Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos. Andrea Laurence
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– Porquê?
– Tinhas uma aventura. Na verdade, já não tínhamos qualquer relação. O teu pai e eu queremos lançar um projeto muito lucrativo para ambas as empresas. Ele prefere trabalhar com a família, de modo que continuei contigo, na esperança de conseguirmos ultrapassar os obstáculos. Quando descobri que tinhas uma aventura, não tive escolha. Mesmo que o projeto fosse por água abaixo, não haveria casamento. Disse-te que me iria embora e sairia daqui no final de outubro. Os planos mudaram depois do acidente, claro.
– Vais ficar? – olhou para ele com uns olhos tão esperançosos que ele ficou com o coração apertado.
De certo modo, parecia injusto castigá-la pelos pecados que pareciam ser de outra pessoa.
– Não. Fico só até estares melhor. Depois anunciamos a rutura e eu vou-me embora, como combinado.
Cynthia assentiu como se entendesse, mas a ele pareceu ver o brilho das lágrimas nos seus olhos.
– Devo ter sido uma pessoa horrível. Sempre fui assim? Não me terias querido, pois não?
– Gostava da mulher que eras quando nos conhecemos. Mas não da mulher na que te transformaste depois da universidade.
Ela engoliu em seco e desceu o olhar. Tinha pedido a verdade e estava a ouvi-la, por mais dura que fosse.
– Era agradável com alguém?
– Com a tua família e as tuas amizades, em geral. E mimavas muito a tua irmã mais nova. Mas tinhas muito mau feitio se alguém te irritava.
– Agora continuo a ser assim?
– Não. Estás muito diferente desde o acidente. Mas não sei quanto vai durar. O médico diz que a amnésia é temporária e que qualquer coisa pode fazer-te lembrar-te de tudo de repente. A qualquer momento, a mulher que tenho à minha frente pode desaparecer.
– E não queres que isso aconteça, pois não?
Olhou para o rosto da sua namorada, tão familiar mas tão diferente. Os seus olhos verdes olhavam para ele, suplicantes, e viu neles manchinhas douradas em que nunca tinha reparado. Desejou descobrir outros detalhes que lhe pudessem ter passado desapercebidos. Perguntou-se se alguma vez teria estado apaixonado por Cynthia ou apenas pela ideia deles juntos. A miúda mais bonita e inteligente de Yale e o capitão da equipa de pólo. Ambos de famílias ricas. Eram o casal ideal.
No entanto, naquele momento queria conhecer a mulher que tinha à sua frente. Queria ajudá-la a explorar o mundo e a descobrir quem era e quem queria ser. Seria piedoso dizer-lhe que lhe era indiferente que se lembrasse ou não, mas preferiu ser honesto.
– Não, não quero.
– Na verdade – disse ela, pensativa, – é muito estranho sentir que me falta uma parte de mim. Mas pelo que ouço, talvez seja melhor assim. Não me lembrar de nada e começar do zero...
Isso mesmo tinha dito Alex, que podia ser uma segunda oportunidade. Will perguntou-se se teria coragem para lhe dar. Ela tinha-o traído e tinha abusado da sua confiança. O facto de não se lembrar mudava alguma coisa? Não tinha a certeza.
– Podes sempre escolher – respondeu ele.
– O que queres dizer?
– A tua memória pode voltar a qualquer momento. Quando isso acontecer, podes escolher continuar a ser a pessoa que és agora em vez de voltares a ser a de antes. Podes começar de novo.
– Sei que não gostavas de mim como pessoa, mas atraía-te fisicamente antes do acidente?
– Eras uma mulher muito bonita.
– Não fujas à pergunta – disse ela, olhando-o nos olhos. A irritação tingiu as suas bochechas.
Tinha-se transformado numa mulher emocional que corava de ira e de vergonha, cujos olhos se enchiam de lágrimas de confusão e tristeza. Era muito melhor do que a princesa de gelo de outrora. Will perguntou-se como seria fazer amor com ela.
– Não estou a fugir. Eras muito bonita. Todos os homens de Yale te desejavam, incluindo eu.
– Aquela foto no vestíbulo...
– O nosso retrato de noivado?
– Sim. Agora não sou assim. Duvido que algum dia volte a ser – o seu rosto expressou uma vulnerabilidade que Will não tinha visto antes. Cynthia nunca mostrava fraqueza.
Mas naquela mulher havia qualquer coisa frágil que o incitava a confortá-la. Nunca sentira aquilo com Cynthia. Incapaz de resistir, deslizou o polegar pela sua face. O inchaço quase tinha desaparecido.
– Antes eras como uma estátua: perfeita, mas fria como mármore – acariciou a sua pele suave, cor de marfim. – Acho que as imperfeições só te dão caráter. És bem mais bonita agora. E por dentro também.
– Obrigada por dizeres isso, mesmo que não seja verdade – Cynthia levantou a mão e pô-la sobre a dele. Agarrou nos seus dedos e levou a mão ao seu colo, sem soltá-la. – Não sei o que te fiz, só imagino. Mas desculpa... Achas que algum dia serás capaz de perdoar-me pelo que fiz no passado?
Ao ver que tinha os olhos cheios de lágrimas, ficou com o coração encolhido. Sentia-se esmagada pelos remorsos de pecados que não recordava. E não lhe estava a pedir que voltasse a amá-la nem que ficasse com ela. Só suplicava o seu perdão.
Vê-la assim, ter passado tempo ao seu lado naquelas últimas semanas, levara-o a sentir coisas novas e diferentes por ela. Sentimentos que podiam acabar ferindo-o e que recusava terminantemente. Mas talvez pudesse oferecer-lhe o seu perdão. Para começar.
– Se calhar precisamos de começar do zero. Passar a página e começar de novo – disse.
– Começar de novo? – olhou para ele com surpresa.
– Sim. Precisamos de deixar o passado para trás e ir em frente. Para de te preocupares com o que fizeste e com quem eras e concentra-te no que queres ser daqui para a frente. E talvez eu consiga parar de castigar-nos a ambos por coisas que já não podemos mudar.
– O que é que isso significa para ti e para mim?
Era uma boa pergunta. Ele não estava preparado para responder, mas ao menos podia tentar.
– Significa que nós também vamos começar de novo. Na verdade não nos conhecemos, não temos razões para confiar um no outro, e muito menos para nos amarmos. O que acontecer entre nós, se acontecer alguma coisa, o tempo dirá.
– E isto? – ela levantou o anel de noivado.
– Continua a usá-lo por enquanto. Tudo isto fica entre nós. Não precisamos das opiniões de ninguém, e muito menos das nossas famílias.
Cynthia assentiu e um suave sorriso curvou-lhe os lábios. Os