Castrado. Paulo Nunes
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Parei por um instante e pensei que não sabia o nome da prostituta. Então, lembrei-me de que a tinha batizado. Nisso, respondi:
— Não sei o nome dela. Não perguntei.
— E como você a chama?
— Chamo-a de Rachel — e senti um tremor dentro de mim.
— Entendi, Gaius. Está na hora de encerrarmos. Vemo-nos na próxima sessão. Boa noite! — e desligou a câmera, encerrando nossa terapia, deixando-me angustiado.
Naquela noite fui dormir pensativo, mas acordei no dia seguinte disposto a explorar um pouco mais do Bairro da Luz Vermelha. Almoçando com Rachel, compartilhei alguns motivos que me faziam estar em Amsterdã e, também, meus planos para um futuro breve. Depois de me ouvir atentamente, senti em seus olhos o apoio que precisava para conseguir fazer o que queria naquela cidade e, ainda, que podia contar com ela para trabalhos futuros. E assim aconteceu. Ela me iniciou em um mundo que eu estava ávido por conhecer, mesmo já tendo sentido um gostinho no passado. Naquele momento, precisava de mais, e somente uma profissional do sexo poderia me dar as unhas certas para que eu pudesse coçar aquela micose que pinicava minha mente como uma comichão. Os quatro meses que passei em Amsterdã ao lado de Rachel foram o suficiente para que pudesse saber que havia muito a ser explorado dentro de mim e na minha cama também. Recordo-me bem de, naquele almoço, ter dado um passo importante rumo à minha descoberta e liberdade. Enquanto comíamos uma sobremesa, Rachel perguntou:
— Quanto tempo pretende ficar aqui? — e deu mais uma garfada na poffertjes.
— Vou passar quatro meses aqui em Amsterdã. Depois, irei a Gramado, no Brasil. Fico dois meses lá com Alyce e minha família. Retorno para Nova Iorque e vou começar a pôr em prática meu plano.
— Então, temos tempo para explorar bem o que pretende, não? — perguntou ela, tranquilizando-se de que conseguiria se organizar para fazer o que pedi a ela.
— Temos sim. Mas já quero duas coisas com urgência — e encarei-a com a cabeça meio baixa, enquanto ela se deliciava com aquele doce.
— Você quem manda. O que quer? — perguntou.
— Preciso de dois homens negros e bem-dotados para fazer uma dupla penetração anal em mim. E quero que seja gravado. Mas isso pode esperar para os próximos dias. Para hoje, quero me vestir de mulher e ficar na vitrine do Bairro da Luz Vermelha a noite inteira. Hoje, quero ser um travesti de programa — e passei a língua em meus lábios, tentando absorver mais o sabor do recheio de poffertjes, sentindo a luxúria se agitar dentro de mim.
Como em um lampejo, percebi-me dentro do avião que me levava ao Havaí para encontrar Aidan e seu pai morto. Passei a madrugada inteira pensando e lembrando o que aconteceu em Amsterdã. Recordei o momento em que retornei à Nova Iorque pela primeira vez, de como foi difícil convencer Aidan que precisava de um tempo a sós comigo mesmo, da ajuda que Alyce me deu ao levar minha família para o Brasil e ficar com eles durante minha viagem à Holanda e, ainda, de tudo que vivi com Rachel em Amsterdã durante aqueles meses. Tudo isso me veio à mente durante aquele voo. Horas depois, pisquei os olhos novamente, tentando me certificar de que não havia ficado preso no passado e pude enxergar nitidamente Alyce, que cochilava em uma poltrona no avião à minha frente. Gaius, o avião já vai aterrizar. Alyce precisa saber o que vai acontecer. Pensei e, logo, chamei-a baixinho, tentando acordá-la. Ela e eu conversávamos quase sussurrando para que os seguranças não ouvissem o que falávamos. Disse a ela que um vídeo meu havia sido divulgado na internet na noite anterior. Depois de explicar a natureza do vídeo e deixar claro qual seria a minha resposta à imprensa, preparei-a, afirmando que tudo que havíamos planejado iria acontecer a partir daquele dia. E, também, que era o momento de ela e Max, meu relações públicas, alinharem as ideias e estratégias mais ainda. Pedi que ela deixasse de lado as diferenças que existiam entre eles e focassem no trabalho. E, ainda, que ficasse calma e não demonstrasse nenhum tipo de vulnerabilidade, principalmente na frente de Aidan, pois era necessário que ela confirmasse sempre as mentiras que eu contaria a ele para justificar tudo que estaria por vir. Alyce não se sentia confortável em mentir ou executar o que tínhamos planejado, mas, como profissional que sempre foi, assentiu com a cabeça, afirmando que entendeu o que falei e que faria o que pedi. Ainda sussurrando, ela fez uma última pergunta:
— Doeu? — e fez cara de nojo para mim.
