Castrado. Paulo Nunes
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— Por favor, chame-me de Alyce, Alexander. Gaius me pegou de surpresa, mas conseguimos nos entender. Acredito que compreendi o que ele espera de mim — respondeu ela.
Nisso, aproximei-me dela e comentei:
— Tenho certeza de que você e Alexander, juntos, poderão me ajudar a conseguir o que quero mais rapidamente — e sorri para ela, beijando seu rosto.
— Espero que sim — comentou ela.
— Alyce, vou deixar você conversando com Alexander, a fim de ele explicar em que momento estamos do nosso plano. Fique à vontade — e afastei-me deles.
Acenei para James, cumprimentando-o, enquanto acendi um cigarro e caminhava para a varanda da suíte. Lá, dei um trago, um gole no vinho e observei Rosa e Juanita, aprendendo inglês com o professor em uma mesa, Arthur, que dormia em minha cama, e Alexander e Alyce, conversando em outra mesa. Com o olhar fixo neles, tive a impressão de que o advogado flertava com minha assistente, sorrindo demais para ela. Alyce parecia não perceber o que acontecia. Por isso, talvez, naquele momento, tornou-se mais atraente para ele. Alexander tinha pouco mais de quarenta e cinco anos, era baixo e não tinha tempo para exercícios físicos, o que lhe proporcionava um abdome flácido. Era magro, mas não conseguia esconder um pequeno excesso de gordura na barriga ao vestir-se formalmente com sua camisa social branca por dentro de sua calça azul-marinho. Ao sentar-se, era impossível, a qualquer pessoa, não observar aquela gordura abdominal, que tentava escapar do tecido, derramando-se para frente. O grisalho de seus cabelos e a pele do rosto manchada por falta de cuidados externavam o quanto ele trabalhava por dia, inclusive aos fins de semana. Sua barba estava feita todos os dias, religiosamente. Certamente, uma tentativa de parecer mais jovem do que era de fato, visto que, até aquele momento, ainda não havia casado. Alexander era branco, nascido em Detroit, Michigan, e morava em Nova Iorque desde que se formou como advogado, aos vinte e poucos anos. Alyce exibia sua negritude com orgulho. Seu cabelo black power, visivelmente hidratado e bem cuidado, era a prova disso. Ela era alta, esguia, e sua boca carnuda não passava despercebida em lugar algum. Sua beleza resplandecia ao sorrir, com a boca e com os olhos. A harmonia de seu rosto e corpo coadunava-se bem com sua simpatia, simplicidade e felicidade, quase escondendo que ela tinha trinta anos, fazendo-a parecer ter menos. Alyce era bela, nascida em Gramado, Brasil, e morava em Manhattan desde a sua adolescência, quando foi levada por sua tia viúva, de origem alemã, para lhe fazer companhia. À época, reconheceu naquilo uma oportunidade para alcançar seus objetivos profissionais. Então, aceitou, visto que sempre foi ambiciosa. Observando-os juntos, conversando e entendendo-se, mais Rosa e Juanita, estudando inglês, tive a sensação de que o meu plano estava, de fato, começando a acontecer. Instantes depois, olhando para o cigarro em meus dedos, que chegava ao fim, meus pensamentos foram interrompidos pela voz de Alyce, que caminhava em minha direção calmamente.
— Ele me explicou algumas coisas — e foi entrando na varanda, apreciando a vista comigo.
— Acredito que vocês se darão bem. É importante que estejam alinhados em todos os detalhes — respondi, deixando claro que precisava de sincronia entre eles, enquanto acendi outro cigarro.
Alyce balançou a cabeça, afirmando que entendeu o que falei e perguntou:
— Muito bem, Gaius. Estou aqui. O que precisa que eu faça?
