Castrado. Paulo Nunes
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Estava alguns passos à frente dela. Parei, encarei-a, enquanto me aproximava, e já com meus lábios tocando aqueles brincos baratos, sussurrei em seu ouvindo:
— Em uma das brigas, tomei a arma, enfiei no cu da cadela e atirei. A bala saiu pela boca dela. Mesmo morta ao chão e sangrando pela boca e pelo cu, fiz questão de dar mais dezessete tiros na cabeça. E, antes de sair, chutei com força sua barriga e vi mais sangue espirrar de sua boca — e afastei meu rosto do dela, encarando seus olhos com satisfação, aguardando sua reação ao que tinha ouvido.
Rachel me olhou sério, e, instantes depois, comentou:
— Eu não teria feito nada diferente do que fez — e deu uma gargalhada, novamente repousando suas mãos em seu quadril.
Nisso, percebendo que o gin já tomava conta do meu corpo e mente, pensei: A bebida afrouxa sua boca, Gaius. Cuidado com ela. Não esqueça que não deve confiar em ninguém, muito menos em uma puta.
Rachel e eu entramos no Bananen bar, um clube erótico de stripers do Bairro da Luz Vermelha, que carrega em sua história a audácia de Maarten Lamers, ao driblar as autoridades locais na década de 1970. À época, diversas licenças de bebidas foram negadas ao pequeno estabelecimento, onde cafés eram servidos por mulheres nuas aos clientes. Engenhoso, Maarten procurou o chefe de polícia e afirmou que tinha fundado uma igreja para satanás dentro do clube, o que conferia a ele a partir daquele momento o direito de ser chamado de Monsenhor Lamers. E, ainda, que as bartenders eram irmãs da ordem de Wallburga, e os seguranças na porta eram colecionadores. O atrevimento de Lamers excedeu todos os limites ao impor o ato de morder a banana como um ritual religioso. Arrogando-se o direito de liberdade religiosa, o empresário conseguiu manter o clube de sexo aberto e funcionando. Suas moças serviam cafés e bebidas totalmente peladas, e, ainda, dançavam sobre os homens, enquanto descascavam bananas e as chupavam e mordiam de forma provocante, característica essa que conferiu sucesso ao local desde o seu início. O ápice dos shows das stripers ocorria quando elas retiravam as bananas das cascas e enfiavam em sua vagina, arreganhando suas pernas sobre as mesas dos homens e fazendo-os mordê-las até que os lábios deles tocassem e lambessem seus clitóris. A intitulada igreja ganhou notoriedade e publicidade com o tempo, chegando à marca de mais de quarenta mil fiéis, o que despertou a atenção do Departamento de Justiça e de Impostos da Holanda, visto que igrejas são isentas de pagamentos de tributos ao Governo. Depois de uma cautelosa investigação, descobriu-se que Lamers já havia faturado milhões de euros com o clube de sexo disfarçado de igreja de satanás e que vivia viajando de país em país, sendo capturado em um castelo na França anos depois. Para evitar ficar preso, um acordo de milhões de euros foi feito com o Departamento de Justiça holandês, o que incentivou Maarten a continuar seus investimentos no mundo do sexo, tornando-se, depois, proprietário do teatro erótico Casa Rosso, onde começou a trabalhar como guarda antes de adquirir fortuna, o Hospital Bar, o Museu erótico e, finalmente, um peep show, compondo assim o Grupo Otten, um dos mais influentes do entretenimento adulto. O homem que driblou o Governo holandês por anos enricou incentivando e alimentando o desejo de sexo das pessoas.
É claro que eu não sabia dessa história na noite em que entrei no clube de streepers com Rachel, pois, além de estar começando a ficar bêbado, queria mesmo era dançar e preparar-me para o sexo que teria com Finn e Rachel depois daquela balada. Mesmo não sabendo da história das bananas nas vaginas, isso não me impediu de, naquela noite, comê-las e lamber o clitóris daquela moça que abriu as pernas para mim sobre uma mesa. Uau! Que lambida gostosa. Gostei de fazer isso em público. Ela pareceu não se importar com o que fiz, embora tenha olhado para o segurança do clube, ao perceber que eu a lambi rapidamente. Com certeza, aquela moça era novata por lá, pois não era permitido fazer sexo durante a performance das streepers, e era papel delas não deixar que os clientes se empolgassem demais. Se pudesse, comeria você aqui na frente de todos e gozaria em seus seios caídos, sua vadia! Pensei, enquanto encarava os olhos castanhos daquela moça, pintados com um delineador barato e vulgar, vendo-a sair da minha mesa e caminhar para rebolar suas nádegas flácidas sobre outros homens.
