Castrado. Paulo Nunes

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Castrado - Paulo Nunes

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o que era, sem máscaras ou dissimulações. Adoro vê-la sorrir dessa forma tão estapafúrdia!

      Nossas batatas acabaram, e, então, ela limpou seus dedos em um guardanapo, enquanto falou:

      — Mas não seja mal-educado comigo. Não me deixe aqui falando sozinha. Conte-me um pouco de você também.

      Balancei a cabeça em negativa, sorrindo para não parecer rude com ela, já sentindo algumas emoções pulsarem dentro de mim.

      — Tenho certeza de que um homem belo como você deve ter histórias interessantes para contar, não é? Algo que aconteceu no colégio, talvez? Uma mulher por quem se apaixonou? Ou um homem? Fale-me alguma coisa. Contei quase a minha vida inteira para você. Tenho certeza de que...

      — Você não entenderia o que fiz — disse, interrompendo-a com uma única frase, percebendo seus olhos apertarem-se e sua cabeça mover-se para o lado, analisando-me melhor.

      Instantes depois, com a voz suave e maternal, comentou:

      — Por que não tenta me contar e me deixa decidir se entendo ou não?

      Balançava minha cabeça, tentando controlar minha emoção, buscando forças para sorrir, quando me percebi desabar em um choro. Logo, solucei e cobri meu rosto com as mãos, evitando minha vergonha. Ela ficou em silêncio até que eu conseguisse controlar minhas lágrimas e limpá-las de minhas bochechas. Então, sorriu para mim e disse:

      — Acho que sei o que quer de mim esta noite. E por mais que pense que não vou conseguir entender, quero ouvir o que está preso aí dentro do seu coração.

      Eu sorri para ela, como se dissesse que iria contar o que aconteceu. Nisso, fiz força para controlar a gargalhada que quis dar, quando a vi gritar para o garçom, chamando a atenção de todos que estavam no bar:

      — Finn, traga-me dois jenevers! — e, mais uma vez, repousou seu cotovelo sobre a mesa, batendo levemente os dedos sobre as bochechas, aguardando que eu começasse a falar.

      Respirei fundo e contei minha história a ela. Naquele momento, tive vontade de revelar um segredo que somente eu sabia. Uma realidade aparentemente inofensiva, mas que, por trás dela, escondia o quão complexa e nebulosa minha mente havia se tornado. Evitava pensar sobre aquilo em lugares não administrados. Era perigoso e fatal acessar esses quartos escuros da minha mente, principalmente com pessoas que não poderiam oferecer a dose de compaixão e empatia que tal ação exigia. Decidi não falar e manter a farsa que propaguei no passado.

      Após me ouvir atentamente, aquela mulher, ainda tentando se recuperar do choque, fez-me apenas uma pergunta:

      — Quanto tempo precisará esperar?

      — Não sei. Os advogados acham que conseguem fazer um acordo com a promotoria e tentar baixar a quantidade de anos. O julgamento ainda não aconteceu. Tudo é muito incerto — e tentei me controlar para não chorar novamente.

      — Sinto muito. Lamento que tenha passado por tudo isso. Mas veja pelo lado positivo. Depois que tudo isso acabar, poderá ter sua vida de volta — e sorriu com a boca e com os olhos, tentando me consolar.

      — É verdade. Mas eu estou organizando um plano para executá-lo ao longo desse tempo de espera. Não sei ao certo por que vim a Amsterdã, mas, pelo que já pensei em fazer, precisarei de alguém como você. No momento certo, vou procurá-la — e vi seu rosto se encher de curiosidade.

      — Pode contar comigo. Ficarei feliz em ajudar — e piscou os olhos para mim.

      Mais aliviado e calmo, depois de ter chorado e contado minha história para ela, tentando harmonizar a conversa novamente, comentei:

      — Você ainda não me disse seu nome.

      Ela repetiu aquele gesto de rebolar o pescoço para trás, sacudindo levemente o cabelo, exibindo seus ombros, tentando sensualizar para mim. Nisso, meus olhos encontraram suas orelhas, que prendiam um par de brincos discretos. Eles tinham uma espessura fina, em forma de espiral, com detalhes de pequenos círculos indianos dourados. Vendo-os, paralisei meu rosto e pus-me a observá-los com mais atenção, enquanto ela me encarava curiosa, sem nada dizer, tentando entender o motivo da mudança das feições e da minha testa franzida. Percebendo que eu observava sua orelha esquerda, virou levemente à cabeça para a direita, a fim de facilitar minha visão. Ela e eu estávamos próximos. Então, pude levar minha mão até o brinco e tocá-lo. Contemplando o lóbulo da orelha e aquele acessório pendido, ouvi dela:

      — São lindos, não? Quer usá-los? — perguntou e, logo, deu um sorrisinho de boca fechada para mim.

      Ainda com os olhos fixos em suas orelhas, acariciando o lóbulo e o brinco, respondi.

      — Rachel. Todo o tempo em que estiver comigo, seu nome será Rachel — e pisquei meus olhos, já com minha pupila fixa na dela, ao abri-los.

      Ela não entendeu nada, mas achou interessante poder usar outro nome pelo tempo que estivesse comigo. As expressões de seu rosto confirmaram isso para mim. Então, comentou e perguntou, de forma sugestiva:

      — Você que manda. Qual o seu nome? Quer ir para um lugar mais íntimo? — e lançou um olhar de luxúria sobre mim, demonstrando claramente que desejava me levar para a cama.

      Encarei-a, depois de afastar minhas mãos de sua orelha, retornando meu corpo para a posição que estava antes, e respondi:

      — Meu nome é Gaius. Iremos, sim. Quero você e Finn na minha cama hoje.

      Ela moveu sua cabeça para baixo, quase encostando o queixo no ombro, expressando seu semblante de surpresa e admiração por eu estar dizendo o que queria para aquela noite, e falou:

      — Acho que os jenevers estão começando a fazer efeito — e fez cara de safada para mim.

      — Parece que sim — respondi e devolvi o semblante de lascívia para ela.

      — Preciso falar com ele antes. Não sei se vai querer — e levantou-se da mesa para tentar realizar o meu desejo.

      Nisso, eu disse:

      — Ofereça dois mil euros. Se ele recusar, mande-o à merda, pois ele não vale tudo isso — e, logo, ouvi-a gargalhar escandalosamente.

      Instantes depois, ela voltou e confirmou:

      — Ele topou por mil e quinhentos. Os outros quinhentos, você paga para mim — e piscou os olhos, achando-se esperta demais por ganhar mais do meu dinheiro em tão pouco tempo.

      — Você merece! — e dei três batinhas com as palmas das mãos, aplaudindo-a pela proeza em convencer um garçom holandês a fazer sexo comigo e com ela ao final do expediente.

      — Vou pedir algo para comermos e um pouco mais de... — falava, quando a interrompi, dando o último gole no gin holandês, logo batendo a pequena taça na mesa com força.

      — Rachel, pergunte a Finn a que horas devemos vir buscá-lo aqui. E leve-me a algum lugar para dançar. Agora.

      Do lado de fora do bar, enquanto caminhávamos para um clube erótico de dança, Rachel e eu gargalhávamos ao tentarmos adivinhar qual o tamanho do pênis de Finn. O clima que se instalou entre nós era agradável e leve. Ela não estava bêbada, e eu

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