Castrado. Paulo Nunes
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— Havaí? O que o Senhor Daan fazia no Havaí? E com quem? — questionei, tomando o roupão que ela estendeu a mim.
— Estava com sua empregada e cuidadora.
— O que ele fazia no Havaí, Alyce? Não faz sentido — e vesti o roupão, cobrindo meus ombros e tórax.
— Gaius, é uma longa história, mas já adianto que tem uma garota no meio.
— Está explicado. Um homem de quase setenta anos em um resort numa ilha isolada só podia ter uma garota no meio — comentei e, logo, acendi um cigarro, caminhando para a varanda, enquanto Alyce descortinava as janelas, clareando meu quarto.
Durante os dois tragos que dei em seguida, tentando organizar as ideias, contemplei, da varanda do meu arranha-céu, o Central Park naquela tarde ensolarada, e, por um instante, tive uma lembrança agradável. Fui interrompido dos meus pensamentos por Alyce, que perguntou:
— O que você quer fazer?
— O que disse? — respondi, perguntando.
— O que pretende fazer, Gaius? — Perguntou novamente.
— Prepare o avião. Vamos ao Havaí. Preciso ver Aidan — e dei mais um trago demorado no cigarro, inspirando o vento que ia de encontro aos meus cabelos.
— Imaginei que faria isso. Então, adiantei as coisas. Seu avião particular está pronto e esperando você há duas horas. Separei sua roupa no segundo quarto. Não tenho tanto talento para ser seu stylist como Richard, mas acho que consigo me virar em uma emergência — comentou, fazendo questão de deixar claro que era uma excelente assistente pessoal.
— O que eu faria sem você, Alyce? — perguntei, elogiando sua eficiência.
Ela ficou calada e sorriu com os olhos para mim, agradecida pelo reconhecimento.
— Vou tomar banho. Ajuda-me a me vestir? — perguntei, depois de ter apagado o cigarro, entrando no quarto, caminhando para o banheiro, retirando o roupão e jogando-o sobre a cama.
— Ajudo, sim. Só estou com uma dúvida — respondeu.
Virei-me para ela e balancei a cabeça, esperando-a falar.
— Separei uma cueca para você vestir, e não uma calcinha. Devo mudar? — e olhou para minhas pernas.
Nisso, percebi que dormi com uma das calcinhas exclusivas que havia comprado na Victoria’s Secret a pedido de Aidan. Alyce me olhava com cara de luxúria, imaginando o que aquele minúsculo tecido havia testemunhado na noite anterior. Tentando não rir, continuou:
— E precisava ser tão minúscula?
Aproximei-me dela e sussurrei em seu ouvido:
— Ele pediu que eu comprasse a menor que encontrasse, e tinha que ser pink — e fiz cara de que a noite anterior havia sido maravilhosa.
Dei as costas para ela e caminhei ao banheiro, faceiramente, quando a ouvi dizer:
— Precisa me contar essa história, Gaius — elevando a voz para que eu a ouvisse.
— Só depois que me contar a história da garota do Senhor Daan. Alyce, você esqueceu meu drink — gritei de dentro do banheiro, depois de rirmos da situação.
Ela apareceu na porta, fez cara de luxúria e respondeu, sensualmente:
— Não esqueci. George estava em dúvida se iria querer Margarita ou Kir royal. Enquanto você toma banho, vou dizer a ele que quer tomar um Kir com o seu café da manhã — e saiu do banheiro, rindo, criando motivo para ver mais uma vez o bartender gostoso que ela mesma contratou para preparar meus drinks e flertar com ele também.
Pouco mais de um ano antes daquele dia, em que recebi a notícia da morte do Senhor Daan, voltei a viver em Nova Iorque com um objetivo claro e definido. Regressei, determinado a conseguir o que queria e, mesmo que em alguns momentos tenha desistido, nunca consegui me livrar por completo do que imaginei fazer, embora os tormentos mentais que sofri tenham sido avassaladores. Tudo precisava acontecer da forma como arquitetei, e a minha parte consistia em controlar minha fúria, escondê-la de todos e oferecer as doses de veneno no momento certo. Este foi meu maior desafio: administrar meu ódio e escondê-lo de todos. À época, para que as coisas ocorressem como era preciso, tive que revelar parte do meu segredo para Alyce, que, naquele momento, rejeitou veementemente me ajudar. Insistente, fiz com que considerasse minha proposta sob a motivação de que não conseguiria confiar em mais ninguém além dela, e, também, prometi ajudar sua mãe com o tratamento de Alzheimer. Mesmo assim, ela negou meu pedido. Uma semana depois da nossa primeira conversa, em uma manhã de sábado, convidei Alyce para almoçar em um restaurante na Stone Street. Depois de algumas cervejas, uma deliciosa salsicha alemã e algumas risadas, retirei do bolso um chaveiro e dispus, humildemente, próximo ao prato dela.
— O que é isso? — perguntou, segurando as chaves, curiosa.
— Seu apartamento, que fica a uma quadra do Central Park.
Vi seus olhos arregalarem e sua boca carnuda abrir, vagarosamente, enquanto seu rosto assumia o semblante de espanto.
— Do que está falando, Gaius?
— Comprei para você. É seu — e dei um gole demorado na cerveja alemã.
Alyce me olhava assustada e desconcertada, enquanto procurava palavras em sua mente para aceitar minha proposta. Eu, percebendo que ela iria falar, interrompi-a:
— Sua mãe terá todas as despesas médicas pagas pelo tempo que precisar em uma instituição apropriada para cuidar dela. Peça a seu irmão para interná-la e enviar as despesas para Alexander. Ofereço a você um salário cinco vezes maior do que está ganhando atualmente na House’s Barrys. O apartamento é seu, e pode se mudar para lá hoje mesmo, se quiser. Caso desista de me ajudar no meio do caminho, você perde o salário, o apartamento e a ajuda financeira para sua mãe. Vai assinar um contrato de confidencialidade, e eu prometo que não se envolverá diretamente em nada que seja ilegal. E, ainda, que não derramarei sangue de ninguém — disse, à queima-roupa, quase deixando-a sem saída.
Ela me observava falar com seus olhos sorridentes, não acreditando que, finalmente, depois de anos morando em Nova Iorque, teria seu próprio apartamento. Atônita, sem saber o que responder, começou a gaguejar, e foi interrompida, por mim, novamente:
— Alyce, o apartamento foi todo reformado, fica a uma quadra do Central Park, tem sessenta metros quadrados, um dormitório, uma suíte, uma vaga para carro e custou um milhão e quatrocentos mil dólares — e dei mais um gole na cerveja, contemplando sua cara de felicidade.
Ela fechou os olhos, respirou fundo e respondeu:
— Sem nada ilegal e sem derramamento de sangue. Certo? — perguntou ela, aceitando minha proposta.
Touché! Pensei, regozijando em meu interior, controlando-me para não gritar de alegria.
— Prometo a você — e pisquei o olho para ela, enquanto mostrava meu sorriso de felicidade por tê-la como assistente pessoal e cúmplice do meu plano.
Para