Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos. Andrea Laurence

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Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos - Andrea Laurence OMNIBUS DESEJO

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Devia abrir uma boutique e participar na Semana da Moda – animou-a Gwen.

      – Calma... – Cynthia riu-se. – Primeiro tenho de aprender a enfiar uma agulha. Depois, se o resultado não for horrível, vejo como continuar.

      – Isso é que é progresso na direção certa. Está a criar a sua nova vida. Parece-me fantástico.

      Cynthia gostou de ouvir isso. Tinha o apoio de Will, mas às vezes perguntava-se se ele se sentia obrigado a animá-la. A sua mãe tinha simulado interesse durante o almoço, mas era óbvio que teria preferido que se conformasse com o papel de «dama da sociedade», ou que trabalhasse para a empresa familiar. O apoio de Gwen inspirou-a.

      – A mim também. Oxalá o resto estivesse a correr igualmente bem.

      – Está a falar de quê? – perguntou Gwen.

      – Do Will e eu, por exemplo – Cynthia suspirou. Ele enviava-lhe mensagens contraditórias. Tinha passado de lhe dar conselhos para quando ele se fosse embora a beijá-la num banco do parque. Mas mesmo assim, tinha percebido a sua vontade de manter um pé na porta para fugir se fizesse falta. Não era bom sinal. – Não sei como vai. Ele parece distante...

      Cynthia sabia que tinha de guardar segredo sobre o fim do noivado e o sobre Nigel, que tinha começado a telefonar insistentemente sempre que Will ia trabalhar. Tinha pensado dizer a Will, mas seria vasculhar um passado que tinham decidido deixar para trás. Mais cedo ou mais tarde, haveria de cansar-se de ligar.

      – Talvez ele não saiba como agir. Têm passado muito tempo juntos e agora você é uma pessoa nova. As mudanças, quer sejam boas ou más, requerem sempre uma adaptação.

      Cynthia olhou para a metade do hamburguer e as batatas fritas que restavam no seu prato, que já tinha visto que gostava. Gwen tinha razão. A situação devia ser tão difícil para Will como para ela. Quando se beijaram no parque, percebera a sua batalha interior: uma parte dele desejava-a e outra tentava manter as distâncias. Não sabia qual delas tinha ganho.

      – Passou-se alguma coisa entre vocês desde que voltou para casa?

      – Só um beijo – replicou ela, corando como uma adolescente. Dada a sua amnésia, tinha sido como um primeiro beijo para ela.

      – Um beijo já é alguma coisa. Se não gostasse, não a teria beijado.

      – Mas não aconteceu mais nada desde então.

      – Eu não me inquietaria por isso – Gwen encolheu os ombros. – Talvez lhe preocupe a sua recuperação, ou a sua empresa. Você quer que aconteça alguma coisa?

      – O que quer dizer? – Cynthia franziu a testa.

      – É como se tivesse herdado o Will. Tecnicamente, escolheu estar com ele muitos anos, mas para a nova tu Cynthia ele é um desconhecido. Se encontrasse o Will na rua, atrair-lhe-ia?

      Cynthia tentou imaginar-se a jantar, por exemplo. Caía-lhe alguma coisa e ele apanhava-a. O Will da sua mente sorria e, de imediato, os seus olhos azuis-acinzentados, a sua aura, a sua força, o seu passo seguro, a sua forma de mexer-se, enfeitiçavam-na.

      Mexeu-se no lugar. Não recordava o passado, mas o seu gosto quanto a homens não tinha mudado com o acidente: não havia dúvida de que Will a atraía.

      A questão era se podia dar-se ao luxo de amá-lo. Ele tinha-lhe dito que pensasse bem e ela tinha decidido que queria uma segunda oportunidade, mas não confiava em si mesma. Não se conhecia e não queria voltar a magoar Will. Por isso, talvez fosse melhor acabar a relação, mas custava-lhe pensar nisso.

      – Acho que seria difícil resistir a ele – concedeu.

      – Então, porque resiste? Tem aí um dos homens mais apetecíveis de Manhattan. Independentemente do passado, não vejo razão para que não tente tirar o melhor partido da relação.

      Cynthia lembrava-se de uma boa dúzia de razões para não ficar com Will e só uma para ficar. Infelizmente, aquela razão era mais forte que o sentido comum.

      Desejava-o. Muito.

      E ia fazer todos os possíveis para construir uma nova relação e continuar com ele.

      George Dempsey estava sentado à frente de Will na mesa de mogno da sala de reuniões, coberta de papéis. Os advogados tinham preparado a documentação para o acordo de colaboração sobre o leitor de livros digitais. Mas Will percebia que não iam avançar muito.

      – Estou preocupado com a Cynthia – disse o seu futuro sogro, a olhar para um contrato sem focar.

      – Os médicos dizem que está a cicatrizar bem.

      – Não é a sua cara que me preocupa – respondeu George, deixando cair o contrato. – É a sua cabeça. A Pauline diz que não vai voltar à agência de publicidade e que também não quer trabalhar para mim.

      – Não é uma apaixonada pela tecnologia. Se antes não gostava, por que havia de mudar agora?

      – Talvez porque tudo o resto mudou. Passa o dia a desenhar vestidos. Tenho a sensação de que já não conheço a minha própria filha.

      – É justo. Ela também não te conhece a ti.

      – Não faças pouco da situação – disse George, irritado. – Preocupa-me a sua saúde emocional. E, na verdade, preocupa-me este casamento.

      Na cabeça de Will soou o sinal de alarme. Só Cynthia, Alex e ele sabiam da história de terem acabado. Ainda que se propusessem a tentar de novo, não havia nada escrito. O beijo no parque tinha sido fantástico mas, como estava preocupado com ir depressa demais e queimar-se de novo, tinha decidido recuar e distanciar-se um pouco naqueles últimos dias. Tinha-lhe comprado um presente para que lhe levassem a casa e pensava levá-la a jantar fora nessa noite, mas não podia predizer o futuro. George não assinaria qualquer contrato se achasse que a relação estava em perigo.

      – Talvez o casamento em maio seja precipitado. Pode ser que ela precise de mais tempo para se adaptar.

      – E tu? – George inclinou-se e fincou o seu olhar frio em Will. – Talvez estejas com dúvidas?

      – Por que diz isso?

      – Porque não parecem o mesmo casalinho feliz que não se largava. Já tinha notado o distanciamento antes do acidente. Não quero pensar que possas ser mau caráter ao ponto de abandoná-la agora, mas as pessoas nunca param de me surpreender.

      – Não tenho intenção de abandonar a Cynthia no estado em que se encontra. O que acontecer daqui para a frente é impossível de prever. Toda a relação pode fracassar a dada altura.

      – Sabes bem que eu prefiro fazer negócios com a família, que normalmente não te dá uma facada nas costas para comprazer os acionistas – George levantou uma sobrancelha. – Se tens dúvidas, mais vale dizer-me antes que assine isto – Gwen mexeu nos documentos.

      – É um bom acordo que beneficia ambas as empresas. O Observer também é um negócio familiar com sessenta anos de investimento. Entendo as suas reservas, mas garanto-lhe que, com ou sem casamento, o sucesso da Corporação Dempsey interessa-nos sobremaneira.

      – Mais vos

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