Castrado. Paulo Nunes

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Castrado - Paulo Nunes

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esquerda para a direita. E seu rosto liso demonstrava que a barba havia sido feita naquele mesmo dia. Sorri discretamente para ele e continuei caminhando, enquanto o vi levantar para me receber. Ele vestia sapatos e calça pretos. Por um instante, tentei descobrir que sapatos eram aqueles que brilhavam tanto, mas não me contive e fitei meus olhos em seu par de coxas grossas, devidamente marcadas pela calça slim, que valorizava os contornos do seu membro. Uau! Como ele está gostoso! Pensei. Contemplando a beleza de Aidan, lembrei que fazia algumas semanas que eu não transava, e quase esqueci qual a finalidade daquele jantar, embora eu soubesse que seria difícil resistir, pois ele estava terrivelmente sexy naquela noite. Ao chegar à mesa, depois de me beijar o rosto e desejar-me boa-noite, Aidan esperou que eu me sentasse e, somente depois, retornou à sua cadeira. De lá, olhava-me já marejando os olhos, enquanto o maître perguntava se conhecíamos o restaurante.

      — Conheço, sim. Vim aqui diversas vezes com meu irmão — respondi, educadamente, e pedi para que enviasse alguém que me trouxesse a carta de vinhos, quase sugerindo que precisava de privacidade.

      A sós com Aidan, pude contemplar seu rosto emocionado. Estávamos em silêncio, olhando-nos e acostumando-nos, novamente, com a presença um do outro, depois de seis meses sem nos vermos ou falarmos. Algumas vezes, desviei meus olhos dos dele e busquei apreciar com a ponta dos dedos aquele tecido nobre sobre aquela mesa redonda, posicionada em um local tão intimista, mesmo com o restaurante abarrotado de pessoas. De soslaio, percebi-o me olhando, enquanto bebia seu uísque de forma tão provocante. Nisso, quebrei o silêncio e falei:

      — Obrigado por aceitar meu convite, Aidan.

      Ele sorriu, como se não acreditasse que estava jantando comigo. E respondeu:

      — Confesso que fiquei surpreso, quando Alyce me ligou. Surpreso e feliz — e deu mais um gole no uísque.

      — Fiquei com vontade de apreciar uma lagosta e pensei que seria uma oportunidade para reencontrar você. Disse que voltaria, não foi? — comentei e perguntei de forma natural, mas sentindo algo inflar dentro de mim, quando falei no fruto do mar.

      Controle-se, Gaius! Controle-se, Gaius! Repetia várias vezes para mim mesmo, tentando não me desviar do objetivo.

      — Que bom que se lembrou de mim. Onde esteve durante esse tempo todo? Já faz mais de seis meses que nos vimos, não? — perguntou, curioso.

      Antes que conseguisse responder, o garçom se aproximou, desejou-nos boa-noite e nos entregou a carta de vinhos.

      — Aidan, confio no seu bom gosto. Pede um vinho para mim?

      — Claro que peço — respondeu, sem conseguir disfarçar o entusiasmo.

      — Com licença. Vou ao banheiro — e saí da mesa.

      Lá, tranquei-me dentro de um box, pressionei minhas mãos contra minha boca para não gritar e comecei a chorar, tamanha a dor, saudade e o ódio que carregava em meu peito. Instantes depois, tentei controlar minha respiração, a fim de me acalmar, e percebi que uma sensação de alívio ganhava espaço em mim. Caminhei até as pias e, diante do espelho, encarando meus olhos levemente avermelhados, lavei as mãos demoradamente. Depois, com um lenço de papel, tentei harmonizar a maquiagem manchada pelas lágrimas. Que inferno! Esse lápis da Dior não deveria ser à prova d’água? Uma última olhadela no espelho para conferir como estava. Nisso, um homem saiu do box, aproximou-se para lavar as mãos e pôs-se a me encarar pelo espelho. Ele olhava como se me conhecesse. Desviei o olhar e saí do banheiro, retornando à mesa.

      — Está tudo bem? — perguntou Aidan, enquanto eu sentava.

      — Sim. Pediu o vinho? — respondi.

      — Veja se gosta deste — e virou o rótulo da garrafa para que eu visse o que pediu.

