox, onde se via um buraco vazio que teria sido ocupado pelo seu portátil, destroçado no acidente. À sua volta havia revistas e pastas ordenadas e empilhadas. Desejou desarrumar um pouco. Era tudo demasiado perfeito.

      À frente da mesa havia um sofá de cabedal vermelho e uma mesinha de café de vidro e inox. Nas paredes havia vários cartazes publicitários e anúncios de revistas emoldurados. Imaginava que seriam campanhas desenhadas por ela. A sua família tinha-lhe dito que era sócia de uma bem-sucedida agência de publicidade da Madison Avenue.

      Ficou ansiosa ao perceber que não se lembrava nem das imagens nem das estratégias de marketing que as teriam inspirado. Só pensou que gostava do vestido de uma das modelos.

      Sem quaisquer memórias, ia precisar de uma nova carreira, e depressa. Sobretudo se Will se fosse embora, como tinha

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