Castrado. Paulo Nunes

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Castrado - Paulo Nunes

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de volta e afastei-me, dando mais um trago.

      — Aviso que não faço nada sem preservativo, e que não sairei do bairro. E, também, que há policiais que nos conhecem e nos protegem. Basta uma ligação, e eles irão até onde estou. Encerro com você às 5h. Entendido? — e fechou a cara, esperando minha resposta.

      — Entendido. Não se preocupe com isso. Ficaremos aqui no bairro.

      — Não quer entrar, enquanto troco de roupa? — convidou ela.

      — Acho melhor esperar você aqui — respondi gentilmente e, depois, vi-a fechar a cortina.

      A prostituta e eu caminhávamos até uma das ruas que ficava do outro lado da que estávamos. Para quebrar o silêncio entre nós, pediu-me um cigarro. Parei, abri a cigarreira e deixei-a retirar um. Depois, levei meu isqueiro até seu rosto, acendendo-o, e, logo, vi suas bochechas secarem, enquanto ela dava o primeiro trago. Foi impossível não perceber que ela admirava meu isqueiro e cigarreira com atenção. Será que ela vai me roubar? Pensei. E continuamos até o momento em que ela sugeriu que entrássemos em um dos diversos bares daquela rua. Por sorte, não havia fila de pessoas, e, logo, pudemos entrar e sentar-nos em uma mesa intimista e aconchegante. As cores das paredes do bar eram vibrantes. Todo o ambiente era meio escuro, e a música que embalava a conversa de dezenas de pessoas que ali estavam era provocadora e sensual. Enquanto retirava meu cachecol e abria o casaco tentando não sentir calor, visto que a temperatura lá dentro estava mais alta que lá fora, pensei: Tudo aqui respira a sexo. É por isso que chamam Amsterdã de a capital da liberdade. Após ela retirar seu cachecol e desabotoar seu casaco também, perguntou a mim:

      — De onde você é? — e pôs um cotovelo sobre a mesa, apoiando o queixo em uma das mãos, como se estivesse se preparando para um cliente que passaria a noite inteira falando sobre seus problemas pessoais, o que, certamente, estava acostumada a fazer.

      Titubeei nas palavras, ora hesitando, ora falando coisas que não diziam nada. Estava nervoso. Nunca havia estado com uma prostituta antes, e existia algo nela que me desconcertava. É como se ela me enfrentasse e me provocasse. Não sei explicar ao certo, mas, em um primeiro momento naquele bar, senti um desconforto enorme.

      — Entendi. Não quer dizer de onde é? Tudo bem. O que faz em Amsterdã? — e, antes que pudesse responder, um garçom tagarela aproximou-se dela, cumprimentando-a, desejando-nos uma boa-noite e perguntando o que queríamos pedir.

      Ela o saudou, falando sensualmente, desejando-lhe uma boa-noite, enquanto deslizou suas unhas vermelhas sobre as costas de uma das coxas do garçom, fitando bem em seus olhos e molhando o lábio inferior. Em uma fração de segundos, ela lançou sobre ele seu desejo, como uma feiticeira que não faz esforço para conseguir o que quer com a sua magia. O rapaz a encarou e, logo, deu uma olhada em seu par de seios, abrindo um sorrisinho de boca fechada, com certeza, entusiasmado. Nisso, ela virou-se para mim, que estava concentrado no que via, e perguntou o que queria comer. Respondi que ela poderia escolher para nós, tentando ser gentil, e deixá-la confortável, enquanto assimilava tudo que via e relaxava.

      — Finn, vamos querer dois cones de batatas fritas para começar. E uma água, por favor. Quer algo mais forte? — perguntou, olhando para mim.

      Balancei a cabeça que não, e vi o garçom sair com nosso pedido. Nisso, os olhos dela se voltaram para mim novamente.

      — Então, por que não me fala de você — sugeriu.

      — Confesso que não sei o que dizer. Estou um pouco nervoso — e sorri para que minha frase não soasse em tom desagradável a ela.

