Castrado. Paulo Nunes

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Castrado - Paulo Nunes

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Aidan se mantinha inflexível em não me deixar viajar, reafirmando, por diversas vezes, que o que tinha aceitado fazer por mim era contra seus princípios e, também, que por causa daquilo, tinha a certeza de que perdeu a amizade de um amigo para sempre. Ele cobrava a minha presença como recompensa por aquilo que aceitou fazer por mim. De fato, sem ele, jamais teria conseguido o que queria naquele momento. Estávamos em um impasse, pois eu queria viajar, mas não podia romper com ele, visto que já tinha em mente o que faria em um futuro próximo. Só precisava encontrar uma maneira de convencê-lo a me deixar viajar. Então, comecei a chorar, dizendo coisas desencontradas, argumentando que não conseguia ficar em Nova Iorque naquele momento. Não demorou muito e, logo, vi o rosto dele se compadecer ao olhar para mim. Nisso, emocionado, abraçou-me e rendeu-se, afirmando que eu poderia viajar, mas que sabia que eu não o procuraria depois, pois já tinha mentido para ele uma vez. Apertei o corpo de Aidan contra o meu com força, solucei e afirmei que não se preocupasse, pois voltaria para ficar com ele sim. Ele beijou meus lábios castamente e, em sua pupila, vi que não acreditava no que eu dizia. Não tenho certeza, mas penso que quis me afastar de Aidan naquele momento por medo de não me controlar e estragar o plano que já arquitetava em minha mente.

      No dia seguinte àquela conversa, em minha suíte no hotel, com minha mente agitada e inquieta, pensava em várias coisas. Uma delas era que não queria viajar com Rosa, Juanita e Arthur, que se tornaram a minha família e companhia. Queria viver a minha tristeza sozinho. E, assim, fiz. Onde vou deixá-los, meu Deus? Pensava, enquanto acendia um cigarro atrás do outro e secava, rapidamente, algumas taças de vinho.

      Por mais que Arthur e eu ensinássemos algumas coisas do inglês para Rosa e Juanita, elas ainda não estavam preparadas para ficarem em um país onde precisassem falar somente em inglês, então, pensei que deveria deixá-los em uma cidade onde pudessem falar espanhol, enquanto eu faria uma viagem com o objetivo claro de chorar e viver a minha dor. Não tinha ideia de onde deixá-los. O que faço? Onde os deixo? Ajude-me, meu Deus! Estava muito abalado pelo que havia acontecido. Não sabia o que fazer e nem a quem pedir ajuda, visto que Aidan era totalmente contra tudo aquilo. Em um momento de claridade em minha mente, lembrei-me de Alyce, que, à época, ainda trabalhava para a House’s Barrys.

      Recordo-me bem do momento em que ela entrou na suíte do hotel em que eu estava. Vendo-a, levei minha mão à boca e caí em um choro desesperado. Ela me abraçou, acalmou-me e pediu para eu contar tudo que aconteceu. Depois de duas garrafas de vinho e vários cigarros, ouvindo-me atentamente, horas depois, Alyce perguntou como poderia me ajudar.

      — Não sei, Alyce. Não sei o que fazer. Estou confuso. Vi minha vida desmoronar em uma fração de segundos. Arthur, Rosa e Juanita são a minha família, e não consigo deixá-los com qualquer pessoa e em qualquer lugar. Prometi a mim mesmo que cuidaria deles. Mas não consigo ficar aqui. Sinto-me asfixiado nesta cidade. Preciso sair daqui, se não enlouquecerei. Estou com medo de cometer uma loucura na minha vida. Preciso reorganizar minhas ideias e penso que ficar sozinho será bom para mim. Entende o que digo? Mas não sei o que fazer e nem para onde ir. Preciso deixá-los em um lugar seguro. Tenho medo do que possa acontecer com eles. Estou com medo. Por favor, ajude-me. Meu coração está cheio de dor e ódio — e levei minhas mãos ao rosto, tentando abafar aquele choro desesperado, que pulsava da minha face em meio a tantas frases desordenadas.

      Alyce me abraçou, levou-me para a cama, deu-me um copo de água e pediu para eu dormir, afirmando que ficaria comigo na suíte até eu acordar, e, também, que pensaria em uma solução.