O clube era escuro, e o jogo de luzes conferia uma sensação quase psicodélica a quem estava lá. Suas paredes de tijolos, cuidadosamente decoradas com compridas mangueiras de luz em cores alaranjadas, as mesas redondas e pequenas, as áreas com pequenos sofás, as moças quase nuas transitando pelo salão, e a música eletrônica, quase ensurdecedora, explicitavam a proposta do ambiente. Tudo, até mesmo os mínimos detalhes do Bananen bar, tinha o propósito de fazer seus clientes respirarem sexo a todo instante. E isso foi o suficiente para eu entender que aquele lugar seria visitado por mim várias vezes durante o tempo em que ficaria em Amsterdã. E eu estava certo.
Rachel quis continuar bebendo jenever. Ela parece ser nacionalista. Só vai beber esse gin a noite inteira? Pensei, mas não disse nada. Eu precisava de algo mais exótico, então, imaginei que a mistura de molho inglês, suco de tomate e pitadas de pimenta cairiam bem àquele momento.
— Minha amiga precisa de uma garrafa de jenever. Para mim, um bloody Mary. Sei que a casa está lotada, mas aqui tem um incentivo para você não demorar a trazer minhas bebidas — disse eu ao garçom, quase gritando em seu ouvido, enquanto enfiei no bolso de sua calça uma cédula de cem euros, corrompendo-o.
Ele mirou bem em meus olhos e sorriu para mim, balançando a cabeça que sim, enquanto terminou de enfiar a cédula em seu bolso com a mão, saindo rapidamente para pegar nossas bebidas. O que o dinheiro não faz, não é?
A garrafa de gin tinha menos da metade da capacidade. Eu já devia ter tomado uns cinco ou seis drinks. Passaram-se algumas horas desde que chegamos ao clube. Quase não sentia meu corpo, mas, mesmo assim, Rachel e eu não parávamos de dançar. Em um determinado momento, ela sensualizou para mim e simulou um streap-tease, o que chamou a atenção de vários homens ao nosso redor. Deslizando suas mãos pelo meu corpo, enquanto abaixava-se, simulando sexo oral em mim, ouvíamos os gritos dos homens, que sacudiam seus punhos fechados em círculos pelo ar e gritavam, sincronicamente:
— Chupa! Chupa! Chupa...
Que lugar exótico! Quero transar aqui no meio de todos. E com todos também. Pensei e senti um ser dentro de mim ficar eufórico. Nisso, olhei para baixo e encontrei os olhos pretos de Raquel, fitando-me, provocando-me, simulando que chupava meu pênis, enquanto todos aqueles homens continuavam gritando para que ela baixasse minha calça e abocanhasse meu membro. Em um movimento natural, mais uma vez, Raquel sacudiu vagarosamente seu cabelo para trás, o que me permitiu ver suas orelhas e aqueles brincos cafonas. Senti minha pupila dilatar e meus dentes se apertarem. No impulso, agarrei os dois braços de Raquel com as mãos firmemente, levantei-a e pressionei minha boca contra a dela, explorando-a com minha língua. Era impetuosa a forma como eu a beijava, e, com o mesmo ímpeto e tesão, ela respondeu. Os homens que gritavam enlouqueceram ao ver aquele beijo, e, também, quando puxei o corpo dela para o meu e dei um tapa em suas nádegas, apertando-as. Que gosto maravilhoso essa mescla de gin e suco de tomate. Pensei.
Dançava distraidamente no meio do salão do clube, que, horas depois, não tinha tantas pessoas, quando Rachel me puxou pelo braço e disse:
— Está na hora. Vamos? — e fez sinal para que eu pagasse a conta e fôssemos encontrar o garçom holandês.
Na porta de saída do bar onde Finn trabalhava, eu fumava um cigarro, enquanto esperava Rachel trazê-lo. Instantes depois, vi-o chegar com ela.
— Oi! — disse ele, timidamente.
— Oi! — respondi com a voz meio embargada.