      Nisso, o garçom se aproximou e serviu água em nossas taças.

      — Fez um bom pedido, Aidan. Mas sei que aqui eles têm um francês, que é quase uma raridade em Nova Iorque. Importa-se se trocarmos o vinho? — perguntei, educadamente.

      Aidan pareceu decepcionado por não ter acertado na escolha do vinho para mim. Vi, em seu rosto, uma sensação de fracasso. Gosto de fazer isso com ele. Pensei.

      — Claro! Podemos trocar sim. Pensei que fosse gostar deste. Foi o garçom quem sugeriu — respondeu ele, tentando disfarçar seu próprio incômodo.

      — Você fez uma boa recomendação. Obrigado por isso. Mas prefiro beber um branco Châteauneuf-du-Pape, da Château Sixtini. Por favor, certifique-se de que nos trará um de uma safra de, pelo menos, três anos atrás, e que seja orgânico — comentei, gentilmente, olhando para o garçom, sorrindo levemente depois de falar.

      — O tempo só faz você melhorar seu bom gosto — comentou Aidan, referindo-se à escolha do vinho que fiz, e deu um gole demorado no uísque.

      — Não é bom gosto, Aidan. É somente uma questão de dar ao paladar o que ele precisa para me oferecer a experiência que desejo com a comida. Neste caso, o vinho serve à lagosta. Esse que pedi, vertido na taça, exala aroma de jasmim e pera. E a mescla do gosto suave de damasco somado à sua acidez imprimem em meu paladar o que preciso para que a lagosta fique mais saborosa do que já é — e dei um gole na água, encarando seus olhos, que demonstravam admiração pelos meus conhecimentos como apreciador de vinhos.

      Nisso, percebi que minhas falas com Aidan estavam sempre em tom de ataque, travestidas de elegância e sofisticação, mas sempre de ataque. Não fale dessa forma com ele, Gaius! Ele não pode desconfiar de nada. Seja doce e conseguirá o que quer. Pensei. Então, decidi ficar mais calado, pondo-o para falar.

      — Como estão as coisas com a sua construtora? — perguntei.

      Aidan contou que os negócios estavam caminhando bem e que a Holding Lifting, pertencente à sua família, desde a sua fundação, já havia completado quase vinte mil projetos em cento e quarenta países, e, ainda, que a empresa se dedicava, atualmente, à construção de uma gigantesca represa entre os estados de Arizona e Nevada. Curioso de como se dava o seu trabalho, incentivava Aidan a falar mais sobre ele, enquanto esperávamos o garçom nos trazer o vinho e levar nosso pedido de jantar. Ele parecia feliz de conversar, de explicar como era sua rotina de trabalho da manhã à noite durante quase todos os dias e de como passava seus fins de semana trabalhando sozinho em seu apartamento em Nova Iorque. Comentou que sentia falta de sair para jantar, de ir a um vernissage ou, simplesmente, de ver a um filme no cinema. Lamentou ao dizer que não tinha companhia para fazer essas coisas, pois quase todos os seus conhecidos ou colegas de trabalho eram casados e sempre rejeitavam seus convites. Declarou que se sentia incomodado em sair sozinho, quase deixando escapar que preferia ficar em casa por não ter um namorado com quem compartilhar esses momentos.

      Nossa conversa foi interrompida pelo garçom, que nos trouxe o vinho, abriu e verteu um pouco em minha taça para degustação. Percebendo o que fazia, comentei que já conhecia o vinho, e que ele podia servir a nós dois. Aidan e eu pedimos um pouco mais de água e o nosso jantar: uma salada verde mista de palma, uma lagosta Jumbo Nova Scotia de quatro libras com manteiga derretida e limão fresco, devidamente acompanhada de couve de bruxelas, creme e folhas de espinafre, batatas Au Gratin e cogumelos selvagens.

      Minutos depois, ao dispor os pratos sobre a mesa, o garçom deixou disponível uma lavanda, para o caso de precisarmos lavar as pontas dos dedos. Antes que eu passasse o guardanapo sobre minha cabeça e começasse a me preparar para quebrar a lagosta, Aidan, subserviente

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