Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos. Andrea Laurence
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– Tudo me parece errado. As pessoas. A sua forma de me tratarem. Isto é, veja isto – tirou a mão da tala para lhe mostrar o anel de noivado.
– É lindo – disse Gwen educadamente, embora os seus olhos castanhos se tivessem aberto como pratos ao ver o enorme diamante.
– Deixe lá. Ambas sabemos que isto podia dar de comer a um país do terceiro mundo durante um ano inteiro.
– Provavelmente – concedeu a enfermeira.
– Isto não tem nada a ver comigo... Não me sinto uma rapariga de bairro de boas famílias que andei numa escola privada e sempre tive tudo o que queria... Sinto-me um peixe fora da água. Se esta era a minha vida, por que me parece tão longínqua? Como posso ser quem sou quando não sei quem era?
– Querida, esta conversa é demasiado profunda para se ter às três da manhã. Mas vou dar-lhe um conselho de peixe de Tennessee em águas de Manhattan: pare de se preocupar por quem era e seja você própria.
– Como é que faço isso?
– Para começar, pare de lutar. Quando sair deste quarto para iniciar a sua nova vida, aceite que é a Cynthia Dempsey. Depois, faça o que quiser. Se a nova Cynthia preferir um jogo de basebol a uma sinfonia, tudo bem. Se já não gosta de caviar e de vinho caro, coma um hamburguer e beba uma cerveja. Só você sabe quem quer ser agora. Não deixe que ninguém mude isso.
– Obrigada, Gwen – inclinou-se para ela e deu-lhe um abraço. – Dão-me alta manhã. O Will vai levar-me de volta para o nosso loft. Não sei o que me espera ali mas, se me apetecer uma cerveja e um hamburguer, posso telefonar-te?
– Claro que pode – Gwen sorriu e anotou o seu número de telefone no caderno que Cynthia usava para tomar notas. – E não se preocupe. Não posso imaginar um mau futuro se o Will Taylor fizer parte dele.
Cynthia sorriu. Oxalá Gwen tivesse razão.
Capítulo Dois
Will observou Cynthia a passear pelo andar como se estivesse num museu. Tinha de reconhecer que ele também achava isso, com tanto cristal, mármore e cabedal. Não era o que ele teria escolhido, mas tudo cumpria a sua função, de modo que lhe era indiferente.
Ela examinou cada quarto, admirando os quadros e acariciando os tecidos, aparentemente comprazida. Ele pensou que só podia gostar. Ela e o seu maldito decorador tinham escolhido tudo.
Cynthia, condicionada pela rigidez dos músculos, mexia-se lentamente. Tinham-lhe substituído o gesso do braço por uma tala para poder tirá-la quando tomasse banho. Todas as ligaduras e pontos tinham desaparecido e só tinha algumas zonas do rosto e corpo descoloridas. Se não fosse porque estava um pouco coxa e pela tala, ninguém saberia dizer por que tipo de trauma tinha passado.
Pauline tinha-a levado ao cabeleireiro do hospital para que a penteasse antes de sair. Tinham-lhe cortado as madeixas queimadas pelo fogo e a estilista transformara o desastre num penteado curto e liso que lhe caía até os ombros. Era uma transformação que Will tinha apreciado. Um novo estilo para a nova mulher da sua vida.
Will virou-se e viu Cynthia a olhar para a gigantesca foto de noivado exposta na parede da sala. Praguejou para si. Tinha vasculhado o andar inteiro para tirar todas as suas fotos, como Pauline lhe tinha pedido, mas tinha-se esquecido da mais proeminente. Pelo que ele sabia, ainda não tinha visto fotos de si própria antes do acidente. E, depois de ver aquela, imaginava que não demoraria a ligar para o doutor Takashi a ameaçá-lo com um processo. Pessoalmente, ele achava que o cirurgião plástico tinha feito um grande trabalho, ainda que parecesse um pouco diferente.
Mas nada aconteceu. Examinou a foto em silêncio e continuou a percorrer o andar. O toque do telemóvel distraiu-o de repente. Ela continuou a explorar.
– Esta casa de banho é enorme! É minha?
– Tem um jacuzzi encastrado no chão?
– Não.
– Então, não... Esse é o dos hóspedes. O nosso está no quarto principal – disse ele rindo-se. Três semanas antes do acidente, ela tinha-se queixado de que a sua casa de banho era demasiado pequena. Ele tinha-lhe perguntado se pretendia dar uma festa ali e ela tinha-se chateado.
Will voltou a prender o telemóvel no cinto e foi à procura dela. Encontrou-a no closet, com o olhar perdido. Começou a passar cabides um a um.
– Dior. Donna Karan. Kate Spade. Esta roupa... é minha?
– Toda. Há seis meses tiraste as minhas coisas daqui para teres lugar para a tua coleção de sapatos.
Ela virou-se para a parede de sapatos que tinha atrás, como se não a tivesse visto antes. Abriu uma caixa de Christian Louboutin, tirou os mocassins que tinha postos e experimentou os sapatos de cabedal preto e sola vermelha.
– Estão-me um bocado grandes – disse. Que estranho...
– Bom, se os teus pés encolheram no acidente, de certeza que hás de desfrutar a substitui-los todos por outros do teu tamanho.
Ela lançou-lhe um olhar incrédulo. Sentia-se um pouco instável com aqueles saltos de doze centímetros de altura, mas sorriu de orelha a orelha.
– Um reforço no calcanhar deve servir. Não desperdiçaria estes sapatos por nada – voltou a olhar para a roupa. – Como é possível que reconheça todos estes desenhadores e compreenda o seu valor, mas a minha mãe seja uma total desconhecida para mim?
Era uma boa pergunta. Ele não fazia ideia de como funcionava a amnésia. Abanou a cabeça.
– Talvez o teu cérebro só se lembre do que era mais importante para ti.
Cynthia virou-se para ele. A expressão maravilhada tinha-se esvaído do seu rosto.
– Achas que preferia os sapatos à minha própria família?
– Não sei – Will encolheu os ombros. – Não me fazias esse tipo de confidências.
Ela tirou os sapatos e devolveu-os à sua caixa. Como se tivesse perdido todo o interesse pelo closet, saiu e desapareceu pelo corredor.
Ele foi à sua procura e encontrou-a sentada no sofá, a olhar sem ver o horrível quadro moderno pendurado frente à mesa da casa de jantar.
– Estás bem?
– Sinto-me como se toda a gente andasse em pontinhas dos pés à minha volta. Como se houvesse um elefante no quarto que todos veem menos eu. Se te fizer algumas perguntas, respondes-me? Sinceramente?
Ele franziu a testa, mas assentiu e sentou-se ao seu lado no sofá. Tinham mesmo que falar.
– Tu e eu estamos apaixonados?
– Não – respondeu. Ela estava a ser direta e ele também ia sê-lo. Adoçar a verdade não ia ajudar ninguém.
– Então, por que estamos noivos? – os seus grandes olhos verdes pareciam desiludidos.