— Vou pedir a Alexander para efetuar sua demissão da House’s Barrys o mais rápido possível. A partir de hoje, você não precisa mais ir para lá. Darei a você um bônus em dinheiro mais o seu salário deste mês. Assim, poderá pensar em mobiliar seu novo apartamento. Preciso que contrate um chefe de cozinha de nível internacional. Não necessito que ele trabalhe exclusivamente para mim. Certifique-se de que seja alguém que possa ensinar algumas coisas mais simples para Rosa, pois quero que ela aprenda a fazer pratos mais sofisticados. Encontre um bom relações públicas. Não é necessário que seja exclusivo. Alguém que não tenha muita notoriedade na imprensa, mas que seja ambicioso o suficiente para não ser tão honesto quando for preciso. Tanto o cozinheiro quanto o relações públicas precisam ser homens. Eles são mais corruptíveis — respondi, imprimindo um tom de seriedade em cada ordem que dei.
— Com que prioridade precisa desses profissionais? — perguntou ela.
— Eles, mais o bartender, começarão a trabalhar para mim quando for morar no meu novo apartamento, que você vai procurar. Não esqueça que gosto de espaço e arquitetura que mesclem o moderno com o clássico. Será preciso alguém para decorá-lo para mim, mas isso pode esperar — respondi e dei mais um gole no vinho e um trago demorado.
— Parece que tenho algumas coisas para fazer agora, não é? — comentou, tentando se organizar com as informações que recebeu.
— Hoje é sábado, Alyce. Vá curtir seu novo apartamento e pensar em como mobiliá-lo. Começamos na segunda às 13h, aqui. Vou avisar à recepção que você tem acesso livre às duas suítes que estão reservadas para mim. Você já esteve aqui antes da viagem, deve saber como tudo funciona. Estou hospedado nesta suíte, e Rosa, Juanita e Arthur em outra, ao lado desta. Não chegue antes das 13h e não me acorde por nenhum motivo, por favor.
— Obrigado por me dar tempo para pensar em como fazer tudo isso, Gaius. Novo apartamento, cozinheiro internacional, relações públicas... Desse jeito, vai gastar toda a sua fortuna com seu plano — comentou ela.
Dei um sorrisinho e respondi:
— Não se preocupe com dinheiro. Gaste o que for preciso, pois ao terminar tudo isso, é muito provável que eu esteja cinco ou seis vezes mais rico do que sou agora, se é que não chegarei a ser trilionário.
Alyce abriu um sorriso meio que desacreditando no que ouviu, despediu-se de mim com um beijo no rosto e caminhava para o interior da suíte, quando pedi a ela:
— Só mais uma coisa, por favor.
Ela parou, olhou para trás e pôs-se a ouvir atentamente.
— Avise a Aidan que retornei à cidade e que quero jantar com ele no domingo à noite. Vou ajudar você a conseguir meu novo apartamento — e pisquei meu olho para ela, sorrindo maliciosamente, enquanto a vi franzir a testa, esforçando-se, em vão, para compreender a conexão de uma coisa com a outra.
No dia seguinte, enquanto tomava meu café da manhã, uma mensagem de Alyce em meu celular fez-me sorrir:
“Gaius, Aidan aceitou seu convite para jantar. Ele insistiu para saber onde você estava hospedado e para que eu informasse seu novo número de celular. Achei melhor falar com você antes. O que devo dizer a ele? Onde quer jantar? Devo reservar algum lugar?”
Larguei o suco de laranja que bebia e escrevi para ela:
“Verão. Lagosta. The Palm, às 21h. Faça reserva e peça uma mesa discreta. Encontro-o lá.”
Cheguei ao restaurante para o encontro com Aidan vinte e cinco minutos depois do combinado. Caminhando com o maître para minha mesa, avistei-o, visivelmente nervoso, com um copo de uísque na mão, olhando para os lados, como se me procurasse. De repente, os olhos cor de âmbar dele encontraram os meus. Naquele momento, quase senti em meu corpo os batimentos cardíacos descompassados que ele deve ter tido ao me ver. O tempo pareceu não passar para ele, pois continuava belo e sexy, aquele corpo atlético. Ele vestia uma camisa social branca com os dois primeiros botões abertos, deixando, à mostra, seu peitoral depilado e rígido. O blazer cinza riscado em estilo clássico de um único botão e as mangas repuxadas até a altura do final do antebraço conferiam, a ele, um aspecto despojado, mas