Meu Irmão E Eu. Paulo Nunes
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— Obrigado por vir, Aidan. Desculpe, mas não vou lhe acompanhar na inauguração da confeitaria.
Ele sorriu.
— Ei, garoto! A inauguração já acabou. Já são quase 22h.
Como eu dormi, meu Deus! Pensei.
Estávamos ali, comendo sonhos e conversando. Ele me perguntava o que fiz o dia todo, e depois me contou que seu pai, o Senhor Daan, tinha se sentido mal naquela semana. Explicou-me que, com a idade que o pai tinha, não podia mais beber e fumar como fazia antes. Aliviado, falou que foi apenas um susto, mas que o ocorrido tinha chamado sua atenção para a saúde do pai. Foi quando percebi que os sonhos acabaram.
— Não tem mais? — perguntei, sorrindo.
— Se quiser, vou comprar mais para você — ofereceu-se, gentilmente.
— Não precisa. Estou brincando. Vou tomar banho e depois assistiremos a um filme. Certo? — perguntei, dando as costas e caminhando ao meu quarto.
— Espero-o — respondeu, com a voz alta para que o ouvisse.
— Tem bebida na geladeira! — gritei, já tirando a roupa e entrando no chuveiro.
Rapidamente, sequei meu corpo e vesti um calção de pijama branco, penteei os cabelos e pus o meu Luna Rossa. Hum! Adoro Prada, meu Deus! Pensei. Chegando à sala de estar, já o encontrei sentado no sofá com a cabeça recostada e os olhos fechados. Os braços estavam apoiados nas almofadas e ele tinha uma cerveja à mão. Estava descalço, com as pernas abertas e tinha desabotoado os dois primeiros botões da camisa. Ele vestia uma calça sarja cáqui e uma camisa social de manga longa branca. Parei e o olhei. Não conseguia não olhar. E, enquanto meus olhos passeavam vagarosamente por aquele corpo exuberante, seu rosto encontrou o meu, e, abrindo os olhos, penetrou-me ele a pupila com seu olhar. Minha respiração parou. Meu coração acelerou e a adrenalina se apossou de mim. Oh, meu Deus! Estou com tesão! Pensei.
— Oi! Sente aqui. O que quer ver? — perguntou, calmamente, ainda me olhando.
— Não sei. Gosto mais dos filmes do streaming que da TV a cabo — respondi, sentando sobre minhas pernas no sofá ao lado dele.
Tomei o controle remoto e procurava algo para assistirmos, quando vi Patrick Dempsey na capa de uma comédia romântica.
— Adoro esse filme! — comentei, empolgado.
Ele sorriu.
— O que foi? Você não gosta? — indaguei.
— Achei que poderíamos ver um filme policial, mas tudo bem.
— Assistimos a este e, depois, a outro. Certo?
— Como você quiser — comentou, conformado com a minha escolha.
Fiquei feliz por Aidan ter aparecido. Estava me sentindo sozinho. Lembro-me que não gostava da ideia de passar tanto tempo sem o meu irmão. A presença dele me dava uma sensação de segurança. Estar com ele, naquela noite, era quase como estar com o meu irmão.
— Quer outra cerveja? — perguntei.
— Você não vai beber? — indagou ele.
— Não bebo.
— Você tem quantos anos mesmo?
— Dezesseis. Faço dezessete em março.
— Qual é o dia?
— Vinte e dois. Aidan, quer deixar eu assistir ao filme? Que coisa! — falei, querendo rir.
— Tá! Não falo mais. Vou pegar uma cerveja — e levantou-se sorrindo, caminhando até a cozinha, olhando para trás com aquele sorriso doce nos lábios.
Quando ele saiu, estiquei minhas pernas no sofá e deitei-me, apoiando a cabeça numa almofada, pertinho do lugar onde ele estava sentado. Retornando, ele disse:
— Levante a cabeça, por favor.
Forcei meu corpo para frente, ainda olhando para a TV. Ele sentou-se e disse baixinho:
— Pode deitar.
Concentrado no filme, inclinei meu corpo para deitar-me e percebi minha nuca repousando nas coxas dele. O quê? Estou no colo dele? Oh, meu Deus! Pensei. Ele logo tomou mais um gole de cerveja e a deixou na mesinha do telefone, ao seu lado direito. Respirou fundo e pôs a mão em meus cabelos, massageando-os levemente com a ponta dos dedos. Eu estava estático. Não conseguia falar. O coração a mil. Nenhum de nós falava nada. Ao longe, ouvia-se um barulho, parecia um toque de celular, mas não sabia ao certo. Será meu celular? Pensei. Depois não ouvi mais. Ainda com suas mãos por entre meus cabelos, percebi que ele me olhava e respirava aceleradamente. Parecia nervoso. Eu estava ansioso, e não conseguia me mover. O telefone fixo do apartamento, ao lado dele, desconcentrou-me. Tentei mover-me para atender, mas ele segurou minha cabeça e falou baixinho:
— Não, não. Fique aqui. Fique assim. Eu atendo — esticando a mão e tomando o telefone.
Era Marcus. Aidan perguntou como estava a viagem, e comentou que tinha passado no apartamento para saber se eu estava bem. E, ainda, que estávamos assistindo a um filme. E finalizou, perguntando quando ele voltaria.
— Claro! Vou passar o telefone para ele. Um abraço, meu amigo — encerrando a conversa com Marcus, dando-me o telefone, enquanto tomava mais um gole de cerveja.
— Seu irmão quer falar com você — sussurrou.
Já comecei dizendo que estava com saudade e que queria que ele me trouxesse um presente. Marcus me perguntou se Aidan iria dormir no apartamento, e eu disse que não sabia, mas achava que não. Ele lembrou-me que, se ele fosse dormir lá, poderia usar o quarto dele, avisando-me que no closet havia lençóis limpos. Disse, ainda, que estava com saudades, e prometeu que voltaria na quarta ou quinta.
— Se precisar de alguma coisa, peça a Aidan, certo? Um beijo, maninho. Amo você! — disse meu irmão, encerrando a ligação.
Aidan tomou o telefone e pôs-se a acarinhar meus cabelos novamente. Comentou, tentando quebrar o silêncio que ficou entre nós:
— Ele disse que a viagem foi boa, e que você não deve se preocupar com nada, e me pediu para lhe fazer companhia.
— Quero que ele volte logo — respondi.
Minutos depois, o filme já estava quase no final. Por alguns instantes, fechei meus olhos e apenas me entreguei àquele carinho gostoso. Aidan passeava a mão por todo o meu cabelo e fazia-me cócegas ao tocar minha nuca com os dedos. Sua mão estava mais suave e vagarosa, quase imperceptível. Foi quando não a senti mais. Por que ele parou? Pensei. E a resposta viria a seguir: ouvi um ressono. Ele adormeceu. Fiquei quieto por mais alguns instantes e baixei o volume da TV. Levemente, afastei-me e consegui me levantar sem o acordar. Desliguei a TV e caminhava ao meu quarto, quando olhei para trás. Vi-o. Estava relaxado, dormindo com a cabeça pendida em minha direção. Que homem, meu Deus! Ele é lindo! Pensei. Lá, apaguei as luzes e deitei-me na cama. Fechei os olhos e me percebi pensando em tudo que aconteceu. Por que ele fez isso?