— Sim. E muito. Senti as carnes rasgarem quando o homem enfiou o segundo pau no meu cu. Mas foi maravilhosa aquela dor — respondi.
Após aterrizarmos, pouco tempo depois chegamos ao resort onde o Sr. Daan morreu. Fomos levados pelos funcionários até a suíte em que Aidan estava. Conhecendo-o bem, não foi surpresa encontrá-lo como o encontrei. Ao abrir a porta da suíte, vi Aidan em pé na varanda, olhando para o horizonte, de costas para mim. Com certeza, passou a madrugada inteira sem dormir, visto que chegou ao hotel algumas horas antes de mim. Em uma mão ele segurava um copo de uísque. Entre os dedos da outra, um cigarro. Ele só fumava quando estava nervoso ou muito feliz. Percebendo que havíamos chegado, Aidan virou o rosto e me viu. Seus olhos cor de âmbar não podiam ser percebidos naquele momento. Lá, havia apenas a vermelhidão de alguém que chorou a madrugada inteira, coçando os olhos com as mãos. De frente para ele, contemplando-o em silêncio, vi-o soltar o cigarro e o copo de uísque no chão e cobrir o rosto com as duas mãos, chorando desesperadamente, entre gritos contidos e lágrimas. Naquele instante, percebi-o frágil e, ao mesmo tempo, sexy. Por que sinto tanto tesão ao vê-lo assim, belo, gostoso e necessitado de carinho e colo? Pensei e corri ao encontro dele, abraçando-o.
— Sinto muito, meu amor. Sinto muito pelo seu pai — e apertava seu peito contra o meu em um abraço demorado, enquanto ele, aos prantos, gritava em meu ouvido.
Aidan estava muito nervoso e agitado, então, resolvi levá-lo para a cama. Ajudei-o a se deitar, deixando-o confortável. Depois, retirei seus sapatos e deitei-me ao seu lado. Ele chorava feito uma criança com fome e tentava se aninhar em meu colo, como se aquilo pudesse fazer diminuir a dor que sentia pela morte do pai. Repousei sua cabeça entre minhas pernas e comecei a acarinhar seus cabelos. Lentamente, vi-o se acalmar e controlar sua respiração. Nisso, puxei seu corpo, fazendo-o se deitar sobre a cama e descansar sua cabeça no travesseiro. Seus olhos encontraram os meus.
Ele fica mais lindo ainda, enquanto chora. E tentei parar de ter aqueles pensamentos sexuais naquele momento.
— Obrigado por ter vindo, meu amor — disse ele com a voz embargada.
— Desculpe não ter vindo antes, meu amor. Alyce não me acordou. Não sabia de nada. Gostaria de ter vindo com você para lhe dar apoio — respondi, deslizando meus dedos em seu rosto molhado.
— Você me ama? — perguntou ele, já fazendo cara de choro novamente.
— Claro que o amo. Você é a coisa que mais amo em minha vida. Você é o meu homem — e levei meus lábios aos dele, tocando-os castamente em um beijo singelo.
— Quero fazer você feliz em todos os dias da sua vida. Todos os dias da sua vida quero fazer você feliz — e ficou repetindo várias vezes.
Ele está bêbado. Ótimo! Pensei e, logo, respondi:
— Eu sei, meu amor. Olhe! Sei que não é o momento, mas prometi a mim mesmo que de hoje não passaria. Depois do que vivemos na nossa cama ontem, e de tudo que já passamos juntos, não tenho mais motivos para hesitar em responder