      Horas depois, acordei mais relaxado. Abrindo os olhos, vi-a sentada em uma poltrona, com o celular na mão, digitando rapidamente. Parecia estar conversando com alguém por mensagens. Movendo-me na cama, os olhos dela voltaram-se para mim, e, logo, seu sorriso apareceu, acalmando-me. Ela pegou um copo de água, caminhou em minha direção e perguntou:

      — Dormiu bem? — e estendeu o copo diante de mim.

      — Sim. Onde eles estão? — respondi, dando um gole.

      — Arthur e Juanita estão com Rosa na outra suíte. Estão brincando. Não se preocupe — e sentou-se na cama, olhando-me com ternura.

      — Por favor, ajude-me, Alyce — e ameacei chorar novamente.

      Ela me interrompeu, pedindo com a voz suave:

      — Calma, Gaius. Vamos ter calma e pensar em alguma coisa juntos. Enquanto você dormia, tive uma ideia. Quero ver o que acha.

      — Sou todo ouvidos — respondi, sentando-me na cama, atento, curioso e ansioso para ouvi-la.

      — Você quer um tempo para ficar sozinho e pensar em tudo que aconteceu, certo? Para isso, precisa que Arthur, Rosa e Juanita fiquem em um lugar tranquilo com alguém de confiança, pois teme que alguma coisa aconteça a eles, certo?...

      — Correto — afirmei, interrompendo-a.

      — Desde que vim morar em Nova Iorque com minha tia, nunca mais voltei à minha cidade natal, nem mesmo depois que ela faleceu. Decidimos que ela seria cremada aqui. Faz muitos anos que não vejo minha mãe e irmão, Gaius. Meu pai faleceu quando ainda era criança. Recentemente, meu irmão vem relatando que tem sido cada vez mais difícil cuidar sozinho da minha mãe. Ela tem Alzheimer. Precisamos nos preparar para sua partida em breve. Imaginei que, se você concordasse, poderia me dar alguns meses de férias da empresa para visitar minha família. E Arthur, Rosa e Juanita poderiam ficar comigo lá pelo tempo em que você faz sua viagem. Garanto que eles ficariam seguros comigo e minha família. Na casa, só mora minha mãe e meu irmão. Ela é grande e tem vários quartos. Não faltaria conforto a eles. Assim, posso visitar minha mãe, que está no final da vida, e você pode fazer a sua viagem sem se preocupar com eles — falou com a voz branda, tentando não tremer o queixo ao mencionar a mãe doente, enquanto deixava transparecer a saudade que sentia dela e do irmão.

      Senti uma faísca de esperança surgir dentro de mim, enquanto ouvia o que Alyce dizia.

      — Sinto muito pela sua mãe, Alyce. Como é a cidade onde sua família mora? — perguntei.

      — Minha mãe mora em uma cidade no interior de um estado brasileiro. Não passa de quarenta mil habitantes. É um lugar simples e seguro, com uma proposta cultural e de eventos que atrai turistas do mundo inteiro. É um bom lugar para se viver e descansar — afirmou ela.

      A esperança dentro de mim só aumentava a cada palavra que ela proferia. Animado com a ideia, agradeci por fazer aquilo por mim e perguntei:

      — Onde sua mãe mora?

      — O nome da cidade é Gramado, no Brasil.

      Depois que Alyce e eu nos entendemos sobre o tempo que eu precisava, e como as coisas deveriam funcionar na minha ausência, já entusiasmado por ela ter oferecido uma solução para aquela situação, tomei meu celular nas mãos e liguei para meu advogado. Enquanto Alexander não atendia, levantei-me da cama cheio de ímpeto, cobri meu corpo com o roupão e, logo, procurei uma taça de vinho para dar um gole.

      — Gaius? — falou ele ao atender a ligação.

      — Alexander, por favor, cuide para que a secretária do meu irmão, Alyce Stein, seja afastada de suas atividades na empresa. A partir de agora, ela não irá trabalhar mais no escritório, e isso será por tempo indeterminado. Ela enviará um e-mail a você com tudo que precisa para que transfira cem mil dólares para a conta pessoal dela. Ela passará alguns meses fazendo alguns trabalhos pessoais para mim, e o salário dela será mantido durante todo esse tempo. Alguma pergunta?

      — Não, Gaius. Vou fazer o que pediu agora e aguardo o e-mail

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