      — Nervoso, por quê? Não é a primeira vez que você sai com uma mulher, é?

      — Não. Já saí com mulheres, sim. Mas é a primeira vez que... — e não consegui terminar a frase, pondo-me imediatamente a caçar palavras para continuar, quando fui interrompido por ela.

      — Com uma puta?

      — Sim. É a primeira vez que estou com uma prostituta. É isso.

      — Relaxa. Logo você se acostuma. Com esse rosto lindo que tem, quase não entendo porque está me pagando. As meninas devem se jogar em seus braços, não? — e deu uma gargalhada.

      — Digamos que não tenho do que reclamar — respondi.

      — Então, fale-me um pouco de você. Quero ouvir o que tem a me dizer — e, novamente, fez aquele gesto com o cotovelo sobre a mesa, repousando a mão no rosto.

      Ela fica tão sexy ao jogar seu corpo para frente dessa forma. É como se estivesse tão disponível, tão entregue. Pisquei os olhos, tentando me concentrar. Respondi.

      — Por que não começamos com você? Fale-me um pouco sobre si — e, quase que instintivamente, imitei seu gesto, repousando meu cotovelo sobre a mesa, apoiando meu rosto com a mão.

      E, então, ela começou a falar. Disse-me que havia nascido em Marken, Holanda, e aos dezesseis anos resolveu sair de lá e morar em Amsterdã, pois achava que sua cidade natal havia parado no tempo, e seus desejos e ambições jamais iriam se realizar morando lá. Na capital, tentou conseguir trabalhar e estudar, mas não obteve sucesso, e a prostituição se apresentou como uma opção rápida e fácil a alguém que, como mesmo disse, tinha fome e precisava pagar o aluguel. Contou, ainda, que se apaixonou por um cliente aos dezessete anos, que, à época, era casado com uma mulher. E, dele, engravidou aos dezenove, dando à luz à menina Carolien, com quem morava em uma casa alugada. Acrescentou que a filha sempre soube que ela era prostituta e valorizava-a por sua coragem, mas optou por se dedicar aos estudos, pois pretendia trabalhar como veterinária. Ela afirmou que a única fonte de renda da família provinha dos programas que fazia, e que, além de não poder parar por precisar sustentar a casa, gostava de sexo. Lamentou ter passado algumas situações desagradáveis com clientes que a destrataram, foram rudes com ela e agrediram-na, mas não se arrependia de ter entrado naquele caminho, pois a prostituição, segundo ela, tornou-a uma mulher mais forte e livre, inclusive na cama.

      No meio da conversa, Finn nos levou os cones com batatas fritas e diversos molhos esparramados sobre elas. Ouvindo atentamente o que a prostituta contava sobre sua vida, entre uma mordida e outra naquelas batatas grossas e crocantes, pensava em quão excitante devem ter sido as experiências que ela já teve na cama. Deixando-a à vontade, eu ficava em silêncio, mantendo meus olhos fixos nos dela, enquanto sua boca se mexia sem parar, narrando um pouco da sua história para mim. Percebendo que não tinha mais o que contar sobre sua trajetória de vida, brevemente resumida por ela, perguntei:

      — Deve ser instigante estar todos os dias na cama de vários homens em uma única noite, não? — e dei um sorrisinho para ela, enquanto lancei um olhar lascivo e curioso sobre seu rosto.

      Ela entendeu o que eu queria saber, e não hesitou em falar:

      — E de mulheres também — e deu mais uma gargalhada com a boca cheia de batatas.

      — Muitas mulheres a procuram? — perguntei, entusiasmado.

      — Muitas. Algumas para satisfazerem seus maridos. Outras para se satisfazerem. São dois tipos de sexo muito diferentes. O tempo me levou a entender que a dinâmica e a energia de um homem são diferentes das de uma mulher. Adaptei-me aos gostos de cada um, e, hoje, é mais fácil para agradá-los, sejam juntos ou separados — e terminou a frase quase sussurrando, sugerindo que gostava de transar com ambos os sexos, dando mais uma gargalhada ao final.

      Suas risadas vulgares

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