Castrado. Paulo Nunes

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Castrado - Paulo Nunes

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continuava me examinando com aqueles olhos apertados, enquanto o vento balançava seus cabelos molhados. Próximo do meu corpo, perguntou, deixando escapar a fumaça por sua boca e nariz:

      — O que você quer?

      — Que você meta no meu cu com força e goze na minha cara. E se prepare, pois não sairá daqui tão cedo — respondi.

      No outro dia, Alexander e Alyce me esperavam em minha suíte às 17h para uma reunião. Juanita, Arthur, Rosa e eu tínhamos saído no início da tarde para almoçar e comprar alguns livros de psicanálise para mim, visto que já pesquisava respostas sobre a minha vida há muito tempo. Naquele momento, a leitura se apresentava como um refúgio para a espera dolorosa que vivia. Fazia questão de incentivar as duas a ler também. Rosa não se interessava pela prática, Juanita demonstrava entusiasmo ao me contar o que tinha aprendido após ler cada livro, e Arthur já era acostumado a ler desde criança, o que não exigia, de mim, nenhuma motivação, mas estava muito focado em assistir a vídeos pela internet, o que o dispersava da leitura. As aulas diárias de inglês estavam funcionando para elas, pois já compreendiam bem o que escutavam e até conseguiam formular algumas frases corretamente. Por isso, incentivava a leitura. De fato, James fazia um excelente trabalho. De volta ao hotel, depois de me despedir deles, tranquei a porta e joguei as sacolas sobre a cama. Na mesa, havia dois mackbooks ligados e três celulares quase se perdiam no meio de tantas agendas e papéis soltos. Alyce e Alexander trabalhavam a todo vapor.

      — Oi! — saudei-os e, logo, procurei uma taça para dar um gole no vinho.

      — Temos muitas coisas para resolver, Gaius — comentou Alyce, empolgada, antecipando-se nos assuntos.

      — Alexander, o contrato de confidencialidade de Alyce está pronto? — perguntei e dei um gole.

      — Sim. Quer revisar? — respondeu ele.

      — Está de acordo com a última revisão?

      — Sim.

      — Alyce, por favor, leia e assine. Vou adiantando com Alexander. Daqui a pouco trataremos dos seus assuntos — e olhei para o advogado, sugerindo que começasse a falar, enquanto acendi um cigarro.

      — Gaius, estamos de olho em três empresas. Não são tão grandes quanto às últimas que apresentamos a você, mas é possível obter um lucro significativo depois de finalizarmos. Duas de fast food e a outra é uma casa de entretenimento adulto — e levantou-se, caminhando até mim com duas pastas de relatórios que continham o histórico, a fundação, o segmento de atividade, localização, balanço financeiro dos últimos três anos, um plano de investimentos para reforma, o valor da venda e a probabilidade de lucros para mim, entre outras informações que não me recordo.

      — Você sabe que não olho essas coisas, Alexander. Tenho confiado no seu trabalho. Até agora, nossa parceria tem funcionado bem para ambas as partes — e joguei as pastas sobre a cama, depois de receber das mãos dele.

      — Sabe que preciso fazer isso, Gaius. Se tiver alguma dúvida, pode consultar a qualquer momento.

      — Qual a porcentagem de lucros para mim ao final de tudo? — perguntei, incisivamente.

      — Estimamos um lucro de quarenta e três por cento sobre o valor da venda. Depois dela, pagamos o investimento e lucramos isso.

      — Estamos falando de quanto, Alexander? — e dei um trago no cigarro, atento à resposta que daria.

      — Quase uma dezena de milhões de dólares, somando as três empresas — e sorriu levemente para mim, fazendo sinal com os olhos de que não queria explicitar o valor exato por causa de Alyce.

      — Realmente, é bem menos do que lucramos no investimento anterior, não? Quanto tempo? — perguntei.

      — Acredito que três ou quatro meses, no máximo. Se desejar, posso contratar mais pessoas e acelerar as reformas, finalizando em até três meses. Acho que consigo — e me olhou, esperando uma resposta.

      — O negócio é seguro, Alexander?

      — Muito seguro. Estão vendendo muito abaixo do valor de mercado, Gaius. Problemas familiares e amorosos.

      Quem não os tem? Pensei. Afastei-me da cama onde estava e caminhei para a varanda, sendo acompanhado por ele. Sentindo o vento bagunçar meus cabelos, continuei, agora com mais liberdade, já que Alyce não podia nos escutar.

      — É a sexta empresa de fast food que você me sugere comprar, Alexander. Não entendo sua obsessão nesse segmento. Poderíamos lucrar muito mais com empresas locais e que não façam parte de uma rede, pois os investimentos são menores. Lucramos bastante, é fato, mas acabo tendo que soltar mais grana nas reformas. Poderíamos investir menos e lucrar a mesma coisa — argumentei, não compreendendo a lógica que movia os pensamentos do meu advogado e administrador financeiro.

      — Gaius, as empresas de fast food em países como China, Japão, Brasil e Reino Unido são extremamente lucrativas, principalmente nas regiões mais pobres. Nossos compradores gostam de fast food. Não esqueça que nós não ficamos com as empresas. Compramos por um bom preço dos proprietários endividados, reformamos e vendemos com valor bem-alterado para nossos compradores. Nossos lucros com fast food só crescem. Desculpe, mas disso você não pode reclamar — e impôs seu profissionalismo brandamente sobre minhas opiniões amadoras.

      — É verdade. Onde ficam essas empresas?

      — As de fast food ficam em São Paulo, Brasil. A casa de entretenimento adulto fica em Manhattan, não muito distante do Rio Hudson, em um local reservado.

      Hum! Aqui em nova Iorque? Pensei e senti uma enorme curiosidade latejar em meu ser. Depois de mais um gole no vinho e alguns instantes em silêncio, assenti:

      — Você tem minha autorização para comprar e reformar as empresas de fast food no Brasil. O clube de sexo, eu quero conhecer antes de autorizar. Diga ao proprietário que iremos na sexta à noite, com a casa aberta. Quero ver o que acontece lá dentro — e dei um trago demorado, empolgando-me.

      Alexander emitiu um ruído com a garganta, como se quisesse dizer alguma coisa.

      — O que foi? — perguntei, franzindo a testa.

      — Não sei se percebeu, mas os tabloides já noticiaram que você voltou a morar em Nova Iorque. Considerando o que eles têm falado, não recomendo que você seja visto em um local desses.

      — Por quê? — inqueri.

      — Gaius, seu livro vendeu muito ao longo desses anos. Você ficou muito conhecido aqui. A imagem que as pessoas têm de você agora é bem diferente da que era passada pelas colunas sociais há alguns anos pelo trabalho da empresa da sua família.

      — Está exagerando, Alexander — comentei.

      — Não estou, não. Muito foi falado a partir do que você escreveu no livro. Foram muitas confissões de foro íntimo, Gaius. Isso mobilizou muitas pessoas, grupos de pessoas, associações e entidades religiosas. Deveria pensar nisso. Confesso que me preocupo em você andando sozinho nas ruas. Deveria se dedicar mais em pensar sobre o que digo. Não seria ruim contratar um segurança — sugeriu.

      Se bem que percebi algumas pessoas olhando diferente para mim nas lojas hoje à tarde.

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